meu encontro com a Alice

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O motivo da minha ida à Berkeley foi o book signing da Alice Waters. Claro que eu já tinha comprado o livro novo dela—The Art of Simple Food, e até usado nos preparos do Thanksgiving com a receita do lemon curd. Mas não dava pra perder essa oportunidade de ficar frente a frente com uma das minhas musas. Comprei outro livro lá, que também recebeu dedicatória e vai ser enviado para uma querida amiga. Nem preciso dizer que como fanzoca boba que sou, fiquei totalmente emocional na frente da Alice Waters. Ela é bem petit, e linda, e delicada. Eu precisava falar algo, porque a gente se sente meio pateta ali na frente da pessoa que você admira, então eu disse—thank you so much, Alice, you’re such an inspiration to me!. Ela sorriu. Deve ouvir isso o tempo todo, mas tudo bem, não importa, eu tinha que falar alguma coisa!

Chez Panisse Café

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As confusões acontecem por algum motivo esotérico, não por falta de planejamento, pois algumas vezes tudo falha calhordamente por nenhum motivo aparente. Desta vez eu me preparei. Escrevi pra Maryanne, que lê este blog, mora em Berkeley e conhece os bons restaurantes da cidade. Ela sugeriu três lugares, eu escolhi um, liguei e fiz reserva. Tudo certo, não iriamos dar com os burros n’água em qualquer birosca desconhecida. Chegamos em Berkeley cedo, pois eu queria antes passar no The Cheese Board Collective, que fica em frente ao Chez Panisse e faz parte da história do restaurante. O lugar estava fechado, então seguimos para o Farmers Market em downtown, onde passamos um tempo e depois seguimos para o restaurante onde eu tinha feito reserva. Chegando lá, o grande choque—o lugar estava FECHADO*! Fiquei louca da vida, gruni, chutei lata, aquilo não era possíverrrrr….
Resolvemos voltar para a rua do Chez Panisse, onde ficava um outro lugar que a Maryanne tinha recomendado. Mas quando chegamos lá e eu olhei novamente para o charmoso restaurante da Alice Waters, me deu um ziriguidum:
fruck reservations! eu vou checar se rola a gente almoçar no café do Chez Panisse!
E fui. A hostess, extremamente delicada e gentil, me disse que seria trinta minutos de espera. Topei sem piscar. Enquanto o Uriel foi estacionar o carro, eu fiquei olhando os cozinheiros trabalharem na preparação do jantar do dia, no restaurante que fica na parte de baixo da casa. Dei uma espiada através da cortina e depois fiquei embasbacada, olhando o movimento na cozinha de um dos restaurantes mais famosos do mundo. Um dos cozinheiros escolhia talos de uma verdura, outros picavam coisas, a cozinha tinha um cheiro maravilhoso de coisas deliciosas. De repente entrou o chef Jean-Pierre Moullé, que comanda a cozinha do restaurante há anos. Ele inspecionou algumas coisas e foi sentar-se em uma das mesas com outras pessoas, certamente planejando a noite.
Subimos para o café, onde tivemos o nosso almoço. Infelizmente eu sou tímida demais pra sacar a minha camerazona dentro do lugar e tirar fotos indiscriminadamente. Simplesmente não rolou. E eu estava feliz da vida, curtindo a minha primeira visita ao Chez Panisse. Durante o almoço eu fiquei contando coisas sobre a história do restaurante pro Uriel. Percebi que nessa altura do campeonato, depois de ler tanto e tanto, eu sei absolutamente TUDO sobre tudo do lugar, só faltava mesmo estar lá fisicamente.
O café é maior que o restaurante, isto é acomoda mais gente. E tem um cardápio a la carte, que o restaurante não tem—lá o menu é fixo. Eu pedi o Zinfandel da casa, que tem toda uma história, que eu contei pro Uriel, e quis provar. Eu pedi uma ricota assada com folhas de alface da horta e um frango grelhado com brócolis ao vapor, molho de tomatillos e batata frita palha, que na realidade eram lascas finérrimas da batata, como papel de seda. O Uriel pediu uma sopa de couve-flor com iogurte e menta e depois um ravioli com espinafre e cogumelos, uma das massas mais delicadas que eu já vi. De sobremesa acertamos na mosca, o Uriel com uma bavaroise de baunilha com molho de fruta silvestre e eu com um sorvete de laranja cristalizada, que devoramos entre murmuros de puro prazer.
O Chez Panisse é a epítome de absolutamente tudo que eu sempre acreditei e pratiquei na minha cozinha. Come-se tão bem quanto em outros mil lugares, mas pra mim é a filosofia que envolve o restaurante que faz a diferença. Como eles põe em pratica a sustentabilidade, como insistem na qualidade dos produtos e como apoiam os produtores locais.
*quando chegamos em casa à noite, tinha uma mensagem do restaurante furão na secretária, se desculpando pelo inconveniente de termos dado com a cara na porta. aparentemente eles decidiram não abrir por causa de um problema de família.

