Chez Panisse fez 40 anos

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O restaurante Chez Panisse completou 40 anos no domingo, 28 de agosto e não faltaram celebrações, artigos em jornais, revistas e blogs, entrevistas com a sua ilustre proprietária, Alice Waters e todo tipo de reverência e homenagem. Aconteceram muitos jantares pela cidade de Berkeley durante o final de semana comemorativo e infelizmente todos custavam muitos dinheiros. Mas um dos eventos era público e era grátis. Minha amiga Maryanne gentilmente me avisou e reservamos nossos ingressos para participar da comemoração organizadas pelo OPEN education e o Edible Schoolyard program nos jardins do UC Berkeley Art Museum.
Esse evento foi um pouco diferente do que eu imaginava que iria ser. Mais desorganizado e com muito mais opções de ver, fazer e comer, ele foi mais ou menos uma amostra da filosofia que serve de sustento para o restaurante e os outros projetos da Alice Waters. Enquanto esperávamos uma leva de pão assados na latinha, sob o comando de Steve Sullivan [o padeiro do inicio da história do restaurante e hoje dono da famosa Acme Bakery] ouvimos uma história bacana de como uns hippies desapropriavam alimentos de estabelecimentos comerciais para alimentar os pobres e desabrigados da cidade no final da década de 60 e inicio de 70. O pão quentinho foi servido com mel de um apiário, que explicava todos os detalhes da criação de abelhas numa barraquinha ao lado. Outro stand tinha as cabras de onde saia o leite cru que virava um fudge bem branco e bem doce. Outra fazia um pesto com abobrinhas, e outra limonada com lavanda e mel, e ainda tinha águas frescas de melancia e morango, sanduiches de mortadela, tamales e milho assado, salsa de tomatillos com tortillas que você mesmo podia prensar, fatias de melancia vermelha e amarela, café e muita água para hidratar os visitantes, afinal estava um CALORÃO de 25ºC em Berkeley naquele lindo dia de verão.
A exposição foi bem divertida e organizada para que os visitantes pudessem ficar lá por muitas horas, ouvindo as histórias, experimentando as coisinhas de comer, aprendendo um pouco sobre horta, animais, ingredientes. E também aprendendo algo sobre idéias, persistência e dedicação. De como algo tão simples, como um restaurante que serve uma comida descomplicada usando ingredientes da melhor qualidade e incentivando a agricultura e comércio locais, pode prosperar, se estabilizar e frutificar.
»algumas fotos da edição vip da sexta-feira do evento nos jardins do museu publicadas na coluna do Todd Selby na revista do NYT.
»não tem mais jeito, até que levei minha câmera, mas ela nem saiu da bolsa. fotos de eventos agora só com iphone. sorry! *pisc!

The Yolo County Fair

Yolo County Fair Yolo County Fair
Yolo County Fair Yolo County Fair
Yolo County Fair Yolo County Fair
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Foi a minha primeira visita à uma fair americana e até que achei legal. Lá bebemos limonada com cereja e muita água porque a tarde estava quente. Eu comi um taco com salsa, depois um corn dog e devorei um float de root beer do tamanho do universo, com quatro bolas de sorvete de baunilha e uma garrafa do clássico refrigerante. O Uriel comeu um milho assado na palha e eu comprei um torrão imenso de toffee de caramelo com castanhas e coco, que não conseguimos comer nem um décimo. Fairs são ótimas para comer porcarias, doces e frituras. Nessa até que não tinha algumas barbaridades como os deep fried de twinkies, twix ou oreos. É bem perceptível que absolutamente todo mundo come os corn dogs, que são umas salsichas enfiadas num palito e depois empanadas com uma massa de milho e fritas. Um grupo de casais já pelos seus setenta anos sentado na mesa na nossa frente devorava corn dogs como se eles fossem a iguaria mais fina e sofisticada do mundo. A explicação é bem óbvia—corn dogs são lembranças de infância, de quando chegava o verão e eles iram com a família ou com os amigos na fair e se divertiam as pampas, enquando mordiscavam as portáveis e práticas salsichas fritas.

colhemos uns figos

 

capay organic farm
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Estamos rodeados de fazendas e agora estou mais próxima de uma das maiores fazendas orgânicas da região—Capay Organic Farm. Já sabia que eles abrem para o público e escolas, que pode-se fazer tours e visitar. Desta vez eles abriram para a colheita, na parte onde ficam as figueiras para que o público pudesse colher as frutas. “Queremos que as pessoas conheçam e se acostumem com eles”—me disse uma das fazendeiras. Eu respondi que os figos já são meus velhos conhecidos e que eu espero o ano inteiro pela oportunidade de comer os figos californianos frescos. Acredito que a Califórnia seja o único estado do país que produz figos comercialmente. Quando chegamos, estacionamos ao lado das árvores de pistache, que estavam carregadíssimas. Mas eles ainda não estavam prontos para consumo. A colheita do pistache acontece somente pro final de setembro e começo de outubro, quando as casquinhas externas racham avisando que já é hora.

