gelatina de blackberries com vinho tinto

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Eu não sou a mulher das sobremesas—nem para fazer, nem para comer. Mas ontem fiz um jantar especial e quis finalizar com uma sobremesa bonita, gostosa e refrescante. Tirei essa receita da edição de agosto de 2005 da revista Martha Stewart Living. A aparência da gelatina fica bem estranha, até na foto da revista estava um pouco esdrúxula, mas o sabor fica bem interessante, lembrando um pouco o sagu de vinho da minha infância, porém com uma textura muito mais aveludada e o detalhe saudável e bonito da fruta.
Apesar da receita ser simplésima, eu me contive de ir fazendo tudo da minha cachola e segui fielmente a receita. Por causa disso—a disciplina—rolou um estresse na cozinha, fiquei irritada, até quebrei um copo. Eu sou mesmo uma iindisciplinada, mas poderia ficar melhor se fizesse um treino de seguir uma receita de poucos passos como esta pelo menos uma vez por mês.
Blackberry-Red Wine Gelatin
[Serve 4 pessoas]
1/4 de xícara de suco de maçã
1 colher de sopa, mais uma colher de chá de gelatina em pó sem sabor
1 xícara de um vinho tinto bem encorpado, como Zinfandel
1/4 xícara, mais 1 colher de sopa de açúcar
2 xícaras de blackberries
1/2 xícara de blackberries para enfeitar
Folhas de hortelã fresco para enfeitar
Prepare uma bacia com água e gelo. Deixe de lado. Numa vasilha adicione 1/2 xícara de água, mais o suco de maçã e polvilhe a gelatina nessa mistura. Deixe incorporar. Enquanto isso misture numa panela o vinho e o açúcar. Deixe ferver, mexendo de vez em quando para o açúcar dissolver. Abaixe o fogo e acrescente as blackberries. Deixe cozinhar por 5 minutos. Retire do fogo e coloque na bacia de água com gelo para resfriar. Despeje a mistura num pirex e ponha na geladeira até ficar bem firme. Na hora de servir, corte a gelatina em cubos, coloque numa tijela bonita e enfeite com o restante das blackberries e as folhas de hortelã.

hollywood sempre entorna o caldo

Mania irritante esta que Hollywood tem com os remakes. Um filme estrangeiro faz sucesso, lá vem os produtores com suas idéias abestalhadas. Berlim vira Los Angeles. Acabei de ler que a Catherine Zeta-Jones será a perfeccionista chefe Martha, no remake de Mostly Martha. Não sei como os espiritos-de-porco nunca tiveram a brilhante idéia de remake A Festa de Babette. Não seria o máximo a Meryl Streep de Babette, preparando um banquete numa pequena cidade do Iowa?

Beware of the cook!

Quem me conhece de outros carnavais ou pelo menos leu a minha pequena apresentação, já tem uma idéia do tipo de cozinheira que eu sou. Desengonçada, atrapalhada, esquecida… Não tem jeito. Eu inocentemente achava que ter um laptop na cozinha iria diminuir os recorrentes episódios pastelônicos, quando eu descia as escadas quase rolando para tentar salvar o rango já destruido. Quem nasce Didi Mocó nunca chegará a Nigella.

Hoje saiu a pele da minha mais recente queimadura na mão direita. Vai ficar uma cicatriz. Mais uma. Minha mão direita é franksteiniana. Olhando pra ela, me lembrei de muitos dos acidentes que eu já tive na cozinha. Meu marido vive em sobressaltos, principalmente quando eu estou usando facas para cortar coisas. Me pelar, queimar, cortar, ralar, isso é cotidiano e não significa nada. Duro é quando eu acabo no hospital.

Duas cicatrizes que eu tenho na perna foram feitas na cozinha, uma delas abrindo uma gaveta, na outra abrindo uma gaveta com uma faca na mão.

A queimadura séria que fiz na mão vinte anos atrás e que ainda tenho as marcas aconteceu num dia quando eu precisava lavar a louça, fazer comida para o Gabriel e ainda tinha que ir à uma aula na universidade. Eu precisava me organizar, focalizar nas tarefas e me apressar, mas sei lá por que demônios resolvi em cima de tudo aquilo ainda fazer um pudim. Tropecei num tapete com a forma cheia de caramelo quente e não lavei a louça, meu filho ficou sem comer, não apareci na universidade e acabei vocês sabem onde.

O corte que abriu meu polegar, cortou um nervo e ainda formiga, eu fiz tentando tirar um queijo grudado de um prato de cerâmica – esses são um perigo! Foi uma correria, uma sangueira, até hoje eu tremo quando vejo um dos pratos, que guardei no fundo do armário.

Será que eu tenho jeito? Ainda serei uma cozinheira organizada, atenta, cuidadosa? Talvez só na outra encadernação, né?…. hm, snif, êpa, peraí acho que tem algo queimando!

