pra fazer pipoca

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Os treats que vem na minha cesta orgânica, ora são vários tipos de feijões, tomates secos, ramalhetes de flores e às vezes chegam as pipocas de milho amarelo ou roxo. Normalmente o milho já vem debulhado, outras vezes vem assim, na espiga. Dói o dedo para debulhar – não tenho a técnica – mas dá uma sensação boa, por poder participar de uma das etapas. E a pipoca, sem brincadeira, é uma das melhores, crocante e saborosa, feita em qualquer panela, com um pouquinho de óleo de canola ou manteiga. Eu devoro um tantão sozinha, sem culpa!

um papo muito odara

Eu encho as paçocas dos meus amigos, pois tudo o que preparo e sirvo tenho que frisar antes: é orgânico! Como se alguém se importasse. Mas eu me importo. E compro cada vez mais produtos orgânicos, já que agora até o Safeway tem a sua linha certificada pelo USDA.

Ontem e hoje a minha cidade está sendo pulverizada com um produto químico para matar os mosquitos infectados com o vírus West Nilo. Os verdes da cidade protestaram, mas o protesto foi em vão, pois a decisão foi feita pelo distrito e não pela cidade. Anunciou-se que os produtos usados na pulverização têm efeito zero nos humanos e animais. Seria o mesmo que pulverizar a cidade com um repelente. Vai matar os insetos e evitar que muita gente morra ou fique incapacitada. Esse vírus, segundo o que eu li, atinge o sistema neurológico e os menos resistentes morrem, outros mais fortes podem ficar paralisados. Bom, a horta orgânica da fazenda da universidade, por ser certificada, não vai ser pulverizada. Perguntei pro administrador como que funcionava isso, ele me disse – será tudo feito por GPS.

A minha amiga que fez a sopa de pepino fria também cozinha num forno solar. É a tendência! Realmente, com os verões que temos aqui, mais essa perspectiva de acabarmos torrando no aquecimento global, um forno solar é a pedida. Preciso pensar nisso e começar a olhar um pra comprar.

Meu papo natureba é velho. Quando eu conto pras pessoas como eu alimentei meu filho, todo mundo faz cara de pena – dele, é claro. Mas chega uma hora que eles fogem do nosso controle e das dietas déspotas. Então num belo dia, quando ele tinha dez anos nós fomos morar no Canadá e o guri arrumou um desses empreguinhos de entregar jornal. Trabalhava somente nos finais de semana e fazia uma boa graninha. Por um ano ele despirocou e bateu ponto numa lojinha de conveniência que tinha perto de casa, onde gastou todo o seu salarinho experimentando absolutamente TUUUUUUUUU-DOOOOOOOO que ele nunca havia comido. Balas, doces, chicletes, refrigerante, porcaria de saquinho, com corante, com sabor artificial, you name it! Hoje, aos 24 anos acho que ele tem uma dieta saudável – eu imagino, pois ele tenta cozinhar em casa.

Nos anos 80, quando os microondas viraram moda, eu me dobrei à praticidade do uso do trambolhão. Mas fui logo arranjando uma maneira de usar o meu naturebamente, adaptando o esquemão para cozinhar comidas mais saudáveis, seu usar óleo, por exemplo. Dai eu fazia ovo frito no microondas, que era um verdadeiro horror, mas meu marido comia, assim como comia as carnes de soja, tofu, agrião cozido, cevada e tais. Um amigo dele ficou sabendo desse tal ovo frito e declarou:

precisa MUITO AMOR pra fazer alguém comer um ovo frito que não é frito!

Hoje só usamos o microondas pra esquentar água e comida. Mas eu e o meu marido pegamos uma mania irritante de ficar lendo rótulo de todos os produtos. Checamos a porcentagem de açúcar, de gordura, de trans-fat, de carboidratos, de sódio, e deixamos de comprar coisas dependendo do que lemos. Tem vezes que até eu me irrito, pois deveríamos simplesmente comprar por gosto, e pronto! Bom, ás vezes fazemos…

Não bastando isso, ainda reciclamos neuroticamente todas as embalagens da cozinha – caixas de leite, jarras de suco, caixas de waffles, invólucros de iogurte, etiquetas, latas, tudo, tudo. Então todos já devem imaginar que sou meio chata na cozinha. Eu sou super exigente com a qualidade dos ingredientes. Bato o pé no orgânico, mesmo ninguém dando bola. E quero saber o que eu estou comprando. Uso muito azeite, alguma lataria, mas sou bem escassa nos congelados e uma coisa que eu nunca consegui usar na minha cozinha são aqueles cubos ou pó de caldo de carne/galinha/legumes. Tudo tem um limite!

toda segunda é dia das verduras

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Toda segunda eu saio do trabalho e vou pegar minha cesta de produtos orgânicos na fazenda da UC Davis. Os legumes e verduras foram colhidos pela manhã, são locais, de temporada, não dá pra ser mais ecológico e mais saboroso. Dentro da cesta sempre vem um bilhetinho comentando do tempo, dos acontecimentos da semana, listando o que vem na cesta, quem foi que colheu e dando uma receita legal, sempre vegetariana, para o uso de um dos ingredientes. Nesta semana por exemplo veio dois tipos de melão – amarelo e laranja super perfumado, batatas, couve suiça, cebola, alho, basilicão, abobrinha verde e amarela, vagens chinesas [lem longas], berinjela roxa e branca, tomatillo, tomates, tomates cereja, pimentões verde, vermelho e amarelo, pepinos e quiabo.

