domingo—perde o cachimbo

Abri meus olhos de madrugada e naquela sonolência sonâmbula percebi que não tinha ligado o alarme. Estiquei o braço, puxei a alavanquinha, a luzinha vermelha apareceu, virei e voltei a dormir.

Às seis e trinta da manhã o alarme tocou e eu levantei pensando nos meus projetos no trabalho, o que tinha na agenda pra fazer naquela segunda-feira. Desci, dei comida pros gatos, preparei meu café com leite ainda não totalmente acordada e me sentindo incrívelmente confusa. Como esse final de semana passou rápido, pensei. O que foi mesmo que fiz de almoço no domingo, me perguntei. O sentimento de confusão só aumentava e de repente o interior da névoa que obscurecia o meu pensamento foi clareando. Subi para o quarto, cutuquei o Uriel que ainda dormia e perguntei, hoje é domingo? Ele abriu os olhos e respondeu, sim hoje é domingo!

Me senti uma besta quadrada por acordar em horário de dia de semana num domingo e ainda ter pensado em trabalho e iniciado minha rotina de dia de semana num DOMINGO!
Segui acordada, pois acordada já estava mesmo e decidi aproveitar o tempo extra pra fazer coisas pela casa e na cozinha. Já estava com idéias para o almoço e fui em frente com meus planos. Zanzei pra lá e pra cá a manhã toda e fiz uma receita de galantine de legumes da minha mãe, que era um negócio que eu adorava, mas queria tentar fazer usando a agar agar. Decidi preparar uns espetinhos com um franguinho orgânico, daquele criado e abatido sem crueldade, que descongelei dois peitos, cortei em cubinhos e temperei com iogurte e pimenta. Também decidi que iria fazer aquele quilo de favas frescas—as últimas da temporada—grelhadas. Fiz espetinhos com o frango e uma cebola roxa. Levei tudo para a churrasqueira.

A mesa já estava arrumada no quintal para o almoço, quando fui checar as favas e os espetinhos e reparei que tinha algo errado ali. Por algum motivo até agora desconhecido, o fogo na churrasqueira estava soltando um pretume estranho, que estava colando na comida. Fui correndo chamar o Uriel e enquanto ele tentava ver o que estava errado, fui virar a galantine de legumes numa bandeja e o resultado foi um enorme PLOFT! Tudo mole, não solidificou o suficiente pra desenformar. Enquanto isso no quintal, o corre-corre era geral. Estava na cara que a comida tinha sido contaminada pelo pretume e estava imprópria para consumo. Eu ainda tentava desesperadamente salvar algumas favas, quando o Uriel me segurou pelos ombros e disse, Fer DESISTE, vamos sair pra comer fora.

Subi pra tomar um banho, enquanto ele jogava todo o nosso ex-futuro almoço no lixo e lavava a sujeirada. Fomos almoçar num restaurante japonês bem fraquinho, passeamos um pouco e depois voltamos pra casa onde comemos a sobremesa: a única comida que não foi pro lixo, pois tinha sido feita no sábado.

a fashionable bad day

Pois então. Cheguei atrasada no trabalho, de tanto que troquei de roupa antes de sair de casa. E mesmo assim não estou contente com o que estou vestindo—na verdade estou descontentíssima. Ainda tenho a chance de tentar consertar o estrago na hora do almoço, mas me sinto realmente uma fútil trocando de roupa no meio do dia, somente por que encasquetei. Pois realmente não faz diferença alguma. Se eu estiver vestindo um saco de estopa, sapato de sola de pneu de trator e chapéu de palha de dois mirréis, ainda vou ser a mais elegante e moderna da parada, pois a maioria do pessoal que trabalha comigo não compra uma peça de roupa nova desde a década de oitenta. Ou compra na loja de usados, vintage da década de oitenta. Ou simplesmente herdou tudo de um primo/prima que morreu na década de oitenta. Mas eu, perfeccionista e vaidosa, não estou contente com o meu visual de hoje, que pra completar incluí uma cabeleira que resolver armar—eu disse ARMAR, tão ligados? Cabelo armado é razão suficiente para “call in sick” e se esconder, até a kanekalon resolver finalmente se comportar.

