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No Tucos com Lud & Luis
Desta vez eu não fui a lugar nenhum, fiquei aqui mesmo e foi eles que vieram até Davis pra me encontrar. A Ludmila e o Luis chegaram ainda pela manhã e sentamos na sala para conversar e bebericar limonada, até que o Uriel apareceu e fomos todos à pé até o Tucos, onde tínhamos combinado de almoçar juntos. O Tucos é o meu lugar favorito aqui em Davis para comida da melhor qualidade, então foi a escolha perfeita para recepcionar dois foodies on the road pela Califórnia! Nosso almoço foi longo, saboroso, com muitos pratos que devoramos com prazer, regado a uma garrafa de um delicioso syrah de Paso Robles. Eu tinha planejado levá-los para um tour pelo campus da UC Davis e depois dar uma passadinha no escritório do Schwarzenegger, o Capitol de Sacramento, e fazer uma caminhada pela sugestiva Old Sacramento, mas sentamos para tomar um chá e o conversê foi avançando animado, que quando vimos já era noite e hora deles pegarem a estrada de volta a Santa Rosa, onde estavam hospedados. Três jornalistas, duas blogueiras, deu pano pra manga pra muito papo divertido. O Uriel só nos acompanhou no almoço, atrapalhado que está na véspera de mais uma viagem. O Misty fez os salamaleques receptivos e o Roux se fingiu de difícil um pouquinho, mas acabou socializando com os donos do Gaston. Gostamos muito de conhecer pessoalmente a Ludmila e o Luis, um casal tão simpático e com tantas coisas em comum, que dá até pena pensar que eles moram tão longe—ou melhor, longe estamos nós, que viemos amarrar o nosso burro neste outro lado do mundo!
mandarins satsuma
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Da fazenda de Mike e Debbie Ariza, em Orland, Califórnia
sol [alecrim & pimenta]
salada de feijão e atum
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Neste preciso momento da minha vida, meu mantra tem sido um suspiro seguido da frase—que cansaço! Portanto minhas peripécias na cozinha não têm sido muito ousadas. Um jantar foi somente essa salada de feijão Spana [conhecido também por Butter beans] que tinha sido cozido na noite anterior na panela de terracota [onde eu sempre cozinho meus feijões] e temperados um pouco antes de servir com flor de sal, vinagre de vinho branco, bastante [bastante mesmo!] azeite, um punhado generoso de ciboulettes picadinhas, outro punhado generoso de salsinha picadinha, algumas azeitonas pretas descaroçadas e uma lata do melhor atum preservado em azeite que seu dinheiro puder comprar. Misturar bem e servir com fatias de pão francês.
golden delicious
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suflê de abóbora
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Estou no ponto de sair por ai gritando—não quero ver mais nem uma mísera abóbora na minha frente, apodreçam todas as abóboras do mundo! Essa coisa de dieta sazonal tem um lado odioso, pois a repetição enfadonha de um ingrediente pode incitar uma revolta e um entojo gastronômico até no mais zen dos comensais.
Não sei realmente explicar qual foi a força sobrenatural que me fez folhear os livros da minha estante procurando por uma receita de suflê, sendo que esse é um prato que nunca me seduziu. Deve ter sido o desespero de consumir rapidamente as desgostosas e abundantes abóboras, que fez eu me aventurar por caminhos nunca antes percorridos.
A receita da Lulu Peyraud publicada no livro Lulu’s Provençal Table do Richard Olney, era para um suflê de batata. Devo ter feito qualquer erro na adaptação—nenhuma surpresa até ai. Devo ter colocado mais abóbora do que a receita pedia, na ânsia de gastar as dita cujas. E acho que bati as claras em neve um pouco além da conta. Tive aquele problema clássico dos suflês, que poderia ter acontecido em qualquer cozinha, e fatalmente aconteceu na minha. Fiz um suflê de abóbora murchinho, mas que ficou bem comível e até que bem saboroso. Um suflê com defeito, que por isso mesmo combinou perfeitamente com a minha cozinha imperfeita.