Ficamos pouco tempo na fazenda, porque não tínhamos almoçado e eu tinha nadado, estava bem faminta. E eles nao ofereciam nada, além de legumes e frutas numa feirinha e bebidas geladas. E estava calor, o Uriel esqueceu de levar chapéu e todas as sombras estavam ocupadas por famílias fazendo picnic enquando uma bandinha tocava um animado bluegrass. Fomos colher os figos, que estavam maduríssimos. Eles tinham muitas árvores do maravilhoso candy stripes figs, que infelizmente ainda não estavam no ponto. Saímos da Capay com as botas sujas de lama e paramos para um hamburguer tradicional com batatas fritas na cidade vizinha de Esparto e depois engatamos em toda velocidade em direção à cidade de Napa, onde passamos o resto da tarde.

é sempre bom agradecer

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Em exatamente uma semana teremos as celebrações do Thanksgiving por aqui. Esse é, sem a menor dúvida, o meu feriado favorito no ano. Troco dez Natais por um Thanksgiving. E vou dizer porque. É que me sinto uma privilegiada por tudo o que tenho, nem preciso listar aqui, mas garanto que é muito. E por isso acho super importante esse negócio de agradecer. Nem precisa ser nada formal, um pensamento apenas basta—putzgrila, muito obrigada por tudo!

Neste ano não vai ter nada de especial. Nem mesmo o infalível peru. Decidi que não quero lidar com sobras, portanto vou assar um frango caipira, que abocanhei outro dia no Co-op e que guardei no congelador para esperar uma ocasião especial. Nosso esquema de Thanksgiving mudou um pouco, depois de quase dez anos de celebrações realizadas na casa da ex-sogra do Gabriel. Com ela aprendi muitas maneiras de apreciar essa festividade.

O Thanksgiving pra mim tem a cara do outono, que aqui é demorado, lindo e está no seu ápice no final de novembro. Nessa época estamos inundados pelas mais lindas cores de amarelo, vermelho e dourado. E apesar de já estar frio, ainda não está aquele cinza úmido miserável do inverno. É um momento realmente especial e muito auspicioso, que junta uma tradição culinária, com uma reunião de família. Comidas gostosas, calor humano. O dia de dizer obrigado está chegando e apesar de ainda não ter muitos planos esquematizados, eu já estou entrando no clima de antecipação e animação.

5 anos fechados
[com chave de ouro]

Festanças não são muito a minha praia. Mas eu gosto de marcar e relembrar as datas, principalmente as comemorativas. E este ano juntaram-se várias numa curta sequência. Quando me toquei que o aniversário de cinco anos do Chucrute com Salsicha estava se aproximando, nem esquentei a cachola pensando no que iria fazer para celebrar. Eu iria estar no Brasil, mais precisamente em São Paulo e com amigas blogueiras, exatamente no primeiro de novembro—o dia auspicioso em que iniciei este promitente blog.

Chucrute no Brasil Chucrute no Brasil
Chucrute no Brasil
Chucrute no Brasil Chucrute no Brasil
Chucrute no Brasil

As outras datas celebrativas que precederam brevemente o aniversário do Chucrute e que determinaram que eu entrasse num avião e mudasse de hemisfério, foram o aniversário de 80 anos do meu pai e o de 50 anos de casamento dele com a minha mãe. Toda família compareceu, tivemos festa, festão e festinha na comemoração de duas datas importantíssimas para nós. Passei uma semana e meia aproveitando a companhia de todos da família e revendo e conhecendo novos amigos. Conheci a querida blogueira Luciana Betenson que veio encontrar-se comigo em Campinas, ri muito com minha irmã e o amigão dela, o Calil, revi a Sandra, minha alma gêmea ativista dos orgânicos, bebi cházinho com bolo de azeite e alecrim feito para mim pela minha irmã, comi feijoada, galinha caipira com quirera, goiaba, pitanga, todas as bananas que pude engolfar, laranja lima, manga, pizza do Bráz, pão de queijo assado na folha de bananeira e linguiça feita em casa pela minha prendada cunhada Patrícia, comi requeijão, goiabada, doce de figo, bebi drinks sem alcool com minha mãe, ouvi meu pai falar de política, visitei a fazenda orgânica Yamaguishi com minha mãe e meu irmão, curti todos os meus sobrinhos, desde os que sobem em árvore, fazem tricô, curtem futebol, tocam música, dançam balé, me preparam deliciosos bolos, até os que adoram salada e plantam hortinha na varanda. Também convivi com todos os cachorros da família e dos amigos. Fui aos supermercados convencionais e orgânicos, hortifruti, mercearia, vendinha, padaria, açougue, peixaria.

