A semana começou no sábado e já num ritmo de ziriguidum. Vou confessar que tenho estado sempre exausta e que muitas vezes sinto um enorme vazio, na cabeça e no estômago. Fico extremamente feliz e realizada quando descolo uma receita antecipadamente, ou quando me dá aquela idéia brilhante no meio da tarde, e festejo quando abro a geladeira e está tudo ali na minha frente, só preciso juntar os ingredientes de uma maneira mais ou menos metódica—picar, juntar, misturar, refogar ou assar, e prontíssimo, o jantar está servido.
Mas tem dias que nem com a vaca tossindo o menu do jantar se concretiza. Eu até que tinha uma vaga idéia de um rango improvisado: iria ser um macarrão com brócolis. Mas tive que dar um pulo no supermercado e lá o tal macarrão com brócolis entrou num processo de metamorfose. Primeiro vi no olive bar uns pimentões vermelhos assados. Pensei, uhm, vou colocar tiras desse pimentão no macarrão com brócolis, estou ficando audáciosa! Virando no primeiro corredor, peguei vários pães, um de queijo asiago da padaria mais fofa de Davis, a Village Bakery. Na outra esquina do supermercado vi umas irresistíveis linguiças recheadas com erva-doce. Bom, vou ter que tomar uma decisão radical, saí o brócolis, excuse moi, entra a linguiça. Vamos ter então um macarrão com linguiça e pimentões assados, o menu estava ficando mais interessante. Mas foi daí que eu vi o grão-de-bico…..
Jantar da noite, chegamos num momento decisivo, é vai ou racha, o macarrão foi definitivamente eliminado. O menu será um refogado com linguiça, pimentão, grão-de-bico, mais um bulbo de erva-doce que lembrei ter na geladeira, temperado com a salsinha e cebolinha que colhi da horta ontem e um queijo feta grego que comprei outro dia e que é simplesmente o mais chic dos fetas, envelhecido em barril. Servirei acompanhado do pão de queijo asiago. Ale-luiah!!
Chegando em casa foi so get my mojo working e em menos de trinta minutos e jantar estava servido. Para evoluir da idéia de macarrão com brócolis para a concretização de um saboroso cozido de grão-de-bico com linguiça, só precisou de uma caminhada arejada de inspiração no supermercado mais próximo.
Categoria: cotidiano
11:39 – hora de encher linguiça
Mergulho num estado de estagnação por um momento, olhando para a tela, mente vazia, nenhuma idéia, nenhum pensamento, nada. Quando então começo a pensar no almoço, no que irei comer. Não são pensamentos sofisticados, pois meu rango é sempre composto de restos requentados ou algo feito rápidamente no improviso. Mas quando chega perto do meio dia meu estômago ronca e eu começo a fazer uma avaliação mental do que tenho na geladeira, decidindo o menu du jour, porque é no almoço que eu sinto mais fome. A caixinha do calendário pula, avisando que está quase na hora de montar na bicicleta e atravessar o campus impregnado pelo cheiro de carne assada, sopa e frango frito. Passo pela horda que carrega pratinhos e caixinhas com comida, pedalo rápido pois estou com fome e os restos de ontem me esperam—delícia de rangabofe, que fica melhor ainda porque é devorado no conforto e na tranquilidade da minha casa.
party of three
Finais de semana são preciosos pra mim. Se eles forem prolongados, com um feriado na segunda então, eu aproveito cada minuto. Na segunda, feriado do dia do presidente que nas atuais circunstâncias poderia ser equiparado com o dia de finados, foi um dia ensolarado e tranquilo. Convidamos o Gabriel pra almoçar e ele veio feliz bater um ranguinho da mamãe. A Marianne estava visitando o pai em San Luis OBispo, então ele veio sozinho. Colheu uns dez limões do limoeiro e com o seu muque de quebrador zen de tábuas de taekendo espremeu todos eles com a maior naturalidade, sem nem se curvar ou suar. Fizemos uma super limonada, adoçada com nectar de agave, que eu acho que é um adoçante que fica bem suave em limonadas. Eu adoro olhar o prato que meu filho faz quando almoça aqui em casa. É uma coisa impressionante. Fico feliz pensando que ele gosta da minha comida, mas também penso o quanto ele gasta de energia e o quanto precisa repor. Meu filho come como um estivador das docas! Nesse feriado comemos, conversamos, bebemos limonada e vinho, não teve sobremesa mas ninguém se importou. Um almoçinho em família num final de semana prolongado é uma das melhores coisas dessa vida.
