couscous israeli com ervilhas

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Tive um dia atribulado, daqueles em que à medida que as noticias vão chegando, você só sente vontade de sentar [ou deitar] e chorar. No meio da manhã bradei bem alto, assustando minha chefona que trabalhava concentrada—VAMOS TER QUE ASSALTAR UM BANCO! Porque é tanto quiprocó burocrático e gastação ridícula de dinheiro no processo de vender uma casa e comprar outra que nem sei. Gostaria de estar tendo tempo para fazer um diário e registrar todos os passos, todos os afazeres, os corre pra lá e corre pra cá que envolvem uma mudança. Sem falar na montanha russa emocional, que está realmente desgastante. A tristeza de deixar a casa antiga, com a excitação das novidades da casa nova. Tem dias que me pego falando alto e sozinha, no mais completo transe de mulher endoidecida.

Neste dia particular, em que todas as notícias de quanto iríamos gastar nas reformas e consertos foram chegando de solavanco, fui almoçar em casa e [bah] constatei chocada que não tinha absolutamente nada pronto para comer na minha cozinha. Nem mesmo um pão com queijo. Na verdade até tinha pão, mas não tinha queijo. Fiquei uns minutos zanzando pela cozinha, até decidir colocar uma panelinha com água e sal no fogo. Qualquer massa funcionaria bem. E as ervilhas congeladas foram a segunda opção. Decidi pelo couscous israeli que cozinha rápido. Então foi só cozinhar a massinha na água com sal fervendo e no final juntar um tanto de ervilhas congeladas. Escorrer tudo, temperar com sal, pimenta do reino moída e um fio de azeite extra-virgem, misturar e servir bem quente. Deu um almocinho bem reconfortante que me ajudou a enfrentar o resto do dia. Ready for second round!

pasta com aspargos & favas

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Está bem perceptível a minha falta de vontade de ficar na cozinha, porque neste momento preciso mesmo é estar fazendo outras coisas, como empacotar meus 87554 suéters de lã, os 54322 casacos de inverno, minha coleção de copos de martini e de margarita, meus 98875 pratos, pratinhos, pratões, travessas, saladeiras, a extensa coleção de jarras e bules, os zilhões de livros de culinária, eteceterá eteceterá. Já gastei bem uns dez quilómetros de plástico bolha na embrulhação. Mas isso não vem ao caso.

Embora eu esteja ocupada e focada em outras atividades, a cesta orgânica continua chegando semanalmente, trazendo os produtos da estação. Aspargos e favas não tem faltado e foi com esses dois ingredientes que resolvi fazer esse macarrão. O mais trabalhoso foi descascar as favas, que precisam sair de dois casulos para serem facilmente saboreadas. Mas esse trabalho vale a pena. Eu acho as favas um dos legumes mais saborosos que existem. E adoro usá-las em diferentes receitas, mesmo sabendo que vou perdeu um tempinho razoável na descascagem.

Para fazer esse macarrão, usei um maço de aspargos cortadinho, um maço de favas que cozinhei rapidamente numa panela com um pouquinho de água. Removi os feijõezinhos das vagens, depois removi a pele de cada um. Usei também um pouquinho de cream cheese temperado com sal, pimenta do reino moída e cibouletes picadinha diluido num pouco de creme de leite. Numa panela refoguei cebolinha picada, adicionei os aspargos, deixei cozinhar, juntei o cream cheese diluido no creme de leite, no final as favas. Depois é só jogar esse molho sobre o macarrão da sua preferência cozido al dente numa panela com bastante água e sal, misturar bem e servir, com queijo parmesão ralado por cima se quiser. Eu quis.

alcachofras cozidas

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Fiz essas alcachofras depois que vi um video do Michael Chiarello preparando as tais numa edição da revista Food & Wine para iPad. Ele descasca totalmente, tira o miolo espinhudo, mas preserva o caule, que é completamente comestível. ESTE VIDEO mostra o procedimento mais ou menos como o do Michael, com todo o trimming feito nas alcachofras, bom para quem nunca fez ou nunca viu. Fazendo assim fica muito mais fácil de comer e é uma opção para fazer com antecedência e guardar na geladeira para depois picar usar em patês e recheios ou servir como salada.

