Dia de rango brejeiro

Eu sou expert em preparar rangos brejeiros, que é como eu chamo aquela comida frugal, feita com ingredientes comuns, e de preparo simples. Pra mim o rango brejeiro funciona até como comfort food, para aqueles dias quando você precisa de uma comida nutritiva, saborosa e rápida, sem firulas, sem trélelês e, principalmente, sem receita. Como ontem cheguei do trabalho e tive que ir ao supermercado – ôô tarefa odiosa – para comprar comida para os gatos, mais pão e leite, encurtei meu tempo na cozinha. Eu tenho um time frame para as minhas cozinhanças durante a semana. Gosto de jantar cedo, porque é melhor para a digestão e também porque tenho fome cedo. Gasto no máximo uma hora e meia nas preparações – geralmente das 5:30 às 6:30 pm. Não dá pra inventar muito, mas há dias e há exceções. Mas nos dias em que o tempo está curto e a fome está grande, tento tirar da manga da camisa variações do tal rango brejeiro. É vapt-vupt. O de ontem foi:

Arroz branco:
Sempre que digo arroz por aqui, é o basmati. Faço o arroz de preguiçoso, que dá até vergonha de dar receita, mas valá, é sempre 1 xícara de arroz lavado, uma pitada generosa de sal, uma pitada generosa de alho seco em pó, uma colher de chá de óleo, 1 1/2 xícara de água. Fogo alto até ferver. Dai abaixo o fogo, tampo a panela e em cinco minutos o arroz está pronto. Deixo descansar uns minutos com a panela tampada. Usando o basmati, essa receita faz um arroz sequinho e soltinho. Impressionante!

Bife acebolado:
Tempero os bifes fininhos com sal grosso e pimenta do reino moída. Deixo descansar uns minutos. Aqueço um pouco de óleo numa frigideira larga com tampa. Ponho os bifes, deixo fritar de um lado, viro, tampo a panela – vai juntar água, mas logo seca. Fico de olho, quando os bifes ficam dourados e começa a formar aquele molho escuro, jogo uma cebola grande cortada em fatias grossas. Tampo, vou mexendo de vez em quando, até a cebola ficar cozida e com uma cor dourada. Super simples, super bom pra comer até com pão.

Espinafre refogado:
Como eu lavo todas as verduras quando pego a cesta na segunda-feira à noite, tenho o espinafre já lavado e drenado guardado em sacos fechados. Aqueço azeite numa panela [uso as de ferro], ralo uns dentes de alho em láminas finas, refogo no azeite, adiciono o espinafre, salgo, deixo murchar bem. Nesse espinafre acrescentei um pimentãozinho vermelho picadinho em cubinhos pra refogar junto com o alho.

Salada de tomate:
Corte tomates em rodelas finas, pique cebolinha francesa e jogue por cima. Tempere com sal marinho, azeite extra-virgem e vinagre de vinho.

um pavê de morangos

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No sábado comprei três caixas de morangos no Farmers Market. Já está no final da temporada e as frutinhas já não estão tão bonitonas. Comprei assim mesmo, pois pensei que poderia ser a minha última chance. Daí no domingo inventei de fazer um pavê. E fiz. Sem receita. A La Fezoca Mode.
Preparei um creme com duas xícaras de leite onde fervi uma fava de baunilha [tirei as sementes antes], acrescentei uma lata de leite condensado, uma de creme de leite, duas gemas de ovos e uma colher de sopa de maizena.
Emergi biscoitos champagne numa mistura de leite com limoncello. Fui fazendo as camadas – biscoitos embebidos, creme, morangos picadinhos. No final cobri com um ganache de chocolate – chocolate amargo derretido e misturado com creme de leite fresco. A cobertura de chocolate é dispensável, já que para o meu gosto ela ficou um tanto pesada.