põe a mesa

mesa51709_1S.jpg Para o almoço Salada simples de tomate e salada simples de batata. O requinte está no fato dos tomates e batatas serem locais, orgânicos e sazonais. Não tem nada melhor, nada mais saboroso, nada mais sofisticado que isso. O tempero também é simples, uma vinagrete de azeite e vinagre ou azeite e limão, mais ervas da horta e flor de sal. Os tomates ganharam manjericão e as batatas ciboulettes. Essas saladas ficam sempre tão boas que nunca sobram pra contar a história. Desta vez elas foram acompanhamento para uns bifes com tomilho fresco que fizemos na churrasqueira.

lah-dih-dah

Assim que abri a porta do meu pequeno armário de despensa, uma lata de atum tombou do alto da terceira prateleira e precipitou-se em queda livre, colidindo com outras latas e pacotes, para logo em seguida dar um duplo mortal—primeiro soqueando com força o topo da minha cabeça e depois aterrando na bancada da pia, justamente em cima de um pires antigo que fazia dupla com uma linda redoma de vidro que eu usava como manteigueira. Usava. O pratinho quebrou-se ao meio e entre a dor do recém-adquirido galo na cachola e a tristeza de perder uma peça de porcelana tão linda, constatei mais uma vez que a cozinha é, para mim, o lugar mais perigoso da casa.
São tantas e tão variadas histórias, que eu já nem impressiono mais os ouvintes, que se limitam a me olhar com aquela cara de bocejo espremido: ah é, você se machucou na cozinha [outra vez]? Posso afirmar que me corto com a faca pelo menos uma vez por semana. E se você sentiu aquele cheiro característico de galinha sendo depenada, pode apostar que era eu tentando pegar alguma coisa entre as panelas no fogão e queimei os pêlos do braço. Fritar, cortar, ralar, escaldar, furar, bater, amassar, espremer, são verbos que eu conjugo muito bem e que não estão nem um pouco relacionados com nenhuma instrução de preparo de receitas.
Minha mão direita é frankensteiniana, exibindo um dedo costurado que não tem mais sentimentos. O corte, que fiz quando lavava um prato de cerâmica que se quebrou, pegou um nervo e transformou para sempre o polegar num sujeito insensível. Mais para o lado vê-se uma mancha notável, que nem o óleo da roseira milagrosa que esfreguei lá por anos ajudou a dissimular. Ela é a lembrança estampada daquela minha tropeçada no tapete, numa noite em que resolvi fazer um pudim de leite, daqueles que precisam ter a forma caramelizada.
Meu marido, que é professor e muitas vezes convoca alguns dos seus alunos para ajudá-lo com peças de maquinaria pesada na sua oficina, tem uma palavra de ordem, reiterada inúmeras vezes para assegurar a integridade física de seus pupilos—concentração! Você precisa se concentrar no que está fazendo, ele diz. Mas comigo esse negocio não funciona. A cozinha é o lugar onde eu relaxo, ouço música, checo e-mails, leio livros, converso com os gatos, descasco batatas dando risada de alguma coisa engraçada que me aconteceu, mexo a sopa no fogo refletindo sobre as notícias do mundo, às vezes até choro ou danço, e mesmo assim não entendo por que estou sempre protagonizando mais um acidente.

A evangelização segundo MP

Enquanto procurava por um itém da minha lista de compras pelas prateleiras de um dos corredores do Co-op, vi uma menina analisando uma dessas caixas tetrapak de leite de aveia ou arroz com grande concentração. Passei por ela e ainda na busca do que queria comprar, ouvi ela perguntar para um cara mais velho, que eu assumi ser o pai dela:
[garota]: o que você acha deste aqui?
[pai]: você não sabe que não devemos comprar nada que tenha componentes que você não entende o que é e nem consegue pronunciar na lista de ingredientes de um produto?
[garota]: mas eu conheço esses ingredientes e consigo pronunciar todos!
[pai]: bom, compre então só pra você, que eu não vou consumir isso.
[garota]: não parece nada mal.
[pai]: você não sabe que não deve comprar produtos que a sua avó não reconheceria como comida?
[garota]: mas minha avó com certeza reconheceria isso!
[pai]: você que sabe…
Não pude prolongar mais a minha parada ali com o ouvido esticadão. Segui em frente a contragosto e não vi o final da história—se a menina levou ou não o leite de caixinha que o pai criticava. Reconheci o discurso do pai, que não citou nenhuma fonte, mas que certamente saiu da leitura dos livros do Michael Pollan.

o final de dia [calorento]