Corte a parte de cima da alcachofra com uma faca afiada. Corte também só a pontinha do caule. Descasque o caule com a faca. Vá removendo as folhas com as mãos, começando pelas inferiores. Se precisar, corte as pontas com uma tesoura. Corte as alcachofras ao meio, remova o miolo espinhudo com uma faca ou colher. Respingue tudo com limão. Coloque as alcachofras numa panela, regue com suco de limão e azeite, tempere com sal e pimenta e cozinhe por uns minutos na panela tampada, até as alcachofras ficarem macias, mas não muito moles. Sirva como quiser, com torradas, na salada, como acompanhamento, transformadas em recheios, eteceterá.

Eu preparei uma salada usando uma abobrinha bem pequena [a primeirona que chegou este ano na cesta orgânica!] que fatiei em rodelas bem finas no mandoline. Coloquei as fatias de abobrinha numa travessa, salpiquei com as alcachofras cozidas e picadas, juntei um punhado de azeitona secas [sun dried], temperei com sal, pimenta do reino moída, suco de limão e azeite e decorei com folhinhas de manjericão fresco.

peixe com erva-doce, cenoura e tomilho

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Decidi começar pelas revistas. Acho que precisei começar pelas revistas, porque a imensa quantidade delas já estava me preocupando. Estava ficando sem espaço e um procedimento proativo se fazia extremamente necessário.

Comecei catando as edições da Real Simple, que é uma revista que eu assino desde 2000 e tenho desde a número uno. O destino final dessas já estava decidido—o container de lixo reciclável. Também já tinha decidido encerrar minha carreira de leitora dessa revista, que começou a ficar chata há muito tempo, se repetindo e me causando um imenso tédio. Mas quando comecei a colocar os onze anos de Real Simple numa pilha, me assustei. Imagine uma coluna de revistas empilhadas chegando quase na minha altura física. Pois é.

Tomar a decisão de me livrar de praticamente todas as minhas revistas foi a parte mais fácil. O resto foi um bocado tormentoso. Separar tudo, juntar tudo, poderar mais um pouco, folhear algumas, descer zilhões de vezes os vinte degraus de escada carregando todo o peso. Fiz isso por alguns dias.

Nesse meio tempo, separando, decidindo, reciclando, acabei salvando algumas coisas. Fiz ainda no inicio, quando estava com paciência. Rasguei páginas e para o meu próprio espanto iniciei mais uma pequena pilha, desta vez com as folhas com receitas que rasguei das revistas que foram para o lixo.

Felizmente a história de rasgar páginas não vingou e foi praticamente indolor jogar fora as 8624554 edições da Bon Appetit, Food & Wine, Cooking Light, Country Living, Everyday Food, Sunset, Saveur, entre outras revistas importadas, compradas em viagens, ou outras já defuntas como a Cottage Living, Organic Living ou a Domino, que eu guardei por anos e anos sei lá por que raios de motivo. Ficaram somente a coleção da aposentada Gourmet e as Martha Stewart Living, das quais ainda não consegui desapegar.

Essa limpeza não envolveu somente as revistas já acumuladas, mas também delineou um plano para o futuro das que ainda vão chegar. Primeiro que vou deixar expirar a assinatura de parte das revistas que recebo. E as que vou continuar assinando serão lidas, páginas com receitas interessantes arrancadas e o resto vai pro lixo da reciclagem num período que não vai poder ultrapassar um mês. E as receitas que eu não fizer em algumas semanas também serão defenestradas. Estou no momento perfeito para tomar esse tipo de decisão, porque estou mudando de casa e de cidade e não quero carregar absolutamente nenhum peso inútil comigo. Vida nova!

