change & hope

obama_apron.jpgEm 1982 eu votei pela primeira vez, na primeira eleição direta depois da ditadura militar. Foi uma eleição para governador e eu votei no mais improvável de ganhar, mas no que carregava mais expectativas de mudanças. Era o sindicalista Lula, que concorria pelo PT e perdeu, é claro. Mas naquela eleição, que foi a minha primeira, eu fui votar com entusiasmo, alegria, esperança e orgulho. Depois daquela, não houve mais nenhuma. Todas foram um fardo, votando no menos pior, pelo menos pra mim.
Depois de 25 anos vou votar pela primeira vez novamente, e vou votar com entusiasmo, alegria, orgulho e esperança outra vez. Quero que todos os meus votos daqui pra frente sejam assim—importantes. Que eles signifiquem algo, não somente cumprir uma obrigação. Agora eu escolho se quero ou não votar. E escolhi que quero, porque preciso exercer esse direito, com todas as vantagens e desvantagens que ele me traz.
*como ele me conquistou em 2004 – My America.
**compre o avental aqui.

Food Politics

Uma lista de links muito interessantes, que saiu no jornalzinho do nosso Co-op, compilada pela food activist Sandy Weaver.
Bioneers – os pioneiros no movimento de justiça social e ambiental.
The Center for Science in the Public Interest – oferece informação sobre nutrição, dieta centrada em legumes e verduras, segurança dos alimentos.
The Institute for Food and Development Policy – pra quem realmente está envolvido num movimento político.
Nutrition Data – informação nutricional completa, com tabela para cálculos.
Organic Consumers Association – promove campanhas de saúde, justiça e sustentablidade. aborda temas como segurança dos alimentos, agricultura industrial, alimentos geneticamente modificados, eteceterá.
Sustainable Table – educa os consumidores em assuntos relativos à alimentação e em como construir uma comunidade através da alimentação. tem receitas, dicas de livros e até escolas de culinária sustentáveis.
The Daily Green – o título já diz tudo. notícias sobre o meio ambiente, receitas, eteceterá.
Webcast Berkeley – classes de nutrição online na UC Berkeley.

Eat your view!

“Eat your view!”—Atualmente lê-se isso por toda a Europa em adesivos colados por todos os cantos. Como está implícito na expressão, a decisão de consumir produtos locais não é somente um ato de conservação, mas é também uma ação provavelmente muito mais efetiva [e sustentável] que mandar cheques para organizações ambientais.

Mas “Eat your view!” envolve um bocado de trabalho. Participar da economia local requer um esforço consideravelmente maior do que fazer compras no Whole Foods. Não iremos encontrar produtos para o microondas nos Farmer’s Markets ou na nossa cesta orgânica dos CSA [Community Supported Agriculture], e certamente não poderemos comprar tomates em dezembro. O consumidor de produtos locais vai precisar correr atras da fonte para a sua comida. Vai ter que descobrir quem tem a melhor carne de carneiro ou os melhores milhos. Depois disso, ele ainda vai precisar se reconectar com a sua cozinha. O maior atrativo da comida industrializada é a conveniência, pois ela oferece a oportunidade para que as pessoas muito ocupadas deleguem para outros o ato de preparar [e preservar] o seu alimento. No lado oposto da cadeia alimentar industrializada, que se inicia numa fazenda com plantação de milho em Iowa, um consumidor de alimentos industrializados senta-se a mesa [ou, cada vez mais freqüente, no banco do carro]. O maior mérito do sistema industrial de alimentos foi ter nos transformado nessa criatura.

Tudo isso para dizer que o sucesso de uma economia local implica não somente num novo tipo de produtor, mas também num novo tipo de consumidor. O tipo que encara as tarefas de procurar, comprar, preparar e preservar o alimento não como um fardo, mas como um prazer. O tipo cujo paladar não lhe permite comer num MacDonald’s e cujo senso de comunidade não lhe deixa fazer compras num Wal-Mart. Esse é o consumidor que entende a frase memorável de Wendell Berry—comer é um ato agrícola, onde poderíamos acrescentar que é também um ato politico.
Michael Pollan em O Dilema do Onívoro

batendo na mesma tecla

Tenho falado como uma matraca emperrada para todos que tenham a disposição de me ouvir, que eu percebo claramente um movimento muito forte de retorno à maneira tradicional e normal de se produzir e consumir alimentos. Já bati na tecla dos ovos orgânicos e fertilizados, que os produtores não conseguem suprir a procura e também na do leite cru, que está mais cotado que whiskey não falsificado em tempo de Lei Seca.

Raising poultry the new-old way— o artigo do San Francisco Chronicle comenta a demanda por frango criado da maneira antiga, solto no terreiro, ciscando. A matéria se concentra na fazenda Soul Food, que cria pastured chickens aqui pertinho, em Pleasant Valley. Um dos clientes dessa fazenda é o restaurante Chez Panisse, em Berkeley. Alice Waters, co-fundadora do Chez Panisse, foi a precursora desse movimento dos alimentos frescos, locais, naturais e orgânicos aqui nos EUA.