Um jantar simples e saboroso

Fui jantar com meus amigos Allan & Alison. Levei uma salada de frutas e um vinho branco excelente de uma vinícola costal de Monterey. Eles prepararam um banquete, com cevada e lentilhas, acompanhados de uma maravilhosa versão de salada grega. Tudo integral, orgânico, natural. Os verdes da salada – rúcula e uma variedade de alface picante que eu não conhecia – foram colhidos fresquinhos da horta da Alison. A salada também tinha tomate, pepino, cebola roxa e queijo feta. Não perguntei como ela fez o molho, mas estava delicioso. A cevada, feita na panela de ferro, foi o complemento ideal pras lentilhas. Essas merecem um capítulo especial, que virá em breve. As lentilhas foram preparadas no fogão solar, que é um tipo de uma caixa de papelão sem tampa, toda forrada de papel alumînio. Você pode comprar ou fazer a sua, de papelão ou madeira. É ideal para os verões tórridos que temos aqui no Sacramento Valley. Ótima maneira de aproveitar as temperaturas altas e cozinhar sem esquentar a cozinha! Um detalhe extra na receita das lentilhas, além do fato delas terem sido cozidas ao sol, foi o acréscimo de alcaparras. Elas ficaram com um sabor bem interessante e diferente.

salada de batatas ao iogurte

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Quando eu começo a receber batatas na cesta orgânica, fico entusiasmadissíma, pois essas são as batatas mais saborosas que existem. Colhidas de manhã cedo, preparadas e devoradas à noite, não tem igual! Eu normalmente faço receitas simples com elas, porque se encher muito de coisarada e tempero acaba escondendo o sabor natural. Geralmente eu corto elas ao meio e refogo no fogo alto, em bastante azeite, até ficarem crocantes. Ou faço uma salada, cozinhando as batatas cortadas e depois temperando com uma mistura de maionese, limão e mostarda. Ontem resolvi inovar e fiz a salada de uma maneira diferente.

Cozinhei as batatas com casca em água por uns 20 minutos. Escorri e deixei esfriar. Com o cozimento, a casca racha e abre, o que facilita o despelamento. Enquanto a batata esfriava preparei um molho. Numa vasilha coloquei três colheres de sopa de iogurte natural, uma colher de sopa da maionese, uma colher de chá de mostarda picante, sal, um fiozinho de azeite. Misturei bem com o batedor e acrescentei uma colher de sobremesa de queijo parmesão ralado e bastante garlic chives [*alguém sabe a tradução para o português desse cebolinha bem fininha?]. Misturei bem e deixei separado. Descasquei as batatinhas com as mãos. Não me preocupo muito se ficar uma casquinha ali, outra aqui. Coloquei as batatinhas descascadas no molho e misturei bem para incorporar. Servi acompanhando umas salsichas recheadas com maçã, que eu cozinhei na água e depois fritei ligeiramente no azeite.

macarrão frio com abobrinha

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A preguiça é a mãe da invencionice. Muitas abobrinhas na geladeira, mais calor, mais falta de vontade de cozinhar é igual a receita de macarrão frio.

Numa vasilha grande rale duas abobrinhas médias e tempere com sal, pimenta do reino, azeite e um pouquinho de vinagre balsâmico. Cozinhe duas porções de macarrão parafuso em bastante água e sal. Coe e reserve.

Junte à abobrinha ralada: umas azeitonas pretas picadas, uns tomates secos picados, uns tomates cerejas picados – parece redundante acrescentar duas variedades de tomates, mas faz sentido no sabor, um pedaço pequeno de queijo Stilton picadinho, umas folhas de basilicão.

Junte o macarrão parafuso cozido e frio com a mistura de abobrinha. Mexa bem para incorporar os temperos e sirva.

Aioli Bodega Española

Fomos celebrar a minha estabilidade profissional num pequeno restaurante espanhol, que tomou o lugar do simpático Café California, onde estivemos algumas vezes saboreando a simples e saborosa California cuisine. Eu tinha ouvido que não se deveria atrever a chegar no Aioli Bodega Española sem uma reserva, já que o restaurante estava atraindo pencas de gente. Fizemos reserva, mas não achamos que fosse imprescindível, pois o lugar não estava lotado.
A reforma transformou o ensolarado café numa escura bodega. Ficou legal, um ambiente aconchegante. Taças de vinho com velinhas penduradas em arames de cobre, faziam a iluminação. Toalhas de saco de batata rústico cobertas por papel marrom nas mesas. No menu uma extensa lista de tapas frios e quentes. Muitos pratos com peixes e frutos do mar, e é claro, a sempre presente paella – regular e vegetariana, pois estamos em solo californiano.
Pedi uma taça de um vinho português, coisa raríssima por aqui. Fomos de salada de endivas com queijo e amendoas tostadas, e bistecas de carneiro, acompanhadas de espinafre refogado e batatas com um molho vermelho de paprica picante. Na sobremesa, pedimos um creme de laranja muito parecido com um crème brûlée. Um jantar bem agradável, e ainda ouvimos um “muchas gracias” na despedida. Ambientação perfeita, quase pensei que iríamos sair para alguma ruela medieval na Espanha, e não na moderninha calçada de downtown de Davis.