os livros do Natal

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Ganhei mais uns livros, oh well, fazer o quê? Pisc! O lindíssimo Chez Panisse Fruit, da Alice Waters, com as belíssimas ilustrações da Patricia Curtan. A reedição de aniversário de 40 anos com atualizações feitas pelas autoras, do Mastering the Art of French Cooking, volume I publicado originalmente em 1961 e volume II publicado em 1970. Obra clássica da Julia Child e das francesas Louisette Bertholle e Simone Beck. E os dois volumes calhamaços publicados pela revista Gourmet na década de 50. Gourmet Cookbook. Um pouco desatualizados, mas itens de coleção, pra quem gosta, como eu.

meu encontro com a Alice

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O motivo da minha ida à Berkeley foi o book signing da Alice Waters. Claro que eu já tinha comprado o livro novo dela—The Art of Simple Food, e até usado nos preparos do Thanksgiving com a receita do lemon curd. Mas não dava pra perder essa oportunidade de ficar frente a frente com uma das minhas musas. Comprei outro livro lá, que também recebeu dedicatória e vai ser enviado para uma querida amiga. Nem preciso dizer que como fanzoca boba que sou, fiquei totalmente emocional na frente da Alice Waters. Ela é bem petit, e linda, e delicada. Eu precisava falar algo, porque a gente se sente meio pateta ali na frente da pessoa que você admira, então eu disse—thank you so much, Alice, you’re such an inspiration to me!. Ela sorriu. Deve ouvir isso o tempo todo, mas tudo bem, não importa, eu tinha que falar alguma coisa!

1080 recipes

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A editora Phaidon já tinha traduzido a biblia da cozinha italiana—The Silver Spoon que me deixou um pouco decepcionada, já que as duas primeiras receitas que fiz do livro falharam. Mas tudo bem, não estou aqui só por causa das receitas. Gosto das histórias, fotos e ilustrações, que são sempre uma inspiração. Por isso comprei a tradução que a Phaidon fez da biblia espanhola—1080 Recipes, toda decorada por esses desenhos maravilhosos do designer Javier Mariscal, de Barcelona. Se essa biblia também me desapontar não vou ficar chateada. Só o prazer de folhear as receitas decoradas por essas ilustrações fofíssimas já valeu o investimento.

Gourmet – 1971

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Depois de um ano, voltei na biblioteca para pegar mais uns volumes da revista Gourmet. Desta vez quis folhear os anos de 1971 e 1972. Foi uma diferença brutal com as singelas edições de 1941, cheias de ilustrações e textos. Inaugurando a década de 70, a Gourmet estava totalmente funkadelic—muitas fotos, a maioria muito feia, escuras e não muito apetitosas, algumas propagandas de carro, outras poucas diversificadas e uma imensidão de anuncios de bebida alcoólica. Não apenas bebida alcoólica, mas destilados. Fiquei realmente impressionada. Noventa por cento das propagandas das edições de 1971 e 1972 era de bebida destilada. E algumas com teor incrívelmente machista. Eram outros tempos. Fiquei tão impressionada que mostrei as revistas para a jornalista que trabalha comigo no IPM. Nós duas comentamos o quanto essa situação das drogas legais mudou aqui nos EUA. Além de outras coisas, como a etnicidade das propagandas. Hoje não se vê esse tipo de pose machista com um casal branco, tudo tem que ser multicultural e indiscriminado, o que eu acho maravilhoso. Fui folheando a revista pra jornalista ver e era UM anúncio de bebida POR página. Eu folheava e ela exclamava—holy shit! Realmente, a revista mudou, o país mudou, o mundo mudou.
*alguns shots mequetrefes das páginas da Gourmet 71 estão AQUI.

o livro da vez

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Depois de ler o capítulo dedicado à Alice Waters no The United States of Arugula, fiquei tão impressionada com as idéias dessa mulher que no meu velho estilo de obcecada, fui atrás de mais informação. Esse é o meu modus operandi—se eu gosto de um ator ou diretor vejo TODOs os seus filmes, se gosto de um autor leio TODOS os seus livros, se me interesso por um assunto preciso exaurir, achar todas as informações, histórias, fotos, documentação. E pra se aprofundar na história da Alice Waters e seu fabuloso empreendimento gastrônomico, que incluí o restaurante Chez Panisse e o projeto educacional dos Edible Schoolyards, nenhuma fonte seria mais completa do que esse livro do Thomas McNamee—Alice Waters and Chez Panisse: The Romantic, Impractical, Often Eccentric, Ultimately Brilliant Making of a Food Revolution. Estou devorando esse livro há semanas. Marcando as páginas com receitas simplérrimas e deliciosas, marcando histórias que achei bacanas e que quero contar aqui, divagando e comentando com o Uriel sobre um monte de coisas com que me identifiquei e me apaixonei. Estou esperando acabar de ler o livro pra finalmente fazer uma reserva no restaurante. Dá até um medinho de me decepcionar, porque o livro do McNamee me fez sentir amigona próxima da Alice. Me fez até delirar na possibilidade de largar meu emprego na Universidade da Califórnia e ir me oferecer pra começar do zero lá no CP, lavando pratos! Por causa desse livro vão pintar ainda muitas histórias sobre a Alice e o seu restaurante por aqui. Muita paciência, pois eu tenho esse jeito bitolado e quando eu encasqueto com algo, fico batendo na mesma tecla até a obsessão passar. I just can’t help it!