Mas o frango não basta ser certificado orgânico, tem que ter nascido e crescido normalmente, ciscado e rolado na poeira. Muitas fazendas orgânicas seguem as regulamentações, mas os frangos nunca viram a luz do sol. Eu acredito que as fazendas sustentáveis são o futuro. O artigo do SFC admite que o frango caipira ainda custa mais caro, mas se o consumidor pudesse ver como ele é criado, nem iria pensar em preço. Pois como escreveu a minha musa M.F.K. Fisher em How to Cook a Wolf—prefiro comer apenas uma pequena porção de um ingrediente de qualidade, do que me empanturrar de um montão de porcaria.

pega os ovos da galinha

Uma máteria do New York Times sobre a procura do consumidor por ovos caipira me deixou realmente satisfeita. Não só o consumidor comum decidiu optar pelos ovos das galinhas não-confinadas, não-torturadas, não-turbinadas e intoxicadas, como também os restaurantes das universidades, das redes de hoteis, de companhias como o Google ou dos sorveteiros Ben and Jerry’s. A rede de supermercados Whole Foods, por exemplo, já nem vende mais os ovos das galinhas robotizadas! Iurru! Depois de ler O Dilema do Onívoro, eu não tenho ilusões de que a galinha cage-free leva uma vida exatamente livre, mas qualquer passo em direção ao retorno do curso natural das coisas já é uma vantagem. E no meu modo de pensar tudo funciona de maneira bem simples: nós, consumidores, é que decidimos e direcionamos o mercado. Se ninguém mais comprar certos produtos e começar a comprar uma coisa diferente, o mercado vai ter que se adaptar e mudar. Exatamente o que está acontecendo com os ovos. Eu não me importo de pagar um pouco mais. E ainda prefiro comprar ovos de produtores locais. Escrevo aqui sobre o que acredito e também pratico, o que é o mais importante.

free-range-eggs.jpg

Eu traduzo como “ovo caipira” todos esses termos que defininem os ovos das galinhas não torturadas, à venda aqui nos EUA. Mas há detalhes mais específicos sobre cada um deles. Normalmente eu compro os “free range”, “fertile”, “certified humane”. Definições técnicas para cada tipo de ovo, incluindo o mais conhecido “cage-free”, estão listadas neste glossário.

Os comedores de milho

Passei o final de semana de óculos, lendo o livro do Michael Pollan, The Omnivore’s Dilemma [O Dilema do Onívoro]. Terminei o primeiro capítulo, onde ele faz uma analise criteriosa da alimentação predominante neste país. Pollan faz primeiro um restrospecto, chegando à base de todo o sistema e parte dali para fazer uma desconstrução minuciosa de todo o processo que termina na nossa mesa e estômagos. O retrato que ele pinta é terrivelmente assustador. Eu diria que The Omnivore’s Dilemma poderia ser comparado com Sugar Blues do William Dufty, o livro demonificando o açúcar que foi um marco para a época [década de 70/80]. Claro que o livro de Pollan é muito mais elaborado e critica toda a indústria de alimentos, não somente um setor, como foi o caso do livro do Dufty.
Como já iniciei o segundo capítulo, percebi que ele não vai ficar só criticando em vão—apesar que vai ousar mais um pouco, metendo a boca na indústria dos orgânicos, bem representada pela rede Whole Foods. Pollan vai mostrar que há alternativas. Já vi esse livro ser mencionado por muitos food bloggers, já li que ele é um best-seller, o autor fez palestras aqui na UC Davis [ele é professor na UC Berkeley], o livro já foi discutido em colóquios e seminários sobre agricultura sustentável. E ouvi dizer que muita gente mudou a maneira de se alimentar depois de ter lido The Omnivore’s Dilemma. No meu caso de pessoa super impressionável, eu pressinto que haverão algumas mudanças que estavam na portinha de acontecer, só faltavam um pequeno empurrãozinho. Há tempos que venho tentando estender minhas compras de orgânicos também para carne e frango. Frango que não foi confinado e injetado com antibióticos e boi que pastou, não teve que fazer a dieta do milho.
Milho! Essa é a palavra chave do primeiro capítulo do The Omnivore’s Dilemma. Tudo de errado que temos na indústria alimentícia da América do Norte é devido à esse grão, antes cultuado como alimento sagrado pelos indígenas das Américas. Hoje o milho é a base de tudo, tanto da alimentação dos animais que vamos comer, como dos ingredientes de quase absolutamente tudo o que ingerimos. Pollan traça um paralelo entre a política da agricultura e o estilo de vida norte-americano. O estilo de escrever de Pollan é considerado por muitos como “advocacy journalism”, onde o objetivo final é provar um certo ponto de vista. Se você ler o livro, vai perceber isso facilmente. Mas pra mim, o mais importante é alguém trazer ao público certas informações sobre a industria dos alimentos, que poderíamos passar a vida inteira sem saber.
A parte do livro mais difícil de ler até agora, foi a que ele descreve como o gado é criado para virar bife. Ele comprou um novilho, que acompanhou durante o processo de engorda. Fiquei o final de semana todo refletindo sobre o que estava lendo e repassando os fatos pro Uriel:
—você sabia que os hamburgueres das redes de fast-foods são feitos com basicamente carne das vacas leiteiras que estão muito velhar pra parir e produzir leite?
Alguma coisa vai mudar. Ou melhor, com certeza alguma coisa já mudou.