* comprei uma linda toalha de plástico florida para colocar na mesa do quintal e acabei usando na mesa da cozinha. achei que ficou vistosa e festiva, e deu uma atmosfera quase primaveril ao ambiente.
um dia na vida de…
Eu acordo e ele já está de plantão na porta do quarto, deitado ou sentado, dormindo ou acordado, ele está lá sempre, infalível, inevitável, exato. Eu desço as escadas e ele desce junto, correndo pra passar na minha frente, porque ele sempre faz isso e eu nunca entendi muito bem o motivo. Em alguns minutos eu vou estar enchendo o prato dele com comida e então terei um tempo sozinha, bebericando o meu café, lendo, pensando na vida e na morte da bezerra. Mas quando eu me levantar pra ir tomar o meu banho matinal, ele já vai estar novamente ao meu lado, correndo na minha frente, pra chegar primeiro, enquanto eu subo as escadas em direção ao quarto e depois ao banheiro. Quando eu chego no banheiro ele já está lá, no plantão número dois do dia, sempre em cima da pia, porque agora a obsessão dele é beber água ali. A bacia da pia do Uriel fica cheia de água pra ele, mas só deixar a água lá não basta, ele quer que você participe, interaja, atue. Eu abro a torneira e ele olha pra água. Entro no chuveiro e começa ali o processo de encaração. Ele fica como uma estátua gorda a altiva, às vezes olhando para o infinito—Marlon Brando tem muitos discípulos, ou simplesmente me encarando. E ele encara com firmeza, mesmo quando o vidro do chuveiro embaça e respinga e eu viro apenas uma confusa silhueta. Eu limpo o vidro com as mãos e me deparo com o carão. Saio do chuveiro e o carão continua ali, me olhando de uma forma desconfortavelmente fixa e blasé, como se estivesse tentando dizer—está precisando se depilar, hein querida?
E assim continuamos o nosso dia, eu desco, ele desce, eu subo, ele sobe. Na hora do almoço, quando eu chego esbaforida com a bicicleta, ele é a primeira visão que eu tenho, quando abro a porta. Ele vai primeiro bater um ranguinho rápido, depois vem se posicionar para o plantão número três do dia, que consiste em apenas ficar dando sopa por ali, olhando o movimento do meu almocinho improvisado ou requentado, sempre na esperança que algo aconteça. Acontecimento seria ele ganhar comida—fato que resume absolutamente TODO o sentido da vida. Eu subo para escovar os dentes e ele sobe também, correndo para passar na minha frente, quando eu chego lá no banheiro, ele já está à postos para o plantão número quatro do dia. Enquanto eu escovo os dentes, ele olha pra água que contínua na bacia da pia, olha pra mim, deita entre as bacias, onde estão algumas coisas que eu uso, então eu preciso mover um rabo peludo do lugar pra pegar algo e praticamente me dobrar em cima do ser balofo pra alcançar outra coisa. Eu faço xixi e ele me encara, eu desço e ele desce, correndo na minha frente, chegando primeiro. Quando eu fecho a porta da casa, a última cena que vejo é ele na beira da escada, ou na cozinha, pois a esperança é sempre a última que morre.
Chegando em casa à noite, abro a porta esbaforida e carregada de coisas—lancheira, cartas, pacotes, e a primeira coisa que vejo é ele no pé da escada. Ele vai bater um ranguinho preventivo e daí começa o plantão número cinco do dia, o mais importante. Enquanto eu faço as coisas na cozinha, guardo louça, preparo o jantar, ele não sai do perímetro que contém a largura dos meus passos. Ele fica como uma estátua, no tapete de cá, no tapete de lá, ou no meio dos tapetes, sentado ou deitado, sempre com um olhar pidão de morto de fome, a não ser que ele fique muito frustrado, daí ele vai pro canto da parede, onde normalmente colocamos os snacks pra ele comer e encara a parede, assim como quem está de castigo, resignado. Marlon Brando tem mesmo muitos discípulos. Assim ficamos, ele ali impassível e eu quase tropeçando no tapete e nele, me irritando com a insistência e com a inconveniência. Ele só dá sossego quando eu finalmente coloco os snacks no cantinho da cozinha. Mesmo assim ele ainda volta, desta vez só pra curtir a companhia, a música, o calorzinho do forno. Depois que jantamos, eu subo pro quarto e ele sobe na frente, fica em cima da pia enquanto eu tomo banho, o plantão que número mesmo?
