Friday Night Fever

Em Orleans ficamos num Holiday Inn de beira de estrada, o que foi um tremendo alívio, pois não precisamos nos perder pela cidade para achar o hotel. Saímos do pedágio — dele não escapávamos nunca — e já entramos no estacionamento do hotel. Com essa economia de tempo tivemos a chance de sair caminhando calmamente depois de um banho e procurar um restaurante para jantarmos sossegados.

Logo na outra esquina encontramos uma brasserie—Le Bouche à Oreille. Era um local simpático e logo que entramos escutamos a música. Nas sextas-feiras havia a animation musicale, transformando o local num restaurante dançante. Não sei onde vi isso antes, se na minha infância de interior ou em algum filme, mas eu não conseguia parar de sorrir com a familiaridade daquela situação. As mesas do restaurante se posicionavam ao redor de uma pista de dança, onde os comensais se requebravam antes, durante e depois da sobremesa e do licor digestivo. No pequeno palco, que se elevava em um degrau, uma duplinha super animada botava pra quebrar. Um tocando keyboard, que fazia o som de uma banda completa, e o outro cantando com muita animação.

Nós pedimos a comida à la carte, depois de perguntarmos em francês se alguém ali falava inglês, ou português, ou espanhol. Nada. Com gestos, apontando, sorrindo amarelo, suando, conseguimos pedir uma água Perrier, uma cerveja Stella Artois sem álcool, um frango com arroz e um bife com batata frita. Ufa. Estava muito divertido ver o pessoal dançar e a comida estava muito gostosa. A garçonete até que se esforçou muito para não nos deixar passar fome, nem acabar comendo carne crua ou tripa.

A ironia desse nosso jantar na brasserie de Orleans foi que enquanto nos descabelávamos para decifrar o menu em francês e nos comunicarmos com a garçonete, a duplinha musical cantava hits EM INGLÊS e os dançantes faziam conjuntamente passinhos de square dance, imitando os bailes country norte-americanos, enquanto cantavam acompanhando a música. E cantaram especialmente alto e excitados quando a duplinha interpretou um sucesso da Shania Twain – Man! I Feel Like A Woman!

Rolinho de repolho com camarão

No inverno é um tal de vir repolho na cesta orgânica que até cansa. Eu não sou uma “repolho person” [sou mais batata ou tomate] e nem sei muito bem como preparar essa verdura, então tenho que usar a criatividade para gastar a repolhada.

Com o repolho roxo eu faço salada. Ou um acompanhamento pra porco, meio chucrutal, mas nem tanto: cozinha o repolho roxo cortado em tiras fininhas com maçã picada, vinagre, sal e açücar. Serve frio.

Com o repolho comum eu também faço salada e quando tenho paciência uns charutos, que recheio com arroz cozido misturado com nozes.

Mas ainda tem o repolho crespo, aimeudeusdocéu. O que fazer com o bendito? Folheando a revista Martha Stewart Living de Janeiro/06 achei uma receita fácil e com uma cara ótima, pra usar o repolho crespo. Dei uma adaptada na receita, como sempre, mas ficou muito bom. Acho que é um prato legal tanto pra se fazer no inverno, servido quente, quanto no verão, servido frio.

A receita:
Shrimp Rolls with Citrus-Ginger Dipping Sauce
Para o molho:
Misture o suco de uma laranja com o suco de um limão pequeno, 2 colheres de sobremesa de gengibre fresco ralado, um pouquinho de óleo de gergelim, sal e açúcar. Misture bem e sirva com os rolinhos.
Para os rolinhos:
Umas 6 folhas de repolho crespo [savoy cabbage]
Uma bandeija de camarão pequeno
Sal à gosto [use sal grosso]
Um punhado de avelãs [a receita pede castanha portuguesa, mas como eu não tinha, usei avelã e ficou muito bom. amendoa também deve ficar]
Um pedaço de uns 4 cm de gengibre fresco picado
Bastante coentro fresco
Pode por alho e pimenta vermelha fresca, mas eu não coloquei.

Moer todos os ingredientes juntos num food processor até ficar uma pasta bem consistente. Rechear as folhas de repolho com essa mistura e formar rolinhos. Coloque os rolinhos num bamboo steamer ou outro tipo de panela que cozinhe no vapor. Coloque o steamer sobre uma wok ou qualquer panela larga com um dedo de água. A água não pode tocar nos rolinhos. Cubra e deixe cozinhar no vapor por uns 15 ou 20 min. Servir com o molho de laranja.

