Quando esses adoráveis mini-sabugos de milho coloridos aparecem nos mercados, é sinal que a minha estação favorita chegou. Verão, inverno e primavera—move over! Não tem nenhuma época que ganhe em beleza do outono.
Categoria: estações do ano
até o próximo ano
Colhi três bacias dessas cheias de nectarinas. Agora a árvore está pelada e vai precisar ser podada. As frutas foram distribuidas e as que sobraram virarão doce, sorvete, torta. Teremos mais no ano que vem.
Bem-vindos à Tomatolândia!
Até o final do verão, a qualquer hora do dia ou da noite, quem pegar a state route one thirteen—a estrada que liga Davis à Woodland, vai poder ver os caminhões com carreta dupla transportando toneladas de tomates. É um vai e vem típico do verão na região do estado que mais produz tomates no país. Até setembro os acostamentos vão estar avermelhados com os tomates que escaparão das carretas e se espatifarão pela estrada. O cheiro doce dos tomate maduros vai estar infestando o ar. A colheita corre solta, as processadoras de tomate à todo vapor, muitos estudantes aproveitam para ganhar uma grana extra dirigindo os caminhões ou trabalhando nas enlatadoras.
No final da década de 90 o Uriel tinha um projeto com tomates e testava sua maquininha durante a colheita na fazenda do maior produtor de tomate dos EUA. O dono da fazenda, que meu marido chamava apenas de Tony, é responsável por suprir a demanda de catchup do país—imaginem a enormidade disso: catchup pra molhar a batatinha de trezentos milhões de americanos. Numa linda noite de verão em plena colheita dos tomates, quando muitas vezes os pesquisadores passavam a noite no campo junto com os colhedores, eu acabei numa situação bizarríssima.
Fui caminhar e não levei a chave. Quando voltei o Uriel tinha regressado apressadamente para o campo de tomates e me deixou trancada pra fora de casa. Foi aí que eu descobri a verdadeira extensão da fazenda do tal Tony. Dois amigos se aventuraram pela noite na tentativa de encontrar o meu marido, para eu poder entrar em casa, e voltaram horas depois de mãos vazias. A fazenda do Tony não tinha UM campo de tomates, mas VÁRIOS, espalhados pela região. Achar o Uriel iria ser como achar uma agulha num palheiro. Naquela época nós achávamos desnecessário ter um aparelho de telefone celular. Eram outros tempos, outra mentalidade, outro século.
Eu costumava propagandear em tom jocoso que vivia na tomatolândia, porque passava o verão atolada nas frutinhas vermelhas. Todo ano elas apareciam insistentemente em quantidades absurdas na minha cozinha. Hoje isso não acontece mais, já que os atuais projetos do Uriel se concentram nos pistaches e nas azeitonas. Mas continuo vivendo no centro da região tomateira e não posso deixar de aproveitar a variedade imensa desses frutos, que chegam à nossa mesa todo verão numa profusão de cores e sabores. Agosto é o mês mais pululante para os tomates no Farmers Market. E quando vou à Woodland passo por caminhões e mais caminhões lotados de tomates. O cheiro dos tomates, as cores dos tomates, os sabores dos tomates, as infinitas receitas com tomates, tomates, tomates, tomates, tomates!!!
O sabor de cada um
A inconveniência dos dias quentes é a grande desculpa para que eu jogue as panelas e frigideiras para os ares, ignore minhas 687906543 mil fontes de receitas e me acomode no conforto da simplicidade e da improvisação. Essa é uma excelente oportunidade de saborear os alimentos na sua maior intensidade. Imaginem uma refeição onde cada prato contém apenas um ingrediente, maximizado e concentrado, onde nada mais que uns frugais temperinhos influem no resultado final. Pra mim isso é a essência do verão.
Dois peitos de franguete orgânico temperados com suco e raspas de um limão verde, pimenta vermelha em pó, sal grosso e uma dose de tequila, e assados na churrasqueira. Duas abobrinhas amarelas, cortadas ao meio, retirada as sementes, temperadas com sal, pimenta do reino e azeite, a assadas na churrasqueira. Salpicadas com ciboulettes picadinhas antes de servir. Uma salada de folhas verdes e ervas, temperada com sal, pimenta do reino, azeite e suco de limão. Milhos amarelos e tenros cozidos na água e sal. Uma baguete de pão francês fresquinho com manteiga caseira. Sobremesa: melão em fatias, framboesas e red currants frescas.
Comemos como se estívessemos diante de um banquete pantagruélico. Foi uma orgia de sabores puros e simples, que pudemos degustar sem interferências ou intrusões. Cada sabor, único. Nenhum alimento foi dominado, nenhum se subjulgou. Foi uma refeição equilibrada, sem distinções ou privilégios, onde cada sabor se sobressaiu por suas próprias qualidades. Tudo isso é uma ótima desculpa pra não cozinhar, não é? Ôoo, se é!