Fui caminhar durante os últimos minutos do entardecer, quando a luz já estava serena, depois do sol ter baixado daquela linha que fica bem direto com os nossos olhos e provoca uma luminosidade dolorida. O dia foi relativamente quente para essa época do ano. Fez trinta e seis graus celsius, uma onda baforenta fora de hora, que sempre nos tira dos eixos e do percurso natural das coisas. Fui caminhar mais tarde porque fiquei contando uns causos pro Uriel, enquando comia triângulos cortados de uma laranja dulcíssima e ele lavava as panelas e as travessas do nosso jantar. Quando pisei no arboretum, que é cortado nas suas três milhas de extensão por um riacho, senti na hora a umidade vinda da água, vaporizada no ar pelo calor. Caminhei meus rotineiros quarenta minutos sentindo todo tipo de cheiro. Eu tenho um olfato bem calibrado que adora perceber todos os aromas e fedores deste mundo. E ele aspirou, ora entusiasmado, ora repugnado, odores secos e molhados dos mais diversos. Cheiro de mato, de paina, de flores, de musgo, de terra, de pena de pato, de poeirão de esquilo, de casca de árvore, de chinelo de dedo, de suvaco de corredor, de bosta de cavalo, de galho quebrado, de folhas boiando na água, de brotos de cereja, de madeira vermelha, de óleo de pinho, de pavimento esfriando. O dia ferveu e o arboretum mudou seus cheiros, que foram registrados em pormenores pelo meu poderoso nariz.

a straight line exists between me and the good things

O advento da primavera traz mudanças caracteristicas na paisagem do Arboretum, não apenas pelo colorido clássico do aparecimento das novas flores e verdes, mas também pelo nascimento de centenas de patinhos. Caminhando pelo percurso de três milhas que acompanha um riacho, observo a agitação ruidosa provocada pelos novos fofoletes habitantes do local. Vejo muitas famílias com crianças parando para olhar as famílias de patolinos com seus adoráveis patolinozinhos. Vejo também muita gente carregando suas câmeras DSLR com lentes bacanudas, clicando, além das simpáticas trupes patolinescas, as plantas florindo, os horizontes e mil reflexos fotogênicos providenciados pelo riacho. Tenho muita sorte de morar ao lado desse Arboretum, que é um espaço ecológico belíssimo e apinhado de cenários super ultra fotografáveis em qualquer estação do ano.

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Estou tentando ajustar algumas horas de caminhadas no meu dia-a-dia, geralmente nos finais de tarde. Só não rola nada nas segundas, pois todos já sabem que neste dia tenho que pegar a cesta orgânica, dividir tudo com a Marianne, lavar e ensacar os legumes e verduras que serão usados durante a semana. Outros dias podem ser diferentes, com pequenas mudanças necessárias. Como naquele dia em que eu corri até supermercado para comprar pão e frutas, porque ando comendo muitas frutas, além da banana diária, e aproveitando a época dos citrus, que eu adoro. Depois tirei a louça limpa da máquina de lavar e guardei tudo nos armários, enquanto os gatos me cercavam na cozinha, o Roux falando comigo daquele jeito dele, dando pulinhos e fazendo uma cara engraçada. Esses gatos me fazem um cerco acirrado no final da tarde, tudo em função dos biscoitinhos crocantinhos que damos pra eles. É tanto dramalhão, miação, olhares pidões, corre pra lá e pra cá me seguindo, que parece que a bicharada está esfomeada, morrendo à mingua. Eu geralmente faço eles esperarem até às 6pm. Dai satisfaço as lombrigas felinas e eles finalmente sossegam e me deixam circular livremente pelo espaço da cozinha. Mas nesse dia diferente eu não fui caminhar nem cozinhei, porque fomos jantar no Ciocolat com nossos amigos. Depois voltamos pra casa, eu subi pra tomar banho e deitar no ritual de encerramento do dia e o Uriel voltou pro trabalho, como ele sempre faz.

