Para a Fê, que me pediu receitas de cookies. Eu não sou exatamente uma “cookie person” e posso passar meses sem colocar um na boca. Para um cookie me fazer esticar a mão e apanhá-lo , ele precisa ser muito especial e eu não me impressiono fácil.
E o que mais se vê pelo hemisfério norte nessa época do ano são cookies. Eu vou à uma reunião de trabalho e tem uma bandeja de cookies em cima da mesa. Eu nem olho, mas sinto o cheiro. Recuso comê-los, pois não quero ficar com os dentes cheios de farofa enquanto falo de coisas importantes. No Canadá eu conheci uma suiça que tinha como tradição todo Natal fazer uns cookies realmente deliciosos – esses eu comia – colocar em caixinhas enfeitadas e dar de presente para os amigos. Todo ano eu recebia a minha com um sorrisão na cara. Mas nunca pedi as receitas. Cookie não é a minha praia – ou melhor, it’s not my cup of tea!
Mas fui olhar umas receitas de cookies da Martha Stewart, pois tudo que ela ensina é exaustivamente testado e quando a receita é publicada nas revistas dela, é certeza que vai dar certo. Na Everyday Food de dezembro tem uma receita de massa básica para cookies, que depois você pode cortar com moldes, enrolar e cortar, decorar e até congelar. Boa para fazer enfeites comestíveis para a árvore – isto é, se você faz árvore e gosta de assar cookies.
A receita:
Massa básica para biscoitos amanteigados
* Faz 30 cookies
3 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de açúcar de confeiteiro
1 xícara [ou 2 tabletes] de manteiga sem sal e gelada cortada em pedacinhos pequenos
1/2 colher de chá de sal
1 colher de chá de extrato de baunilha
4 gemas grandes
mistura de ovo para pincelar – opcional – 1 clara de um ovo grande batida com 2 colheres de chá de água
Coloque a farinha, o açúcar, a manteiga e o sal no food processor e misture até ficar com uma textura grossa. Numa vasilha separada misture as gemas levemente batidas com a baunilha. Com o motor do food processor ligado, adicione essa mistura de gema à massa. Misture bem até formar uma massa uniforme. Prepare os cookies com a massa, que é melhor trabalhada se descansar enrolada em filme plástico na geladeira por pelo menos uma hora.
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Limonada Suiça
Todo ano, nessa época, eu tenho a minha ‘safra’ de limões verdes no limoeiro do meu quintal. É quando eu começo a fazer jarras e jarras de limonada suíça. É uma bebida refrescante, cremosa, deliciosa e nostálgica da minha infância.
Descasque os limões com uma faca afiada. Tire tudo, a casca verde e pele branca. Deixe só a polpa. Bata no liquidificador com água gelada. Passe por uma peneira. Acrescente açúcar e gelo à gosto. Sirva em copos altos!
* o que nós chamamos de limão no Brasil, não é o mesmo limão dos americanos. o limão deles é o amarelo. o verde eles chamam de lime. portanto essa bebida pra eles é uma limeade e não lemonade.
sabor de Natal II
hum, yummy!
Todos os chefs celebridades do Food Network não economizam humns e ohs enquanto preparam suas gororobas – simples ou sofisticadas – em seus shows diários. São auto-elogios incessantes, tudo é lindo, maravilhoso, uma delícia, fantástico, saborosissimo, incrível, sensacional, espetacular, yummy!!!
Como na minha cozinha de dona de casa comum, muita coisa queima, fica salgada, incomível, muito apimentada, com um gosto estranho, engororobada, insípido, amargo, aguado, duro demais, mole demais, encaroçado, azedo, torrado, começo a pensar se a propaganda não é mesmo a alma do negócio.
Resolvi mudar a minha estratégia derrotista, que está sempre pedindo desculpa pelos meus erros culinários. Sentamos para jantar e na primeira garfada fiz uma cara de prazer intenso e comecei a murmurar – hmmmm, hmmmmmmm, que delícia de comida, nossa, muito bom, muito bom mesmo!
Não mudou o sabor da gororoba, mas certamente impressionou o Ursão, que comeu com muito mais entusiasmo.
sabor de Natal
I summon the Iron Chefs!