Essa é a minha rotina com o meu gato Misty Gray, um soturno senhor de treze anos, cheio das manias, quase todas relacionadas à comida e bebida. Eu não passo um minuto sozinha. Não sei se isso é bom ou ruim, ainda não decidi. Sem falar que tem o outro gato. Ah, o outro gato vocês nem queiram saber. O outro gato fica pra outra hora.
a chuva lavou o carro
Por aqui não acontece absolutamente nada diferente. Tudo ainda é velho. Chove e faz frio, o que dá um certo desânimo de colocar o nariz pra fora de casa. Mas isso não é problema, já que na casa tem tudo, tem até pão e leite!
Não vou fazer ceia de ano novo—iurru! Vai ser tudo uma surpresa. Mas terei um rack of lamb descongelado e tenho alface e rúcula fresquinhas e lavadas. E se tem pão, está tudo bem.
Fiz café, que ficou fraco, mas o convidado bebeu, assim como comeu o quiche salgado. Não adianta, entra ano, sai ano, e eu continuo salgando muito as comidas e fazendo café muito forte ou muito fraco. É até chato, porque vocês sabem, né?
O som na caixa é de outros tempos, mas a vida é muito boa aqui, sou feliz onde estou, não olho pra trás, não tenho nenhuma dúvida de que aqui é o lugar onde eu deveria estar, hoje, agora.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa
Será que é culpa do trânsito de Marte retrógado pegando a minha lua?
Primeiro a caixa da quinoa vazou e zilhões de sementes se espalharam rapidamente pelas prateleiras e frestas da geladeira. Depois o triturador da pia entupiu e subiu aquela água borbulhante amarelada, que gira em falso como se fosse um redemoinho gago. Liguei rapidamente pro Uriel pedindo socorro, pois apesar da pia ter duas bacias, a que tem o triturador é a mais útil, a mais fácil, e eu não posso cozinhar sem usar a torneira. Ele veio e a meleca estava realmente grande. Depois de remover tudo o que fica guardado em baixo da pia, desligar o aparelho, remover o cano, drenar a água escura cheia de pedaços semi-moídos de casca de mexirica, apareceu o grande causador do estrago: uma tampinha de plástico, que deve ter caído lá por acidente. O jantar saiu, mas antes tive que trocar os tapetes da cozinha e me descabelar na frente do fogão, pois justamente naquele dia a lentilha que estava na panela tentando virar sopa, não amolecia de jeito nenhum.
E no dia que resolvi fazer uma receita de tuna melt porque iria jantar sozinha e comecei a não achar os ingredientes—um atrás do outro. No final das contas a única coisa que eu tinha era mesmo um lata de um maravilhoso atum espanhol, que eu compro lá no Corti Brother’s. Bom, pelo menos isso, eu tinha um atum de excelente qualidade preservado no azeite, que compensou a falta de TODOS os outros ingredientes. Não tinha pita bread, não tinha salsão, não tinha pickles, nem queijo cheddar e a maionese até que tinha, mas quando eu abri o pote ela estava com uma camada amarela e um cheiro de ranço. Foi pro lixo. Fiz então o tuna melt à minha maneira, usando um pão indiano e temperando o atum com salsinha picada. Usei também uns tomates meio sem gosto, fora de época, que ainda teimam em chegar na cesta orgânica, cobri com queijo manchego ralado e assei. Não ficou nada igual a um verdadeiro tuna melt, mas ficou bom e eu comi assim, como sempre como quando estou sozinha, com uma bandeja no colo vendo um filme, na sala de tevê.
cansada, eu?