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Esse foi uma noite atípica, porque normalmente eu preparo o jantar e se fizer algo diferente, legal ou criativo, fotografo para o blog. Se não, eu apenas ligo pro Uriel, ele chega, jantamos, depois limpamos a cozinha juntos, embora não sobre muita coisa pra limpar já que eu sou uma cozinheira obcecada em ir limpando tudo enquanto cozinha. E encerro o expediente quando eu subo pro quarto com o Roux atrás de mim, dando bote nas minhas pernas e querendo conversar. Meu dia termina na cama, lendo, com a tevê ligada, chorando com a cena de algum filme, me sentindo cansada, cansada, até desabar e Zzzz…

Iniciei um novo dia com o pé direito, depois de uma noite inteirinha de sono ininterrupto, o que é uma preciosidade pra mim. Fechei os olhos às 10pm e só reabri às 6:20am, como se a noite não tivesse existido e acordando de um sonho super ternura, onde eu estava bebendo chá com minha melhor amiga, Michelle [Obama].

uma horta conceitual

Minha vizinhança é quase homogênea em termos de status profissional dos proprietários das trinta casas coloridas que formam o círculo batizado de Aggie Village. A maioria dos meus vizinhos são professores da UC Davis. A real ocupação de um deles—o da casa do nosso lado da calçada, na esquina que desemboca para o Arboretum—foi no inicio uma incógnita. Nós víamos a mulher sair pela manhã, provavelmente para ir trabalhar, mas o marido ficava por lá, cavando uns buracos, arrancando uns matos e carregando umas pedras que ele amontoava aqui e ali. Concluímos pela aparência da coisa que a mulher devia ser professora e que o cara devia estar desempregado e por isso fazia penitência da vida ociosa trabalhando em reformas necessárias na casa. A varanda desses vizinhos estava sempre cheia de cacarecos, cadeiras, vasos, pedras, bicicletas e até uns quadrados de feno. A cerca tinha sido derrubada, deixando à mostra uma paisagem desolada, sem grama, sem flores, só um imenso terreno desnudo.

Não demorou muito para descobrirmos que o nosso vizinho carregador de pedras e fazedor de buracos não estava desempregado, muito pelo contrário. Estava muito bem empregado como professor do departamento de artes da Universidade da Califórnia.

Descobrimos também que a casa dele não estava passando por nenhuma reforma. Ela é na verdade o palco para uma constante e dinâmica instalação de arte conceitual, que eu ainda não pesquei o significado, apesar de ter certeza absoluta de que há um, ou vários.
Com o passar dos anos pude perceber claramente que meu vizinho é obcecado por pedras. Há centenas delas, empilhadas ou espalhadas, ao redor da casa. No último verão ele fez uma pilha em formato triangular debaixo de uma árvore, que me fazia pensar naqueles altares que se vê em estradas, para relembrar as pessoas que foram atropeladas. Mas as instalações com pedras não permanecem, pois logo as pedras somem, são relocadas e reaparecem em outra forma, num outro canto.

Embora tudo na casa do meu vizinho seja interessante, o mais peculiar é realmente o seu trabalho de jardinagem. O quintal não tem cerca, então quando caminho pela calçada ao lado posso ver claramente o imenso poeirão, com estradinhas desenhadas com pedras [claro!] e às vezes uns panos brancos imensos pendurados em arames estendidos e cruzados pelo espaço do terrão. Uma vez vi cadeiras num arranjo íntimo, para logo em seguida presenciar o vizinho com a esposa e um amigo bebendo chá, sentados no meio do jardim árido de terra e pedras. No quintal não tem nenhuma planta. Mas ao redor da casa, numa espécie de barranco, o vizinho planta uma horta. E expande a plantação para uma área comum, que separa a nossa vila do caminho das bicicletas do Arboretum. Ali, num espaço de uns 10 X 200 metros, o vizinho planta flores—california poppies e girassóis—e legumes e verduras—milho, abóbora, pimentões, berinjelas, tomates.

Todo ano o jardim que ele planta, no barranco que circunda a casa e no canteiro separatório, vira um horrível matagal. As plantas crescem alucinadamente e se espalham pela calçada. Muitas vezes no final do verão, já não é possível caminhar por ali e temos que dar uma volta para evitar ter que desbravar a selva. Nunca entendi muito bem o propósito daquilo, até que o Uriel ficou sabendo pelo próprio vizinho, que a horta que ele planta anualmente é comunitária, para qualquer um pegar o que quiser. Pelo jeito ele não divulgou muito bem a mensagem, pois nunca vi ninguém pegando nada. O que acontece todo ano é um grande e escandaloso exercício de desperdício.