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A receita dessa semana foi de summer vegetable ratatoille. E sempre que a cesta chega é essa xeretação dos gatonildos desta casa. Não sei o que é, mas eles ficam cheirando por um tempão e o Roux, o doidão, come algumas folhas, principalmente quando vem milho, que ele adora aquela folhagem áspera… ai!

salada de batatas ao iogurte

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Quando eu começo a receber batatas na cesta orgânica, fico entusiasmadissíma, pois essas são as batatas mais saborosas que existem. Colhidas de manhã cedo, preparadas e devoradas à noite, não tem igual! Eu normalmente faço receitas simples com elas, porque se encher muito de coisarada e tempero acaba escondendo o sabor natural. Geralmente eu corto elas ao meio e refogo no fogo alto, em bastante azeite, até ficarem crocantes. Ou faço uma salada, cozinhando as batatas cortadas e depois temperando com uma mistura de maionese, limão e mostarda. Ontem resolvi inovar e fiz a salada de uma maneira diferente.

Cozinhei as batatas com casca em água por uns 20 minutos. Escorri e deixei esfriar. Com o cozimento, a casca racha e abre, o que facilita o despelamento. Enquanto a batata esfriava preparei um molho. Numa vasilha coloquei três colheres de sopa de iogurte natural, uma colher de sopa da maionese, uma colher de chá de mostarda picante, sal, um fiozinho de azeite. Misturei bem com o batedor e acrescentei uma colher de sobremesa de queijo parmesão ralado e bastante garlic chives [*alguém sabe a tradução para o português desse cebolinha bem fininha?]. Misturei bem e deixei separado. Descasquei as batatinhas com as mãos. Não me preocupo muito se ficar uma casquinha ali, outra aqui. Coloquei as batatinhas descascadas no molho e misturei bem para incorporar. Servi acompanhando umas salsichas recheadas com maçã, que eu cozinhei na água e depois fritei ligeiramente no azeite.

enquanto cozinho a sopa

Eu sempre fui encanada com comer direito e natural. Passei uns quinze anos da minha vida, entre a infância e a adolescência, lutando contra um nojo que tomava conta de mim e que não me deixava comer carne, frango, peixe, ovos ou leite….. Do jeito que eu comia, praticamente obrigada pela minha desesperada mãe, nem sei como cresci e fiquei alta. E de repente, durante os últimos anos da minha adolescência, me deu o cinco minutos e eu virei natureba. Era uma saída para a minha repugnância com relação à toda comida derivada de animais. Virei uma comedora de pão, cenoura, sopa de missô e macarrão alho e óleo. Só depois de muitos anos, já mãe do Gabriel, é que fui devagarzinho voltando a comer os bifes da vida. Hoje eu como de tudo, menos coisas muito exdrúxulas é claro, mas não perdi a mania de comer natural, orgânico, evitar óleos, açúcares, ler maníacamente rótulos de qualquer produto para ver o conteúdo.

Por causa disso, toda segunda-feira eu encosto a barriga na beira da pia e fico com dor nas costas lavando verduras e legumes. Isso é coisa que só os naturebas freaks fazem aqui neste país, onde tudo é industrializado e muito mais fácil e prático, pois ninguém tem tempo de nada, muito menos de ficar lavando folhas de salada. Mas eu arranjo um tempo e faço questão de comer o máximo que puder sem aditivos químicos.

Hoje tive que fazer um sopão e vou congelar brócolis e couve-flor cozidos, porque tava acumulando tanto desses legumes dentro da geladeira que já estava dando dó. E toda semana eu jogo fora umas verduras que nem tenho mais idéias de como cozinhá-las. Esse desperdício involuntário e cheio de sentimento de culpa é a consequência de querer ter uma vida além da minha capacidade. Sem falar que além da lavação ainda tem os sustos de achar bichos estranhissímos residindo nas alfaces e repolhos. Um dia eu desisto dessa história, mas até esse dia chegar, vamos comendo nossas saladinhas, refogados e sopas com verduras e legumes fresquinhos.

O duro é meus amigos me aturarem, pois toda vez que eu sirvo alguma coisa, lá vem a frasezinha – “é orgânico!” – como se alguém desse a mínima!