Vivendo sobre as ondas
Tenho essa impressão fatalista com relação à certos feriados, por exemplo, eu tinha certeza absoluta que sempre iria chover no dia de finados e normalmente sempre chovia. Tá certo que essas “fatalidades” têm uma ligação bem forte com as estações do ano, que costumavam ser invariáveis. Tenho, de qualquer maneira, essas idéias pré-estabelecidas sobre a atmosfera de um feriado. Não tenho mais experiência de dia de finados, felizmente! Mas agora agreguei minhas premonições aos feriados que vivencio aqui na América do Norte. E pra mim não existe fourth of july que não seja tórrido. Todos os quatro de julho que vivenciei, desde que cheguei em Davis há dez anos, foram tórridos. Em alguns deles eu escapei para a praia, onde invariávelmente, verão, outono, inverno ou primavera, faz sempre frio. Já saímos de Davis aos quarenta graus, e tive que vestir um suéter e um casaco chegando na praia. Essas idas à praia são de fato um refresco. Aquele tal Lulu que disse que iria levar a vida sobre as ondas, certamente nunca cogitou mudar-se para o Central Valley do norte da Califórnia, que é a região onde estou, bem no limite do fresquinho da Bay Area. Aqui, as únicas ondas que pegamos são as de calor, e estamos surfando sobre uma neste exato momento.
Como não fugimos nem pra praia, nem pro lago, resolvemos enfrentar o quatro de julho enfurnados em casa. Nunquinha que eu vou fazer picnic de feriadão em parque sob um solão de 40ºC! Imaginei a cidade em massa acampada no parque onde acontecem os fogos no final do dia. Eu fui à esse evento uma vez e bastou. A base desse feriado é o picnic. E quando anoitece tem aquela queima de fogos, que dependendo da cidade pode ser uma experiência estimulante ou broxante. Aqui em Davis acho que atingimos um meio termo. Mas com bafão, ficar no parque a tarde toda? Nem pensar!
Fui nadar pela manhã, depois demos um pulo ao supermercado onde adquirimos um filézão de salmão selvagem, frutas frescas e ingredientes para uma bela salada, além de pão e bebidas. Não usei o fogão. O Uriel fez o peixe na churrasqueira e almoçamos bem tarde. Eu bebi vinho verde acompanhando o salmão que foi temperado somente com sal marinho e pimenta do reino e assado no papel alumínio sobre uma caminha de batata, para não grudar.
Passamos o resto da tarde esticados no sofá, lendo e cochilando na companhia dos gatos. Fizemos um lanche às oito da noite e subi às nove para abrir as janelas da casa. Ainda estava um pouco abafado. Às nove e meia começaram os fogos no parque e os cachorros do meu vizinho latiram sem parar por mais de meia hora, enquanto eu tentava ouvir os diálogos de Rope, do Hitchcock na tevê.
Hoje, cinco de julho, temperatura de 41ºC, seco como um árido deserto. Mas como sempre, estamos preparados com todas as técnicas e gears, surfando normalmente a nossa onda.
F O R N O : parece que essa ondaça de calor engolfou não só o norte da Califórnia, mas todo o oeste norte-americano. muita calma neste momento! permaneçam indoors, não se abanem nem se afobem e bebam muita água!
37ºC
O verão me provoca muitos sentimentos contraditórios, pois apesar de eu adorar certas coisas que acontecem nessa época do ano, eu de-te-sss-to-o outras. Eu gosto das manhãs frescas, da luz, da abundância de frutas, legumes e verduras, de poder colher nectarinas e pêssegos nas árvores do meu quintal, e tomates na horta, de achar figos no Farmers Market, almoçar e jantar na mesa do quintal, de poder nadar sem ficar parecendo um ET arroxeado, de usar sandálias, fazer picnics e tais. Mas abomino os dias tórridos. Os dias em que não se consegue sair na rua, em que a respiração fica difícil, a água da piscina fica quente e xoxa, as casas ficam fechadas, as pessoas se enclausuram nos ambientes com temperatura controlada. E desses dias, que chegam em ondas de dois, três, quatro, não há escapatória. Hoje e amanhã já teremos um aperitivo. Entre meio de julho e meio de agosto vamos estar implorando por dias como hoje. Sim, piora, e muito. Felizmente o verão é curto e os dias agradáveis deixam boas lembranças.
Quando começa a onda de dias quentes e extremamente secos, temos que fazer alguns rearranjos na nossa rotina. Eu fecho todas as janelas e cortinas antes de sair de casa pela manhã e só reabro quando a brisa da noite chegando começar a soprar. As casas têm um bom isolamento térmico e o segredo é não deixar o calor entrar, nem prodizir calor dentro delas. Eu já desliguei a geladeira extra da garagem, lavo e seco roupa à noite e paro de usar o forno. Na cozinha é onde mais se produz calor. Assar muffins num dia baforento, nem pensar! Meus jantares são reestruturados e reorganizados de uma maneira que se faça menos cozinhamentos possíveis. Os menus giram em torno de saladas e coisas feitas na churrasqueira. Nos dias realmente quentes—e temos alguns de lascar, nem a chama do fogão pode ser acesa. Meu jantar brejeiro de ontem foi todo feito na churrasqueira: uma carnita, pimentões vermelhos e beterrabas assadas. Acompanhou uma salada de alface bem fresca.
but the world goes ‘round
Histórias do cotidiano de uma pessoa comum têm que ser repetitivas. Não tem como escapar do ciclo – como as estações, os aniversários, as comemorações oficiais, os xis marcados nos calendários, as festas, as marés ou as fases da lua. Tudo vem e vai, vem e vai, vem e vai. É uma boa explicação e até uma reflexão para entender porque estou sempre escrevendo sobre os mesmos assuntos ou mostrando fotos tão parecidas.
