um pé fora da bolha

Ando refazendo algumas receitas, porque é normal o entusiasmo por receitas novas entrar em declínio e o cozinhar do dia-a-dia pegar carona na inércia. Num outro dia decidi que iria fazer um pão. Desempoerei a minha máquina jurássica, que é usada há cada três anos e decidi refazer esta receita de pão de cebolinha, que é a única que eu já fiz fugindo das que vieram no manual. Da primeira vez deu tudo errado. Acho que o fermento não estava muito bom. floresComprei fermento novo, farinha especial para pão e refiz, substituindo a ciboulete ou cebolinha por alecrim. Da segunda vez o pão deu certo, mas eu quero mesmo é pegar o entusiasmo para fazer pão manualmente. Já li sobre as técnicas, já separei receitas básicas, mas ainda não consegui me organizar para botar a mão na massa. Meu problema maior é a falta de tempo.

Passo meu dia em função do meu emprego, que só não é muito distante das minhas aventuras na cozinha porque eu trabalho transportando para a web guias de gerenciamento integrado de pestes, que tem uma parte enorme dividida por produtos agrícolas. Neste momento estou atualizando páginas de zilhões de pestes que atacam a alface, o algodão e a cereja e modificando uma galeria gigantesca de ervas daninhas e plantas invasivas, algumas comestíveis. Fora isso, penso nos ingredientes com que cozinho somente nas minhas horas livres, que incluí também a do almoço. Quando chego em casa no final da tarde estou cansada, muitas vezes sem idéias, sem paciência, querendo fazer outras mil coisas e também descansar, ver filmes, ler livros, dormir.

Tínhamos muito pra conversar e foi o que fizemos, enquanto eu preparei rapidamente e mais uma vez a salada de tomate com sumac e esperamos o gratinado de batatas e abobrinha cozinhar. Conversamos muitas coisas, porque estamos vislumbrando muitas mudanças e são tantas coisas para se discutir, refletir e analisar. Quando sentamos finalmente para comer ele me disse:

—você precisa repensar o seu blog, ver se não está sendo demais, pois você não precisa escrever lá todos os dias.

Concordei, pois é verdade: não preciso escrever todos os dias. O que acontece é que devo ter ligado o automático, como costumo fazer com muitas outras coisas. Vou fazendo tudo sem pensar, muito menos repensar. Vejo receitas, marco com post-its e quando dá certo preparo. Se der certo, tiro foto, se a foto ficar boa, monto o post, mas muita coisa não fica boa, ou fica boa mas a foto fica um lixo. Como o sorbet de uva que fiz noutro dia e que ficou muito bom, mas fui tirar fotos na hora do almoço, enquanto conversava com o Gabriel. Obviamente as fotos não vingaram e não teve segunda chance, pois o sorbet foi devorado rapidamente. Normalmente eu não choro por essas oportunidades perdidas, mas quando tudo fica tão automático que se tira foto enquanto faz outras coisas, pois não é mais um desafio e sim rotina, o tédio começa a tomar conta e refletir na qualidade do blog. Hora de repensar mesmo, como já repensei muitas outras coisas importantes na minha vida.