todo dia eles fazem tudo sempre igual

Meus dias se iniciam às seis e meia da manhã, que nem consigo dizer ‘manhã’, pois ainda está escuro. Vou para a cozinha com dois gatos pulando entre as minhas pernas. Ponho uma xícara com água no microondas pra fazer meu café com leite e um waffle na tostadeira. Vou até a laundry e pego os potinhos e a lata de rango felino. É um excitamento, uma coisa tão dramática que dá a impressão que os bichos ficaram uma semana sem ver comida. Eles correm pra laundry quando me vem caminhando pela cozinha com os potes e se arranjam no tapetinho, sempre na mesma posição: Roux pra direita, Misty pra esquerda. Volto pra cozinha, termino de preparar meu café, que é minguado, pois todos já sabem que não tenho apetite logo que acordo. Sento e bebo o café com leite enquanto leio e-mails, bloglines. Enquanto isso os mortos de fome devoram o rango, o Roux tudo de uma vez só, o Misty fazendo pausas de lord pra lavar as patas, como quem usa um guardanapo de linho. Eu ainda estou na cozinha lendo quando começa a função do banheiro. Todo dia é a mesma coisa e todo dia eu fico rindo alto, considerando o meu permanente mau humor matinal. Primeiro vai o Roux, que faz tudo escandalosamente. Esse gato não faz nada discretamente – come fazendo barulho, caga e mija fazendo barulho, até para andar pela casa ele faz barulho. No banheiro dá a impressão que ele vai virar a caixa de cabeça para baixo. Finalizado a aliviação geral da fome e dos intestinos, ficam os dois caminhando pela casa, como que procurando coisas pra fazer. Se encaram, o Roux dá pulinhos, tenta dar um bote no Misty, que sai correndo injuriado. Um tédio de vida…. Nessa altura já são sete e alguma coisa e eu subo pra tomar banho, me arrumar. Rotina de gato é divertida de se observar, mesmo com um humor azedo, às seis da madrugada.

waste no more!

New Technology Turns Food Leftovers Into Electricity, Vehicle Fuels
Restos de comida doados por alguns restaurantes localizados na Bay Area – região de San Francisco – serão transformados em energia limpa e renovável através do Projeto Biogás Energia, desenvolvido por uma colega do meu marido no departamento de Engenharia Agrícola daqui da Universidade da Califórnia. Cascas de laranja e batata produzindo eletricidade. Esse tipo de pesquisa joga literalmente uma luz no panorama tenebroso que eu visualizo para o futuro da humanidade.

um concurso de chili

Ontem tivemos duas festas para ir. Uma foi um Chili Cookoff with Bluegrass, na casa de um professor da UC Davis. Ele é o guitarrista da banda de bluegrass que tocou durante a festa. Mas o evento – além do encontro de amigos – era um concurso de chili. Os contestantes teriam que levar uma receita especial que seria provada e votada, a mais criativa, a mais saborosa, a mais apimentada! Haveriam prêmios. Nós ficamos para ouvir o bluegrass, que eu adoro. Provei dois dos chilis também. Eu não sou muito fanzoca dessa comida, mas conversei com o autor de uma das receitas e achei que ele foi muito inovador usando limão e laranja nos temperos. Perguntei se a receita era dele, e ele respondeu – que nada, eu sou um tipo de cozinheiro do Joy [of Cooking]. Ele usou uma receita básica do livro Joy of Cooking, e acrescentou o toque pessoal. Era um chili vegetariano. Hoje fui correndo procurar a receita!

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A banda Chicken Tractor tocou no evento do chili. Essa foto é de uma outra festa, pois ontem eu não levei a minha câmera. Eles ainda têm um baixista e um bandolinista.
A receita básica de Chili con Carne do Joy of Cooking:
Derreta 2 ou 3 colheres de sopa de gordura de bacon ou manteiga. Acrescente 1/2 xícara de cebola picada e/ ou 1/2 dente de alho picado. Refogue. Adicione 1 quilo de carne moiída [vaca ou carneiro]. Refogue até a carne ficar cozida. Adicione 1 1/2 xícara de tomates em lata, 4 xícaras de feijão cozido – Kidney é o mais comum, mas qualquer feijão funciona – no cookoff de ontem, uma das receitas levava feijão branco, 3/4 colher de chá de sal, 1/2 folha de louro, 1 colher de chá de açücar, 1/4 xícara de vinho tinto sêco, 2 colheres de chá ou de sopa – conforme a resistência e o gosto – de pimenta em pó – chili powder – aqui também o céu é o limite, pois o chili powder pode [e deve] ser substituído por pimenta fresca, as jalapeños, por exemplo. Cubra e cozinhe por no mínimo uma hora. Quando mais cozinhar, mais grosso e saboroso o chili vai ficar. Pode preparar um dia antes. Servir com tortilas ou pão de milho, sour cream, queijo amarelo ralado, azeitonas pretas picadas, coentro, cebola picada.
Muitos contestantes trouxeram o seu chili na panela elétrica – slow cooker. Alguns tinham carne, outros eram vegetarianos – que que fez muito o meu gosto! O chili do rapaz que usou essa receita básica do Joy of Cooking não tinha carne e ele temperou com o suco e as raspas de uma laranja e um limão. Usou as jalapeño peppers. Ficou bem picante, mas com um sabor de cítricos acentuado que eu gostei muito!