from California

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Finalmente terminei as classes online de traffic school, que transformaram minhas noites numa chatice absurda. Levei uma multa por excesso de velocidade em janeiro, quando voltava do Costco de Woodland. Tinha ido comprar um presunto especial para a minha cunhada e comida para os gatos. Eu tenho um pé pesado no acelerador, porque detesto dirigir e não tenho muita paciência com estradas. Essa, onde tomei a multa, é uma linha reta e está sempre vazia. A tendência é correr. Mas aprendi minha lição, alright! Desde o dia fatídico que tenho mantido forçadamente minha velocidade entre 65 e 70 milhas por hora. A multa foi salgada, mas o mais doloroso foi ter que fazer esse curso.

»Achei essas plaquinhas nos arquivos ancestrais do The Chatterbox. Não lembro mais o endereço do website onde fiz , mas elas são o fino da bossa—da década de 30 até hoje.

e agora, as azeitonas

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O campus da Universidade da Califórnia aqui em Davis é sapecado de oliveiras, assim como a cidade. Ao lado da minha casa tem uma fileira enorme das lindas árvores, que nos fornecem uma sombra agradável nos dias quentes. O problema das oliveiras na cidade e no campus são as azeitonas, que caem no chão e deixam o pavimento oleoso e escorregadio, especialmente para as bicicletas. Anos atrás alguém teve a idéia fabulosa de colher as azeitonas do campus e transformá-las em azeite. O negócio prosperou e o azeite da produzido pela UC Davis virou coqueluche nas cozinhas da cidade e região. Agora alguém teve outra idéia—por que não produzir também azeitonas de mesa? Voilá! Na semana passada fui comprar os primeiros vidros lançados pela universidade. As azeitonas são oferecidas em três sabores—siciliano, alho e limão. Comprei a de limão e me surpreendi bastante com o sabor das azeitonas. Elas não são muito carnudas, nem super tenras, mas são bem saborosas. Para a primeira leva está excelente.

uma horta conceitual

Minha vizinhança é quase homogênea em termos de status profissional dos proprietários das trinta casas coloridas que formam o círculo batizado de Aggie Village. A maioria dos meus vizinhos são professores da UC Davis. A real ocupação de um deles—o da casa do nosso lado da calçada, na esquina que desemboca para o Arboretum—foi no inicio uma incógnita. Nós víamos a mulher sair pela manhã, provavelmente para ir trabalhar, mas o marido ficava por lá, cavando uns buracos, arrancando uns matos e carregando umas pedras que ele amontoava aqui e ali. Concluímos pela aparência da coisa que a mulher devia ser professora e que o cara devia estar desempregado e por isso fazia penitência da vida ociosa trabalhando em reformas necessárias na casa. A varanda desses vizinhos estava sempre cheia de cacarecos, cadeiras, vasos, pedras, bicicletas e até uns quadrados de feno. A cerca tinha sido derrubada, deixando à mostra uma paisagem desolada, sem grama, sem flores, só um imenso terreno desnudo.

Não demorou muito para descobrirmos que o nosso vizinho carregador de pedras e fazedor de buracos não estava desempregado, muito pelo contrário. Estava muito bem empregado como professor do departamento de artes da Universidade da Califórnia.

Descobrimos também que a casa dele não estava passando por nenhuma reforma. Ela é na verdade o palco para uma constante e dinâmica instalação de arte conceitual, que eu ainda não pesquei o significado, apesar de ter certeza absoluta de que há um, ou vários.
Com o passar dos anos pude perceber claramente que meu vizinho é obcecado por pedras. Há centenas delas, empilhadas ou espalhadas, ao redor da casa. No último verão ele fez uma pilha em formato triangular debaixo de uma árvore, que me fazia pensar naqueles altares que se vê em estradas, para relembrar as pessoas que foram atropeladas. Mas as instalações com pedras não permanecem, pois logo as pedras somem, são relocadas e reaparecem em outra forma, num outro canto.

Embora tudo na casa do meu vizinho seja interessante, o mais peculiar é realmente o seu trabalho de jardinagem. O quintal não tem cerca, então quando caminho pela calçada ao lado posso ver claramente o imenso poeirão, com estradinhas desenhadas com pedras [claro!] e às vezes uns panos brancos imensos pendurados em arames estendidos e cruzados pelo espaço do terrão. Uma vez vi cadeiras num arranjo íntimo, para logo em seguida presenciar o vizinho com a esposa e um amigo bebendo chá, sentados no meio do jardim árido de terra e pedras. No quintal não tem nenhuma planta. Mas ao redor da casa, numa espécie de barranco, o vizinho planta uma horta. E expande a plantação para uma área comum, que separa a nossa vila do caminho das bicicletas do Arboretum. Ali, num espaço de uns 10 X 200 metros, o vizinho planta flores—california poppies e girassóis—e legumes e verduras—milho, abóbora, pimentões, berinjelas, tomates.

Todo ano o jardim que ele planta, no barranco que circunda a casa e no canteiro separatório, vira um horrível matagal. As plantas crescem alucinadamente e se espalham pela calçada. Muitas vezes no final do verão, já não é possível caminhar por ali e temos que dar uma volta para evitar ter que desbravar a selva. Nunca entendi muito bem o propósito daquilo, até que o Uriel ficou sabendo pelo próprio vizinho, que a horta que ele planta anualmente é comunitária, para qualquer um pegar o que quiser. Pelo jeito ele não divulgou muito bem a mensagem, pois nunca vi ninguém pegando nada. O que acontece todo ano é um grande e escandaloso exercício de desperdício.

Noutro dia emergi no morro, vinda de uma caminhada pelo Arboretum, para uma visão do vizinho numa reinterpretação californiana do guru indiano dos Beatles. Vestido numa túnica longa e calças cor-de-rosa, ostentando óculos escuros, com o cabelo desgrenhado e grisalho preso num rabo de cavalo e a barba branca longuíssima apontando em direção ao sol poente, ele regava caprichosamente o vasto canteiro, que já tinha sido limpo, redecorado com pedras [claro!] e a terra preparada para o plantio. O caso é que só vamos saber o que o vizinho decidiu plantar daqui a alguns meses. Se bem que ele avisou, no dia que contou que a horta era self-service, que também aceita pedidos e plantaria o que você quisesse colher: pepinos, batatas, melancias, beterraba, morangos? Arriscaríamos, pois então, pedindo, quem sabe, se fosse possível ele plantar umas mandiocas, uns chuchus e um pé de maracujá?

amêndoas de pobre

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Eu já tinha visto as sementes de damasco sendo vendidas no Trader Joe’s e tinha deixado passar, sei lá por que. Mas outro dia comprei para experimentar. As sementes do damasco são também conhecidas por “amêndoas de pobre” ou “amêndoas amargas”. Elas são realmente amarguinhas. Quando você mastiga, sente a doçura que pode mesmo ser comparada com a da amêndoa, mas logo em seguida vem a amargura. Nada monstruoso, mas não é tão prazeiroso quanto comer as amêndoas, que são doces do inicio ao fim. Fui ler sobre as sementes de damasco e encontrei dois tipos de informação—uma, que o consumo dessas sementes previne certos tipos de câncer; outra, que as sementes contém amidalina e se consumidas em excesso podem provocar sintomas de intoxicação por cianido. Well, não sei como alguém poderia comer tantas dessas sementes a ponto de se intoxicar, já que elas não são nem tão saborosas assim. No meu caso, eu passo!