Todo ano eu faço aniversário e publico os números dramáticos em letras garrafais, depois esfria, as folhas das árvores ficam amarelas, vermelhas, douradas e caem, acendemos a lareira, o gato quase queima os bigodes, assamos um peru que dividimos com a família no dia de agradecer, fazemos compras, ficamos com dor no lombo varrendo folhas, começa a chover, eu me acovardo da piscina, tiro fotos dos enfeites de Natal, publico um cartão e desejo tudo de bom para todos, fico aliviada quando o ano se inicia, como nove sementes de romã, reclamo que não pára de chover, reciclo, recrio, me animo com a chegada da primavera, encho o saco da humanidade com as minhas fotos de flores e, principalmente, rosas. O jasmim abre, capino a horta, planto tomates, as pestes chegam devagarzinho. O Gabe faz anos, faço o meu próprio breakfast no dia das mães, reclamo que esta ficando muito quente, nado diariamente, não tiro as havaianas legítimas dos pés, arranco mais mato, detono as pestes e colho tomates, o Ursão viaja, viaja, viaja e eu reclamo mais um pouco, as aulas e o ano recomeçam na UC Davis, eu aguardo ansiosamente uma brisa de outono, faço compras, combino uma social com os amigos, asso um bolo, vou dançar o Blues, penso no meu aniversário que já está chegando, jesus como este ano voou!
Por isso, estou parando um pouco de me incomodar com a repetição dos meus assuntos, pois a vida é terrivelmente repetitiva e não é assim que é bom?
tempo de jasmim
Agora é a vez do jasmim. Meu quintal e meu jardim rescendem a flores! Não só pelo jasmim, mas pelas centenas de rosas, e pelas flores do limoeiro, que têm atraido um bocado de abelhas. Fica tudo lindo, se você olhar do lado de dentro da casa, através do vidro da porta. Além do incômodo das abelhas, o jasmim exala um cheiro que vai enjoando—eu pelo menos fico nauseada, e as rosas ficam cheias de pulgões, que eu combato com jatos de água quando tenho tempo. O jasmim tem vida curta, logo vai secar, cair, fazer aquela sujeirada ecológica e bye bye. As roseiras vão continuar produzindo rosas por muitos meses, com menos intensidade e menos pulgões, mas elas duram até novembro. Eu vou tirando proveito dessa beleza, fotografando e enchendo os vasinhos.
*as fotos são da porta dos fundos da minha casa de hóspedes, emoldurada pelo pé de jasmim mais bonito.
eating out
Fez um dia tão agradável, que retomamos o nosso ritual de almoçar no quintal. Fiz um ranguinho super simples – quibe assado e salada de alface com tomate, cenoura e azeitona preta temperada. Comer fora é muito bom!
vai começar o ano!
Estava lendo o delicioso post da Valentina, sobre o seu linguine com butternut squash e parmesão, e não pude deixar de pensar que simplicidade é TUDO! Tenho refletido muito sobre isso nesses dias, porque tenho cozinhado pouquíssimo, tenho tentado gastar os ingredientes que estão na geladeira e me preparar para a volta da minha cesta orgânica, que esteve de férias por três semanas. Na hora do almoço recebi o e-mail da fazenda, listando os produtos que vão chegar e fiquei felicíssima com o conteúdo da cesta que ainda não peguei. Vai ser uma alegria lavar e guardar todas esses legumes e verduras saudáveis e frescos e depois planejar o que fazer com eles. Pensando nisso, e olhando a foto do linguine da Valentina tão lindo, majestoso e apetitoso em toda a sua simplicidade, cheguei a conclusão que gosto muito dessa maneira de cozinhar, que não envolve grandes peripécias, nem ingredientes carésimos e raros, mas que é a melhor comida do mundo, porque é fresca, foi feita e vai ser degustada num breve período de tempo, não causou alvoroço, mas deu muito prazer e ainda contribuiu para a nutrição caprichada do nosso corpão! Hoje vai ser uma noite especial, com um jantar especial, feito com amor – como foram colhidos e empacotados os produtos pelo Raoul, Rachel, Dori, Catherine e o Scott – e com simplicidade. Batatas, cenouras, limões, alho, cebola, brócolis, repolho, couve, beterrabas, rabanetes negros, nabos e abóboras – olá! iuuuurúú!!