Categoria: cotidiano
[diálogos da minha vida]
meu colega—hoje depois do trabalho vou comer um lobster roll com lagosta vinda do Maine.
eu—olha as pegadas de carbono!
⌘ ⌘ ⌘ ⌘ ⌘ ⌘
na hora do almoço, eu comendo damascos e cerejas locais, meu chefe comendo melancia vinda do México.
eu—não é tempo de melancia ainda!
※ each kiss an inspiration ※
all the beauties
all the goodies
café • almoço • jantar
segunda • terça • quarta • quinta • sexta • sábado • domingo
〈 em março 〉
no que ando pensando [muito]
Entrei numa farmácia pra comprar pastilha de tosse e a cena que vi na minha frente me pareceu naquele momento a pura imagem do inferno—uma variedade absurda de doces e chocolates, centenas de pacotes de salgadinhos, um infinito de bebidas artificiais, bebidas alcóolicas, enlatados, comida de caixa, em pó e congelada. E lá no fundão, os remédios. Claro que as farmácias não são novidades pra mim e sempre entro nelas por um motivo ou outro, mas naquele eu dia fiquei chocada. Fui tomada por um sentimento de profunda tristeza quando vi a tonelada de doces de natal serem substituídos por uma tonelada de doces de valentines numa estalada de dedos. Vi naquele cenário colorido uma armadilha atrativa e cruel de açúcar e corantes. As farmácias se transformaram em imensas lojas de conveniência [ou inconveniência], que te vende o problema e depois te vende a solução. São um retrato do que tem de mais paradoxal neste país. desculpa o clichê, mas são.
Passei os feriados de final de ano cozinhando e falando sobre comida com a minha mãe. Falei sobre a minha surpresa por ter virado uma celebridade no meu trabalho pelo simples fato de que eu como comida. E como comida no prato, usando garfo e faca, guardanapo, copo. Sou um assombro! Porque desde a década de 50 do século 20 que os americanos foram desaprendendo a cozinhar, deixando os velhos e laboriosos hábitos por outros mais simples e práticos. E hoje estamos a beira de um colapso na área de saúde, epidemia de obesidade, muitas doenças estranhas, muitas mortes. Isso que estou dizendo não é nenhuma novidade, os fatos estão escancarados. Eu vejo, você vê, mas não é todo mundo que percebe. Ainda há muita falta de informação, muita gente simplesmente não sabe que todo esse lixo se se ingere está nos transformando, nos adoecendo e nos matando. Agora não é mais somente a opção pela praticidade, mas é pela falta de instrução e de conhecimento. Quem vem de uma família onde não se cozinha há pelo menos quatro gerações faz o quê? Faz o que cresceu fazendo e o que acha normal fazer.
Ando muito pesarosa e desanimada, achando tudo uma aberração, uma caminhada cega em direção ao precipício. No trabalho, toda vez que vejo um colega colocando uma caixa de comida processada congelada no microondas, meu coração afunda. Nunca falo nada, mas mesmo de boca fechada, sem julgar ou criticar, posso mostrar delicadamente que há outro lado. Sento na mesa, onde outros colegas se juntam para almoçar e conversar, às vezes dividimos comida. Eu monto meu prato com salada fresca, minha comida simples e no final de sobremesa descasco uma laranja, o que muitas vezes gera olhares de genuíno espanto—olha, alguém que descasca laranja! Todo dia escuto um—oh, você se alimenta tão saudavelmente! ou um—uau, seu jeito de comer é tão legal, tão caprichado! Sempre comi assim, é a minha resposta. Não posso mudar o mundo, mas depois de dois anos dividindo a cozinha na hora do almoço com outros colegas, posso dizer que consigo pelo menos passar uma mensagem positiva e talvez ter uma pequena influência com relação à futuras possíveis mudanças de hábitos.