Tortilla Espanhola

Na minha infância eu comi muita dessa omelete de batata, que agora descobri as origens e o nome verdadeiro – tortillas da Espanha. A primeira vez que ouvi a palavra tortilla se referindo à omelete velha conhecida minha, não entendi direito, pois estava acostumada com as tortillas mexicanas, muito comuns aqui e que são somente umas panquecas de farinha de trigo ou de milho. Uma espanhola de Barcelona que me explicou que as tortillas deles eram bem diferentes. Mas na realidade iguais pra mim, pois eh exatamente a receita que a cozinheira fazia na casa dos meus pais. Eu faço muito durante o verão, quando recebo batatas fresquinhas e deliciosas na minha cesta orgânica. Se você nunca comeu uma batata colhida na manhã do dia em que você vai usá-la, não sabe o quanto de sabor uma simples batata pode ter.

A receita, como eu faço:
Lave bem batatinhas bem pequenas. Corte em quatro. Eu nem descasco, porque as minhas são orgânicas – alías, aprendi com os noruegueses e americanos a não descascar batatas, mas isso dá outro post, pra outro dia.

Numa frigideira de ferro, frite as batatinhas em azeite [ou óleo] até elas ficarem um pouco douradas. Desligue o fogo e acrescente cebola em fatias finas e pimentão verde em fatias finas. Por cima despeje uma base de omelete – ovos, um pouco de leite, sal e pimenta do reino. Coloque a frigideira no forno e asse até ficar firme e dourada. Sirva com uma salada de tomates e cerveja gelada.

hora do almoço

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» estou na hora do meu almoço – lunch break – que é quando venho pra casa de bicicleta e como um sanduiche ou esquento um ‘jatevi’ do jantar. hoje foi uma sopa, com bastante queijo ralado fresquinho. e ela veio bem a calhar, porque com esse frio e depois de uma bicicletada com vento na cara, um prato de sopa quente e substanciosa faz a gente se sentir super bem……

food bloggers in Davis, CA

Eu leio muitos food blogs em inglês. Alguns estão bem próximos de onde eu vivo, como os de San Francisco. Mas não sabia de nenhum aqui na minha cidadezinha, uma pequeno university town de 60 mil habitantes. Mas a Ines me passou o endereço do Something in season, o food blog do Brendon que, como eu, também vive em Davis, Califórnia e escreve sobre comida. É muito legal poder ler alguém escrevendo sobre as coisas e lugares que eu conheço e frequento. Como o Farmers Market ou o Mishka’s Cafe, um dos inúmeros “free wi-fi hotspots” da cidade, que vive cheio de estudantes plugados nos seus laptops, geralmente tentando estudar. Eu não sou uma bebedora de café, mas vou bastante ao Mishka’s para um chá – que eles têm das melhores variedades de folhas soltas – ou para uma italian soda.

comida de cowboy

Fomos à uma festa que comemorava a aposentadoria de um dos professores colega do Uriel. O cara, muitíssimo simpático, fez parte da banca de contratação dele anos atrás. Numa das fases da contratação teve um jantar num restaurante quando eu fui convidada. A intenção era me conhecer, saber a minha opinião sobre viver definitivamente aqui em Davis. Fomos à um restaurante de california cousine – tudo light, fresco, seasonal, orgânico. Lembro que o John comentou durante esse jantar que tinha uma fazenda onde criava gado. Pois agora, aposentado, ele vai se dedicar cem por cento à sua fazenda.

Um pouco diferente do costume, o homenageado foi o cozinheiro para o banquete. Ele fez questão de preparar a carne – barbecue, para quase cem pessoas. Fiquei um pouco desconfiada quando o meu marido disse que o menu da festa seria churrasco, mas estava confiante que teria sorte de comer um naco de carne bem passada. Mal sabia eu que o churrasco seria cowboy style.

Tri-tip é um corte de carne que já me falaram equivaleria a picanha ou a maminha. É um corte muito bom para churrasco ou mesmo para fazer assada. Mas no menu de ontem ela veio misturada num desses molhos de churrasco adocicados que é muito popular por aqui. A carne era de excelente qualidade, vinda da fazenda do John, macia e saborosa. Mas o tal molho estragava tudo.

Esse é o menu do cowboy – carne com o molho doce acompanhada de feijão. No jantar de ontem havia também salada de folhas verdes e tomate cereja, salada de batata [que foi o que mais gostei] e pãezinhos. O feijão é exatamente aquele que se vê os cowboys comendo nos filmes – pequenos grãos de cor marrom clara, molho viscoso, sabor adocicado tal qual o molho da carne. Sinceramente, ECA!

Não vou dar, nem mesmo quero saber a receita desse feijão e desse molho de barbecue, porque esse é o tipo de comida que só se prova por curiosidade ou por falta de opcão, quando não se pode ofender o dono da festa.