o presente da moça Dadivosa que desbravou terras e oceanos para encantar nas terras estrangeiras

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Eu não sou mulher viajada
por aquele Brasil encantado
sou caipira exilada
que nunca comeu puba
nem cuxá, nem sururu,
mas vejo com muito bom grado
toda essa riqueza culinária
que pretendo um dia desbravar.
Enquanto esse dia não chega
vou viajando nas paradas
desse livro tão letrado
mais que isso, caprichado
que a inspirada cozinheira Tatu
escreveu com muita graça
e com prosa bem casada.
E se assim tenho nas mãos
essa jóia da nossa culinária cultural
com todos os ingredientes porretas
que muito me apeteçem,
foi graças a impar gentileza
de uma Fernanda muito prendada
que todos temos juntinho do coração
e que chamamos de Dadivosa.
Peço licença à todos
para fazer esse agradecimento
pois foi com grande satisfação
e imenso contentamento
que abri o envelope,
endereçado em caprichosa letra de mão,
e com distinta dedicatória,
das lindas moças prestimosas,
para essa humilde oradora
que agora aqui vos fala.

inspiração não falta

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Falta mesmo é ação, por a mão na massa. Mas eu chegarei lá! Aos poucos vou desbravar o território das centenas de receitas da Claudia, presente da minha irmã, mais as outras centenas de dicas da CIA para o chef profissional, presente do Gabe, além da inspiração maior que é a AW, presente meu para mim mesma. Só preciso mesmo é de tempo. Feriados, quando?

The United States of Arugula

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Estou lendo esse livro há meses. Primeiro decidi que iria emprestar da biblioteca, invés de comprar, como eu sempre faço. Peguei uma cópia da biblioteca da UC Davis e renovei até chegar no meu limite de renovação. Eu leio tudo muitro devagar, pois não tenho tempo pra sentar e matar um livro num ou dois dias. Leio geralmente antes de dormir e gasto muitos meses lendo aos pouquinhos, pulando de um livro para o outro. Por isso eu sempre opto por comprar, assim posso ler com sossego. Mas com The United States of Arugula, eu até que tentei, mas não deu. Quando finalmente tive que devolver o livro, que consegui ler só até a metade, decidi largar mão de ser tonta e fui até a livraria comprar o meu exemplar. A versão em paperback tem uma capa diferente da versão de capa dura. Gostei muito mais dessa com os mitos da culinária norte-americana reproduzindo a cena clássica da Santa Ceia.
O livro é um must have. Estou demorando pra ler também, porque a cada capítulo eu preciso parar e sair procurando por mais informações sobre os nomes que ele cita. E ele cita nomes à beça. Acho que praticamente todo mundo que teve uma mínima infuência no desenvolvimento da cultura gourmet aqui na América tem suas duas linhas de fama. O autor, David Kamp, escreve para revistas como Vanity Fair e GQ e segue um pouco o estilo dessas revistas, revelando fofocas e bafões incríveis. Sexo e drogas nas cozinhas por exemplo. Eu sou uma pessoa super meiga e nunca imaginaria um super hiper famoso chef consumindo toneladas de cocaína durante o preparo do menu. Caí pra trás também com a revelação de que a dupla do famosérrimo sorvete Ben & Jerry’s eram dois copiões, que simplesmente chuparam absolutamente tudo que puderam do autor original dos famosos sorvetes que hoje eles levam a fama por terem criado. Altos buxixos, muita informação, delicia total de leitura.
Kamp capricha na história do trio James Beard, Julia Child e Craig Claiborne, que são os ícones maiores da culinária norte-americana. Ele também capricha em detalhes sobre Chez Panisse e todos os frutos e subfrutos da contra-cultura. A Califórnia está sempre no centro de tudo e me passa uma sensação muito grande de familiaridade. The United States of Arugula é o guia para quem quer conhecer a história da culinária nos Estados Unidos e é também a prova contra aquela maricotice de se ficar dizendo que o americano come mal. Come mal quem quer, quem não sabe ou não quer saber que há muitas opções, e oferta, e acesso.