De vez em quando – ou melhor, deixa eu ser honesta, quase sempre – eu vicio em algum canal ou programa de televisão. Nos últimos meses minha atenção anda colada nos Iron Chefs do programa japonês retransmitido pelo Food Network. The Iron Chef começa às onze da noite e eu nem sempre vejo até o final, pois às vezes acabo dormindo antes. Mas nem por isso a experiência de assistir à batalha dos chefs japoneses deixa de ser interessante. No kitchen stadium, dois chefs se confrontam todas as noites. Um dos quatro Iron Chefs – Iron Chef Japonese, Chinese, Italian e French – e um desafiante. Há um moderador, um comentarista e dois convidados, entre eles sempre uma atriz ou um cantor famosos no Japão. A competição é acirrada, com um ingrediente secreto que vai ter que ser utilizado em todos os pratos. Os chefs têm uma hora para preparar no mínimo três pratos, que serão analisados, provados e julgados. O chef que vencer ganha todas as honras. O mais legal desse programa, além das comidas estranhíssimas, é o estilo desportivo que eles dão à competição, que parece uma mistura de luta de boxe com jogo de baseball. O comentarista analisa os movimentos dos chefs e câmeras espalhadas pela kitchen stadium filmam todos os detalhes. Ontem, por exemplo, se via pingos de suor cair da testa do desafiante [eca!]. Os ingredientes, animais ou vegetais, são sempre da melhor qualidade. Quando eles são peixes ou frutos do mar, geralmente ainda estão vivos – e eu fico em total horror vendo os chefs decepando-os ou cozinhando-os vivos! O resultado final é sempre pratos que agradam mais ao gosto oriental, nem sempre muito atraentes para a minha maneira ocidental de me alimentar. Muitas vezes eu fico enojada por pratos com melecas cruas tiradas da barriga de um peixe raro ou com a textura ou cor das comidas. Mas nessa batalha de chefs o que interessa mesmo é ver como eles trabalham na cozinha. E para mim é interessantíssimo observar a seriedade e o respeito, tão comuns na cultura japonesa e que ficam bem expostos durante a batalha dos chefs.
um jantar sem inspiração
Quem já não sofreu de bloqueio de cozinheiro, debatendo-se sem idéias do que fazer para o jantar? Comigo isso acontece bem frequentemente e nem sempre eu apelo para o macarrão, que é o melhor quebra galho nessas horas agonizantes. Ontem foi um desses dias. Voltando para casa às cinco da tarde [que já era noite] me deu um desespero total, pois eu não tinha a mínima idéia do que iria cozinhar. Pensei em passar num dos três supermercados que eu gosto e comprar algo, mas nem imaginação para ingredientes eu estava tendo. Fui pra casa quase decidida à preparar um macarrão alho e óleo – que eu adoro, mas convenhamos, não é a comida mais saudável e nutritiva que existe.
Em casa comecei a abrir e fechar portas de armários e geladeira. O que tenho aqui? Hmmm. Lentilhas pretas Beluga. Sopa! Lata de cogumelos, rolinho de massa de biscuit da Pillsbury. Cheiro verde, azeitonas pretas. Cerveja. Voilá!
O menu sem inspiração de ontem:
– sopa de lentilhas pretas beluga com cerveja. refogar três dentes de alho no azeite, acrescentar a lentilha lavada e escorrida, fritar por uns minutos, juntar água, cozinhar até as lentilhas ficarem bem macias. Salgar à gosto. Acrescentar cerveja, cozinhar por mais uns minutos. Servir super quente.
– pasteis de forno recheados de cogumelos. para o recheio colocar no food processor uma lata de cogumelos, salsinha à gosto, meia cebola picada e azeitonas pretas [das gregas, please!] picadas. não pôr sal, pois o cogumelo já vem na salmora. abrir as massinhas pra biscuit com o rolo e rechear. apertar as bordas com o garfo, pincelar com um ovo batido com um pingo de leite [ou heavy cream]. assar em forno médio até ficarem dourados. servir acompanhado de uma bela salada de alface.
Eu geralmente cozinho ouvindo música. Ontem era Dylan, que eu sempre acompanho cantando e até dançando – imaginem se alguém resolve parar na rua pra olhar através da janela essa cena contrangedora? Quando resolvo usar cerveja numa receita, sempre bebo um pouco e cozinho muito mais animada. Prefiro beber enquanto cozinho do que acompanhando a refeição.
pois não é?
Thoreau fazendo pão
Foi numa viagem que fiz anos atrás, durante a minha adolescência, ao Rio de Janeiro. Eu estava num daqueles Cometões noturnos saindo de Campinas às onze horas e levava comigo o livro Walden de Henry Thoreau . Dentro do ônibus, enquanto todo mundo dormia, eu lia. Nunca consegui dormir em viagens. Sempre sofri de enjôos, ansiedade, tédio. E durante essa viagem eu li uma passagem no livro do Thoreau que me proporcionou uma pequena epifânia. Era uma cena onde ele fazia pão. Nunca me esqueci daquilo e até hoje visualizo o homem numa pequena cabana na clareira, durante o inverno, assando pães. O livro que eu carreguei comigo naquela viagem já não sei onde está. Mas eu tenho uma coleção de três volumes do Thoreau em inglês, que incluí Walden e apesar de não ter mais disposição para reler o livro, procurei frenéticamente por essa passagem, usando minha técnica pessoal de leitura ultra-rápida, scaneando as páginas com os olhos e olhando as palavras como se pulasse de quatro em quatro degraus de uma longa escada. O texto, onde Thoreau escreve sobre comida e como fazer pão está AQUI e é simplesmente magnífico!