suflê de abóbora
800 gr de abóbora cortada em cubos
6 colheres de sopa de manteiga
1 xícara de leite quente
Pimenta e noz moscada moídas
1/2 xícara de queijo parmesão ralado
3 ovos, gemas e claras separadas
Sal a gosto
Pré-aqueça o forno em 400ºF/ 205ºC. Cozinhe a abóbora como quiser—eu fiz no vapor—depois passe pelo food mill, ou amassador de batatas. Junte a manteiga, o leite, adicione a pimenta, noz moscada. Coloque as gemas batidas, o queijo e sal a gosto. Bata as claras em neve e junte à mistura de abóbora. Coloque numa forma de suflê bem untada. Como eu não tinha forma de suflê usei ramequins. Asse por 25 minutos. Sirva imediatamente.
esse vai-e-vem que nunca enjoa
Todo ano eu faço uma caminhada pelo Arboretum para fotografar a beleza do outono. Todo ano eu publico essas fotos do outono nos meus blogs. Quem me acompanha há um certo tempo já notou, e eu fico pensando em dúvida se alguém ainda quer ver fotos de folhas? Folhas de outono de novo? Mas não parece que foi ontem que publiquei fotos idênticas? Será o benedito que todo ano vou fazer sempre igual?
Com toda sinceridade, me agrada muito esses ciclos que regulam as nossas vidas, mesmo que isso signifique que vou escrever sobre os mesmos assuntos e registrar as mesmas imagens, entra ano, sai ano. Quantas fotos de tomates, flores, pêssegos, abóboras e folhas de outono já publiquei nesses últimos anos? Quantos verões, quantos outonos, invernos e primaveras? Algumas viagens, novos amigos, mudanças de hábitos ou de rotina. Felizmente está tudo documentado, para se lembrar e relembrar. Como se estivessemos folheando um álbum de fotos de família, com as mesmas caras habituais, um pouco mais velhas, com cortes de cabelo e roupas diferentes, alguns acréscimos, outras subtrações, mas todos sempre presentes nas mesmas celebrações, os aniversários, as viagens de férias, os natais.
Por aqui todo ano começa a esfriar e as folhas das árvores ficam amarelas, vermelhas, douradas e caem, coloco meias nos pés, acendemos a lareira, um gato quase queima os bigodes, alguém assa um peru que dividimos com a família no dia de agradecer, ficamos com dor no lombo varrendo e empilhando folhas no quintal, começa a chover, tiro fotos dos enfeites de Natal que ajeito pela casa de véspera, publico um cartão e desejo tudo de bom para todos, depois de tantas celebrações fico aliviada quando o ano se inicia, como nove sementes de romã, reclamo que não pára de chover, reciclo, recrio, me animo com a chegada da primavera, encho o saco da humanidade com as minhas fotos de flores e, principalmente, das rosas. O jasmim abre e o cheiro das suas flores perfumadas impregna o ar, capino a horta, planto tomates, as pestes chegam devagarzinho. O Gabe faz aniversário, faço o meu próprio breakfast no dia das mães, reclamo que está ficando muito quente, ando descalça, arranco mais mato da horta, detono algumas pestes e colho tomates, o Uriel viaja, viaja, viaja e eu reclamo mais um pouco de estar sozinha e do calor, as aulas e o ano recomeçam na UC Davis, eu aguardo ansiosamente uma brisa de outono, faço compras, combino uma social com os amigos, vou dançar o Blues, reflito sobre o envelhecimento quando meu aniversário aponta na esquina, comemoro mais um ano de vida, e mais um ano de blogagens, compro doces pras crianças, começa a esfriar, troco as roupas leves pelas quentes no armário, coloco meias nos pés, fecho as janelas, vejo as folhas amarelas entupindo as calhas da casa, lembro que preciso ir fotografar o outono no Arboretum, vou caminhar e encontro os limões cravo, publico as fotos das folhas, mais uma vez, mais um ano, mais um outono.