Noutro dia emergi no morro, vinda de uma caminhada pelo Arboretum, para uma visão do vizinho numa reinterpretação californiana do guru indiano dos Beatles. Vestido numa túnica longa e calças cor-de-rosa, ostentando óculos escuros, com o cabelo desgrenhado e grisalho preso num rabo de cavalo e a barba branca longuíssima apontando em direção ao sol poente, ele regava caprichosamente o vasto canteiro, que já tinha sido limpo, redecorado com pedras [claro!] e a terra preparada para o plantio. O caso é que só vamos saber o que o vizinho decidiu plantar daqui a alguns meses. Se bem que ele avisou, no dia que contou que a horta era self-service, que também aceita pedidos e plantaria o que você quisesse colher: pepinos, batatas, melancias, beterraba, morangos? Arriscaríamos, pois então, pedindo, quem sabe, se fosse possível ele plantar umas mandiocas, uns chuchus e um pé de maracujá?

back to my sweet home

Carro, avião, avião, trem, carro, ônibus, trem, trem, taxi, carro, trem, taxi, avião, carro, taxi, trem, barco, barco, carro, trem, ônibus, avião, taxi, taxi, avião, avião, carro.
Acho que nunca fiz uma viagem que envolveu tantos meios de transportes diferentes. Desta vez só faltou andar de bonde, de carroça e no lombo do camelo. Pra quem detesta ficar confinada em ambientes fechados, foi um festival de lamúrias. Mas em duas semanas visitamos dois países lindos e conhecemos sete cidades. Adorei a Espanha e preciso voltar à Itália, por onde passeamos meio desorganizadamente. O roteiro na Itália foi na verdade uma excursão pessoal do meu marido, buscando pelo ponto de partida, o local de origem da sua família.
O jet lag me derruba sempre na volta, quando regressamos nas horas. E ainda peguei uma gripe, com certeza dentro de um dos aviões que me carregou de lá pra acolá. Hoje estou na bolha, mas amanhã recomeça a minha rotinazinha, com a adição de que fui convocada para servir como jurada na Superior Court of California do meu condado.
Ainda tenho muitas fotos e histórias da viagem. Mas logo voltaremos à programação normal.

todo ouvidos

Ainda existem pessoas que escutam programas de rádio. Meu marido é um. Ele ouve uma rádio AM enquanto toma o café da manhã e lê o jornal tradicional de papel. Ele escuta um talk show sobre esportes, mas que aborda outros assuntinhos. Como eu tenho um mau humor horrorendo pela manhã, me irrito com aquele falatório. Mas é muito raro um encontro nosso na mesa do café, já que ele tem horários ecléticos e dorme mais tarde e acorda em horas diferentes da minha.
Mas eu também sou ouvinte de rádio. Escuto rádios do ITunes, em casa e no trabalho. E escuto rádio FM no carro. Escuto também a NPR no carro ou pelo website deles. Gosto de ouvir os programas que tem temas com música. As noticias me aborrecem um pouco. Na verdade peguei um certo horror de notícias durante o período de trevas que foi os últimos oito anos, quando escutar notícias me dava um certo desespero. Mas felizmente tudo mudou.
Na terça-feira saí do trabalho e fui ao Co-op, pois em casa faltava leite, pão, suco e frutas. Fui e voltei ouvindo a NPR e quando cheguei em casa liguei a rádio pela internet. Eu queria preparar um rango para o jantar, mas também queria ouvir o discurso do presidente Barack Obama. Fiz as duas coisas. Me senti uma pessoa realmente antiga, ouvindo um evento ser transmitido pelas ondas do rádio. Enquanto escutava os comentaristas, cozinhei um espaguete num panelão com bastante água e sal. Escorri quando a massa ficou al dente. Nisso eu já tinha picado dois dentes de alho bem miudinho e cortado uma boa quantidade de cogumelo shitake em fatias grossas. Refoguei o alho em bastante azeite, juntei sal grosso, pimenta do reino moída, joguei os cogumelos, que fritaram rapidamente. Desliguei o fogo e juntei o espaguete cozido e bastante salsinha picadinha.
O Uriel já tinha avisado que chegaria tarde, pois estava numa função de laboratório com os alunos. Ralei bastante queijo parmesão sobre o macarrão já no prato e jantei sozinha, ouvindo o discurso do presidente pela NPR. Comer sozinha não é nenhuma novidade, mas escutar discurso politico no rádio durante o jantar é um fato realmente inédito—for the times they are a-changin!