Passei o final de semana organizando a casa. É aquele ziriguidum que acontece uma ou duas vezes por ano. No sábado eu arrumei tudo o que precisava ser arrumado na parte de baixo da casa. Pilhas de livros na cozinha, uma pilha de papéis pra jogar fora e outra pra guardar, geladeira cheia de produtos com data de validade expirada, gaveta com condimentos que precisavam ir pro lixo. O Uriel me ajudou esvaziando e lavando o que iria ser reciclado. Nosso container de recicláveis nunca ficou tão cheio. E tinha cacarecos mil na lavanderia. Nem cheguei na garagem, pois lá preciso de mais um dia. No domingo me concentrei no closet e armários e gavetas de roupas, depois entrei no mundo encantado de papelada do escritório. Cansei, fiquei mal humorada e com dor nas costas, mas botei ordem no que queria colocar. Segunda-feira na hora do almoço estava trocando as roupas de cama e de banho, trocando também a capa do edredon e dos vários travesseiros que enfeitam a cama. Ainda falta organizar as contas do mês, que eu faço online. Comecei a semana esbagaçada. Como segunda é também o dia da cesta orgânica e o Uriel ligou avisando que iria ter que jantar rapidamente e voltar pro trabalho—o que não é algo inédito na rotina dele, eu fiz o prato coringa que sempre faço quando estou com pressa, quando preciso de um conforto: macarrão ao alho e óleo com bastante salsinha e queijo parmesão ralado na hora. Tive que tristemente reciclar dois maços gigantes de verduras da cesta. Ainda sobrou mais um chard colorido, outra verdura arrocheada, mais uma acelgona, alface e rúcula. Vieram também rabanetes e nabos. Nabos!! Nabos?? For Pete’s sake, onde estão as cenouras??
bons hábitos no trabalho
No meu trabalho tem uma máquina de água, dessas com duas opões: água quente ou gelada. O programador compra os galões de água no Co-op, voluntários trocam, conforme a necessidade. A cada seis meses faz-se a limpeza da máquina de água. Voluntários são requisitados. Da última vez fui eu e a secretária. Ficamos duas horas seguindo o passo-a-passo, mas a água ficou deliciosa—ou assim comentaram os que provaram. Eu me voluntario pra trocar o galão ou limpar a máquina, porque bebo muita água. Se não é gelada, é a quente que eu uso pra fazer meus chás. Eu tenho várias latinhas cheias de saquinhos empilhadas na minha estante e durante os meses frios bebo pelo menos três xícaras de chá por dia. São xícronas. Nosso prédio é pequeno. É na verdade um anexo de um prédio grande. Nós temos uma micro-cozinha que fica no corredor com pia, geladeira, micro-ondas, armário e cafeteira. Não podemos jogar lixo orgânico nas lixeiras. Reciclamos tudo. Cada um limpa a sua própria sujeira. Todo dia pela manhã o meteorologista faz café. Às vezes a jornalista faz mais café à tarde. Todo mundo bebe café, menos eu. Não há pratos, nem talheres, nem copos de papel nem de plástico, todo mundo tem seus próprios utensílios e sua própria xícara ou caneca. Inclusive eu, que tenho três.
as mudanças que chegam em outubro
A primeira coisa realmente notável é a escuridão pela manhã. Até o final do mês a escuridão da noite vai chegar mais cedo também. Isso significa que minhas horas de luz natural para fotografias vão ficar bem limitadas. Minhas adaptações para conseguir fazer fotos incluem malabarismos ligeiros, usando uns minutos antes de sair para trabalhar ou a hora do almoço. A segunda mudança mais notável é a dos ingredientes. Como eu sigo as estações, agora começam a sumir os tomates, pepinos, pimentões e milhos e surgem as abóboras e as folhas verdes, que vão reinar por um longo período. No trabalho eu volto a beber meus chás—branco, verde ou de ervas. As aulas recomeçam e o campus se enche de estudantes, abundância de bicicletas, perigo eminente de acidente! As blusas de manga comprida tomam a frente nas gaveta, reaparecem os adoráveis cachecóis que eu uso o tempo inteiro, aposento as sandálias, visto meias. Para substituir os fresquinhos chinelos de dedo, desenterro meu velho tamanco birkenstock que uso para ficar em casa, fecho as janelas do quarto, desligo os ventiladores de teto, os gatos começam a dormir em lugares mais quentinhos, as saladas saem do centro da roda e as sopas tomam o lugar de destaque. Sinto vontade de comer uma comida mais quente e substanciosa, mais raizes, mais feijões, mais molhos. Paramos de usar a mesa do quintal para almoços e jantares, os pés de tomate morrem, abandono vergonhosamente a horta, o limoeiro do quintal fica carregado e aparecem os limões meyer na árvore de ninguém. Evito nadar em dias sem sol, acabam os picnics das quartas-feiras no Farmers Market, me preparo para dias de chuva. Outubro é o meu mês favorito, por muitas razões, a melhor delas a grande mudança.