Uma das receitas que guardei no entusiasmo rapidamente esmorecido do inicio dessa empreitada, estava num daqueles encartes de cozinha que vem na Revista Claúdia. Lá tinha muita coisa bem interessante, mas aproveitei que compro peixe no sábado e preparei esse rango bem simples e saboroso. O peixe usado na receita brasileira era o robalo, mas eu usei o nosso delicioso halibut e deu certissimo. Essa é daquelas receitas bem rápidas, enquanto o peixe assa você cozinha uma porção de quinoa e faz uma salada.

faz 8 porções
1 xícara de azeite
1 bulbo grande de erva-doce cortado em fatias finas
8 filés de badejo [120 gr cada—usei halibut]
Sal e pimenta do reino moída a gosto
1/2 xícara de água
2 cenouras médias cortadas em tiras finas
16 ramos de tomilho fresco
2 dentes de alho descascados

Forre uma assadeira grande com papel alumínio deixando sobra suficiente para cobrir toda a superfície. Pincele o interior com um pouco de azeite. Disponha a erva-doce e coloque os pedaços de peixe por cima. Polvilhe com sal e pimenta. Distribua a cenoura e os ramos de tomilho sobre o peixe. No liquidificador ou processador, bata o azeite restante com o alho e tempere com sal e pimenta. Regue os pedaços de peixe com esse azeite. Cubra com a sobra de papel alumínio e leve ao forno aquecido em 355ºF/ 180ºC por 25 minutos. Retire da assadeira com uma espátula e transfira para uma travessa. Sirva imediatamente.

ruibarbo com zabaione

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Essa sobremesa aparentemente super modesta, acabou dando um certo trabalho. Na edição de abril da revista Martha Stewart Living a receita me saltou aos olhos exatamente pela simplicidade e pelo diferencial nos ingredientes. Ruibarbo, ovos e licor. Fui atrás do detalhe evidenciado como o segredo da receita—o licor de elderflowers. O imbróglio é que parece que só existe uma marca desse licor, o St-Germain. Fui investigar com o moço da seção das bebidas no supermercado, argumentando que eu precisava somente de três colheres de sopa e ele me falou se desculpando que infelizmente não existia nenhum outro licor similar, nem numa embalagem menor, nem num preço mais barato.

A sobremesa seria o encerramento do almoço de Páscoa, então quis adiantar tudo no sábado à tarde, preparando o ruibarbo com antecedência. Descasquei, piquei, fiz a calda e [CHICOTADAS] resolvi que não faria o banho de gelo por pura preguiça. Entrei pelo cano quando vi o ruibarbo se desfazendo dentro da panela [MAIS CHICOTADAS]. Como não sou mulher de desistir tão fácil, voltei no supermercado depois do jantar e comprei mais ruibarbo.

No dia seguinte pela manhã comecei tudo do zero e desta vez OBEDECI às ordens da Martha. E deu tudo certo. O licor é realmente importante. O sabor suave e floral das eldeflowers dá um toque especial ao zabaione e combina incrívelmente bem com os ruibarbos cozidos. O zabaione não pode esperar muito pra ser servido. O ideal seria preparar na hora e servir imediatamente. Os ruibarbos devem ficar inteiros e não muito moles. O resultado agradou à todos. Essa sobremesa fica bem delicada e primaveril.

serve 4 porções
3 xícaras de água
2 xícaras mais 2 colheres de sopa de açúcar
1/2 fava de baunilha
[cortada ao meio, sementes removidas com a ponta da faca]
Um tira de casca de limão [sem a parte branca]
800 gr de ruibarbo, descascado e cortado em pedaços
4 gemas de ovos grandes
3 colheres de sopa de licor de elderflower—St-Germain
[ou outro licor floral se não achar o de elderflower]

Prepare um banho de gelo—uma vasilha encaixada sobre uma outra vasilha maior com metade gelo/metade água.

Numa panela, coloque a água, as 2 xícaras de açúcar, a fava e sementes de baunilha e a casca de limão. Leve ao fogo e cozinhe em fogo médio por 10 minutos. Adicione o ruibarbo e cozinhe por 3 minutos. Transfira o ruibarbo para a vasilha em cima da água com gelo. Deixe esfriar completamente.

Num double boiler—uma panela com água quente [em fogo baixo sem deixar ferver] com uma vasilha em cima, coloque as gemas, as 2 colheres de sopa de açúcar e o licor. Vai batendo com a batedeira manual em velocidade baixa até formar um creme denso, mais ou menos uns 6 ou 8 minutos. O creme vai triplicar em volume. Sirva o zabaione mais rápido possível, sobre os ruibarbos.

»com a primeira leva de ruibarbo cozido que se defez, apurei no dia seguinte e transformei o fracasso numa geléia.