fatos históricos que adoramos aprender

O restaurante Chez Panisse em Berkeley, Califórnia, serviu o seu primeiro jantar inaugural em 28 de agosto de 1971. O menu único teve pâté en croûte como entrada, canard aux olives e uma salada como prato principal, uma torta de ameixas de sobremesa e café. O preço, também fixo, era de $3.95. Alice Waters ainda estava martelando um tapete na escada quando os primeiros comensais começaram a chegar. Eram na maioria amigos e ela os recepcionou naquele dia usando um vestido antigo de renda beige. Um enorme vaso com flores decorava a entrada. Cinco garçons passaram a noite trombando entre si, enquanto tentavam servir os clientes jantando no pequeno salão, com poucas mesas arranjadas com toalhas xadrez de vermelho e branco, louça e talheres de segunda-mão descombinados. Os vinhos servidos naquela noite foram Mondavi Fumé Blanc, Mondavi Gamay e um Sauternes, Château Suduiraut, vendido por copo. A caótica cozinha foi comandada pela chef Victoria Kroyer. Antes de ser contratada por Alice, Victoria fazia pós-graduação em filosofia na UC Berkeley e nunca tinha trabalhado num restaurante. Sua única experiencia com culinária era os jantares que ela preparava na sua própria cozinha. No final da noite, 120 refeições foram servidas, nem todas foram pagas. Clientes aguardavam na calçada, quando Alice avisou—desculpem, mas não temos mais comida, voltem amanhã. Faltou talheres e no dia seguinte Alice percorreu todos os flea markets da cidade, buscando por mais talheres antigos e o número de garçons baixou para três, o que tornou o serviço mais eficiente. O nome Chez Panisse foi uma homenagem ao personagem Honoré Panisse da trilogia Marius, Fanny, and César do diretor francês Marcel Pagnol, de quem Alice era fanzoca.

and more, and more chicken!

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O restaurante Poulet em Berkeley, onde tivemos nossa aula de clara de ovo com a pastry chef Shuna Lydon é todo decorado com galinhas por razões óbvias. Achei tudo encantador, porque vocês sabem, eu adoro as galinhetes e coleciono algumas. Antes da aula começar fiquei fotografando, mas elas eram muitas! Pra minha surpresa, estavam à venda as d’ angolas brasileiras, aquelas com a ninhada penduradinha. Fui olhar o preço: 15 patacas americanas. Pois minha mãe comprou a mesmíssima galinha no Mercadão de Campinas, pra eu trazer pra sogra do Gabriel, e pagou meras 5 patacas brasileiras. A inflação deve ter ficado por conta do charme do restaurante, numa cidade também super charmosa, no norte da Califórnia. Só pode ser né? Pisc!

all about egg whites

Foi tudo ótimo! Dirigir até Berkeley papeando com Elise e Garrett, conhecer a Shuna, e aprender coisas incríveis sobre ovos, que vou com certeza aplicar no meu dia-a-dia. Passamos uma tarde agradável no restaurante Poulet, ouvindo a pastry chef falar com tanto conhecimento, e fazendo na nossa frente algumas sobremesas simplesmente dos céus. Shuna Lydon é uma mulher pequena e magrinha, mas cheia de firmeza e personalidade. Perto dela me senti uma ervilha, tal a grandeza do seu talento e sabedoria. Eu absorvia tudo o que ela falava como se fosse uma esponja. Rimos e conversamos muito, no final quando saímos da cozinha e sentamos nas mesinhas do restaurante para saborear as delícias inenarráveis feitas pela chef durante a aula, conversamos muito sobre comida e principalmente sobre blogs.

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Tem um aspecto muito interessante na a minha participação no grupo de food bloggers americano. Eu não escrevo em inglês por razões que desfio sempre que encontro com alguém pela primeira vez: eu não tenho tempo pra escrever uma versão do blog em inglês; e acho que escrever em inglês vai me transformar em simplesmente mais um blog, pois acho muito difícil traduzir com exatidão a minha personalidade na escrita do português, vou perder um pouco do meu estilo, vou ficar pasteurizada, porque definitivamente meu chucrute não é sauerkraut! Mas o mais incrível disso tudo é que quando eu digo isso, os food bloggers que escrevem em inglês concordam comigo e apoiam essa minha decisão, o que não os impede de me considerar parte do grupo e de me incluir nos encontros e eventos. Me sinto super a vontade com eles, mesmo sabendo que a maioria nem consegue me ler. Pra mim isso é no mínimo, o máximo!
* menu da aula: floating islands e pavlovas leves como plumas servidas com um bolo finíssimo de baunilha, chantily sem açúcar e molho de framboesas orgânicas. a chef também fez um marshmallow maravilhoso, que derretia na boca e tinha o perfume e o sabor adocicado do néctar de agave, que ela usou no lugar do corn syrup. divino! fiquei sem palavras…
** mais fotos AQUI.