Davis, 3 de agosto de 2007
Querido diário,
Ontem foi um dia estranho. Aliás anteontem também foi um dia estranho, ou melhor, muito mais estranho. Estive muito ocupada no trabalho e no meio da tarde uma dor de cabeça que estava me rondando me pegou de jeito. Tive que sair mais cedo e ir pra casa descansar no quarto escuro. Depois fui cortar e pintar o cabelo, pois eu já estava com aquela cara de mulher louca do saco e era preciso tomar providências urgentes. Minha beleleira é um amoreco. Ela é dois anos mais nova que eu e já é avó, foi padeira, masca chicrete, tem um corte de cabelo super funky, me chama de “honey” e me dá abraços na hora de ir embora. Além do que ela sempre faz o que eu peço—e somente o que eu peço. Me fez massagem na cabeça e usou aqueles produtos aromaterápicos da Aveda. Até melhorei um pouco da dor de cachola. Depois fui buscar o Uriel no trabalho e enquanto ele me contava as novidades do dia e o desenvolvimento das notícias que tivemos nesta semana, eu dirigi como barata tonta por downtown, passando várias vezes pelo mesmo lugar e perguntando—onde você quer comer? Detesto quando ele faz o empurra-empurra respondendo—você que escolhe. Eu não tenho estrutura astrologica pra escolher nada! Parei por acaso em frente a um restaurante tailandês. Davis tem uma abundância de restaurantes asiáticos. Só de tailandeses tem uns seis. Então esse tipo de comida não é especial, nem excitante pra mim. Já passei de fase de achar bacana, agora só acho normal. Carne-de-vaca, como eu diria pro Moa poder rolar de tanto rir. Pedimos uns wontons fritos, que vieram com uma salada de pepino com um molho vermelho cheio de alho cru—todos aqui já sabem da minha ojeriza por alho cru. Resolvi pedir um especial do dia, que era um curry de abóbora com camarão. Eu raramente peço curry no tailandês, mas dessa vez resolvi arriscar e não me arrependi. O curry era vermelho, com leite de coco, camarões, pedaços de abóbora que foram incorporados no molho, abobrinha, cenoura e manjericão. Acompanhou um arroz jasmine. Nós sempre comentamos esse detalhe rindo, pois o arroz vem numa sopeira prateada cheia de rococós com a colher também prateada combinando, e olhando de longe dá aquela impressão de coisa linda e fina. Mas quando a sopeira chega na sua mesa, a decepção é aparente na cara de todos—ela é feita de plástico! O Uriel pediu camarão com gengibre e deve ter gostado, pois comeu tudo. Sobrou metade do meu curry, que o garçon empacotou e vou comer hoje no almoço. Não pedimos sobremesa. Eu não consegui beber todo o meu thai iced tea. Fomos pra casa, onde os gatos nos esperavam na cozinha. O Uriel voltou pro trabalho, como ele sempre faz. Eu tomei mais 800 mg de ibuprofen, um banho e fui pra cama. Um filme antigo, dança, sapateado, vestidos esvoaçantes, dou risada das piadas, viro de lado de costa pra tevê, fecho os olhos…“beautiful music…dangerous rhythm, you kiss while you’re dancing, it’s continental, ooh, it’s continental, you sing while you’re dancing, your voice is gentle and so sentimental..” ZzZZzzzzz.