Os comedores de milho

Passei o final de semana de óculos, lendo o livro do Michael Pollan, The Omnivore’s Dilemma [O Dilema do Onívoro]. Terminei o primeiro capítulo, onde ele faz uma analise criteriosa da alimentação predominante neste país. Pollan faz primeiro um restrospecto, chegando à base de todo o sistema e parte dali para fazer uma desconstrução minuciosa de todo o processo que termina na nossa mesa e estômagos. O retrato que ele pinta é terrivelmente assustador. Eu diria que The Omnivore’s Dilemma poderia ser comparado com Sugar Blues do William Dufty, o livro demonificando o açúcar que foi um marco para a época [década de 70/80]. Claro que o livro de Pollan é muito mais elaborado e critica toda a indústria de alimentos, não somente um setor, como foi o caso do livro do Dufty.
Como já iniciei o segundo capítulo, percebi que ele não vai ficar só criticando em vão—apesar que vai ousar mais um pouco, metendo a boca na indústria dos orgânicos, bem representada pela rede Whole Foods. Pollan vai mostrar que há alternativas. Já vi esse livro ser mencionado por muitos food bloggers, já li que ele é um best-seller, o autor fez palestras aqui na UC Davis [ele é professor na UC Berkeley], o livro já foi discutido em colóquios e seminários sobre agricultura sustentável. E ouvi dizer que muita gente mudou a maneira de se alimentar depois de ter lido The Omnivore’s Dilemma. No meu caso de pessoa super impressionável, eu pressinto que haverão algumas mudanças que estavam na portinha de acontecer, só faltavam um pequeno empurrãozinho. Há tempos que venho tentando estender minhas compras de orgânicos também para carne e frango. Frango que não foi confinado e injetado com antibióticos e boi que pastou, não teve que fazer a dieta do milho.
Milho! Essa é a palavra chave do primeiro capítulo do The Omnivore’s Dilemma. Tudo de errado que temos na indústria alimentícia da América do Norte é devido à esse grão, antes cultuado como alimento sagrado pelos indígenas das Américas. Hoje o milho é a base de tudo, tanto da alimentação dos animais que vamos comer, como dos ingredientes de quase absolutamente tudo o que ingerimos. Pollan traça um paralelo entre a política da agricultura e o estilo de vida norte-americano. O estilo de escrever de Pollan é considerado por muitos como “advocacy journalism”, onde o objetivo final é provar um certo ponto de vista. Se você ler o livro, vai perceber isso facilmente. Mas pra mim, o mais importante é alguém trazer ao público certas informações sobre a industria dos alimentos, que poderíamos passar a vida inteira sem saber.
A parte do livro mais difícil de ler até agora, foi a que ele descreve como o gado é criado para virar bife. Ele comprou um novilho, que acompanhou durante o processo de engorda. Fiquei o final de semana todo refletindo sobre o que estava lendo e repassando os fatos pro Uriel:
—você sabia que os hamburgueres das redes de fast-foods são feitos com basicamente carne das vacas leiteiras que estão muito velhar pra parir e produzir leite?
Alguma coisa vai mudar. Ou melhor, com certeza alguma coisa já mudou.

14 comentários em “Os comedores de milho”

  1. Fer, eu fiz a capa e o projeto grafico da edição brasileira deste livro (O Dilema do Onivoro), que vai sair aqui pela editora Intrinseca já por agora, acho que em junho.
    Entao li o livro quando estava trabalhando nele… olha, fiquei muito impressionada, a gente sabe que essas coisas são assim mas a vida de hoje criou uma distancia tao horrivelmente grande entre o nosso prato e o pasto que tudo fica meio enevoado e é preciso vir um sujeito e fazer uma pesquisa dessas para dar um choque de realidade. Alguma coisa mudou em mim tambem depois de ler esse livro.
    beijo, M.

  2. No “Fast Food Nation” a descrição de como é feita a carne de hamburger é tão… tão… que passei quase dois meses sem comer carne.
    O problema do milho e o high furtose corn syprup, não é? Li uma vez um blog no qual a autora contava a dificuldade que era comprar algo sem o produto, era uma maratona, ela trabalha e não tinha muito tempo para cozinhar, as opções eram poucas.
    Bjs bjs

  3. Fer, gostei do post e mais ainda do seu comentatio ai em cima (ao ai embaixo! hehe!).
    Realmente, eh uma questao de estar consciente, creio q a esmagadora maioria de nos nao tem a menor nocao da maneira em q as industrias de producao manipulam desde o mais simples grao ate um animal de grande porte.
    Eh realmente impressionante, mas seria bom se pelo menos um pouquinho disso tudo pudesse ser exposto… muitos olhos seriam abertos e como vc mencionou: mudancas sem duvida iriam ocorrer!
    Eu tento me informar, aprender, conhecer o q acontece, mas infelizmente os q estao a minha volta as vezes preferem a ignorancia, e no fim a criticada sou eu…
    Coloquei esse livro em hold na library, mas ainda estou em numero 23… espero q nao demore tanto a chegar quando estou imaginando.
    Estou curiosa p/ ler, e quem sabe nao consigo fazer meu marido ler tbem… que otimo seria ele tbem abrir os olhos e me ajudar nas mudancas q tbem circundam minhas ideias!
    Depois me conta mais conforme vc for lendo o livro, please!!! (enquanto o meu nao chega, ne! hehe!)
    Beijao!
    Ana

  4. Isabella, pra gente poder agir positivamente, tem que primeiro ficar consciente do que esta errado. E nao eh mais so sobre saude das pessoas e essa epidemia de obesidade que infesta este pais, os canceres e doencas do coracao. Tem tambem os danos ambientais e economicos, os efeitos nas comunidades, nos individuos, na cultura, nos habitos, no paladar, na maneira de ver o mundo. Tudo esta completamente interligado.
    beijao! 🙂

  5. Ai, não sei se foi nó na garganta ou na barriga … eu sou ultra impressionável também, não sei se a leitura ia me fazer bem ou mal. Espero que te faça apenas bem!
    Fiquei pensando em dois dos muitos exemplos de vida que eu tive: o avô do meu marido que foi vegan a vida toda e morreu com 86 anos de velhice. E o meu antigo mestre de kung-fu que além de fumar come bastante chocolate e junks e tam uma saúde de ferro (vai ver ele sabe para onde canalizar a fumaça e o que come).
    Abraço e obrigada pela dica de leitura!

  6. Oi, Fer. O cerne dessa discussão toda está numa disciplina (super desenvolvida na Itália) chamada Bioética. É super interessantes mesmo. Se descer mais um pouco na ‘descontrução’ (gosto dessa palavra 🙂 ) a questão está nos transgênicos baseados na soja e milho – que é a base da alimentação mundial, né? E desde os primórdios os estudiosos da área diziam que só em 10-15 anos os efeitos dessa produção em larga escala seria sentido. Acho que chegamos nessa época. Um abraço.

  7. ai Fer, que coisa não! é tão bom ter acesso a essas informaçoes omitidas pelas industrias, governos e enfim…com livros e debates como este podemos fazer nossa parte, e ajudar pelo menos um pouco neh…abrigada pelas informações. bjimm

  8. Muitat interessante este teu texto. Já ouvi falar muito neste livro. E achei interessante o que mencionas sobre o molho . A minha grande paranóia é o fato de que hoje em dia, pelo menos na Europa, tudo praticamente tem soja. E assustador. Mas isto é assunto para outra vez.Valeu muito esta leitura.

  9. Infelizmente, mais uma vez, o dinheiro prejudica o homem. Me diga, se o homem não tivesse preocupado com grana, você acha que ele faria isso com a alimentação dos seus semelhantes?!
    Bem.. Mais uma vez o dinheiro mostra os prejuízos que causa para a sociedade – e para seu estômago também!
    Fiquei curioso! Irei comprar The Omnivore’s Dilemma *-*
    Brigado pela dica de Livro, Fer!
    Beijos e boa leitura,
    Luiz

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