Chucrute no Brasil
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Me despedi da minha família um pouco mais cedo, para poder passar três dias em São Paulo, revendo e conhecendo amigos, experienciando um pouco da diversidade da cultura gastronômica da cidade. Fui recepcionada pela minha querida amiga Roberta, que me tratou como uma rainha—nunca vou conseguir agradecer o suficiente tanto carinho e cuidado! Com ela e o Antônio, mais minha irmã, meu cunhado e sobrinhos, comi comida mineira levinha, pastelzinho recheado com carne seca, bolinho de mandioquinha com queijo, couve refogada, caldinho de feijão e uma farofa de maracujá que nunca vou esquecer. Também com a Roberta fui encontrar com o queridíssimo Gui Bracco no restaurante Moinho de Pedra, onde também conheci a chef Tatiana Cardoso [e ganhei o livro dela autografado]. Depois passamos na chocolateria Valrhona, onde papeamos muito mais e também encontramos a Beth V. À noite brindamos os cinco anos do Chucrute informalmente num jantar encantadoramente Dadivoso na casa da Fernanda Zacchi e na companhia da Mariana Newlands, Roberta, Mr. Dadivoso e a linda cachorra Frida. No dia seguinte passamos no Lá da Venda, onde conheci a simpatica chef Heloisa Barcelar, bebi Turbaína e almoçei pastelzinho de massa de milho e picanha com purê de banana da terra na companhia da Roberta e da fofíssima Maria Rê. Passamos a tarde num papo tão bom, que nem vimos as horas passarem. À noite jantei no sofisticado restaurante Maní com as amigas Lena Gasparetto, Faby Zanelati e Daniela Fonseca. E meu último dia em São Paulo passei com a querida Neide Rigo, que me serviu suco de bacuri da Ilha do Marajó, me levou de trem para o Mercado da Lapa, onde comi açaí com banana e creme de cupuaçú, depois fomos de ônibus até o centro da cidade, onde almoçamos no restaurante Tordesilhas. Esse lugar foi para mim no mínimo, o máximo, pelo ambiente, decoração e comida especialíssima, mas também por causa da chef Mara Salles, que juntou-se à nós, na companhia da sua mãe e me ensinou sobre a abobrinha brasileira, falou um bocado de coisas legais sobre sustentabilidade e ainda nos serviu um delicioso licor de Baru. Saí do Tordesilhas encantada com o que vi, ouvi e comi e de lá segui tristemente para o aeroporto, acompanhada e guiada mais uma vez pelas queridas Roberta, Maria Rê e Neide Rigo que ficaram comigo até quase a hora do embarque.

Chucrute no Brasil Chucrute no Brasil
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Os cinco anos do Chucrute com Salsicha não teve [nem vai ter] comemoração formal, com bolo, fogos de artificio, relatos nostálgicos. Este blog é o que é, porque eu sou quem eu sou. E tudo o que fiz até hoje resultou numa rede de amizades inestimáveis, que me faz sentir privilegiada por ter tido a oportunidade de manter e estreitar esses laços. Não consegui ver e rever muitas outras gentes queridas, mas sei que não irão faltar oportunidades num futuro breve. Mais visitas virão com certeza, mas por enquando vou ficando por aqui, dando continuidade à este convercê que iniciei há cinco anos e que parece estar bem longe de se encerrar.

[»todas as fotos tiradas com meu companheiro de viagem iPhone4; a foto com a Mara Salles e a abobrinha é de autoria da Neide Rigo.]

BlogHer Food 10

E aqui estou eu novamente, com mais uma batelada de fotos, mas desta vez de qualidade super duvidosa—fotos de celular. O registro era o mais importante neste caso e foi isso que eu fiz. Nos e-mails da organização do evento BlogHer Food as instruções mandavam levar laptop, câmera, eteceterá, que eu até levei, mas sinceramente foi apenas uma carregação de peso inútil. Num acontecimento como este, a gente quer ficar alerta, prestando atenção em tudo, com as mãos razoavelmente livres. A câmera me pareceu um empecilho e portanto nem saiu da sacola, que acabou voltando rapidíssimo para o carro. Fotografei quando deu, usando o iPhone, como fizeram muitos outros participantes do evento.

Mobilidade era essencial. Eu queria ver tudo, provar tudo, participar de tudo. Só fui para o segundo dia do evento, que aconteceu no sábado 8 de outubro em San Francisco, portanto perdi muitos buxixos do primeiro dia, na sexta-feira. Mesmo assim valeu cada minuto. Uma conferência de food bloggers é basicamente imperdível. No ano passado dormi com a touca da procrastinação e entrei pelo cano. Os ingressos esgotam rapidamente, não pode ficar olhando pro horizonte, porque acaba-se comendo mosca. Neste ano fui mais esperta e garanti meu ingresso ainda em março. Valeu a pena a espera de tantos meses.

Blogher Food 10 Blogher Food 10
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Por ter escolhido manter meu blog apenas em português, me coloquei numa posição muito desvantajosa no mundo blogueiro. Apesar de viver aqui e escrever sobre a cultura e culinária daqui, realmente não consigo me enturmar completamente com os locais pelo simples fato de não escrever numa língua que todos entendem. E para o resto do mundo luso parlante, ofereço minhas receitas, textos, pensamentos e reflexões sem estar fisicamente presente e participante. Em resumo, sinto que estou entre dois mundos, num universo virtual paralelo sem pertencer completamente à lugar nenhum. Isso faz a minha interação parecer difícil em eventos, como este, pois vou chegar com o blog numa língua que ninguém entende, um blog que ninguém lê e com certeza nunca irão ler.

Mas a comunidade de food bloggers de língua inglesa é algo realmente especial. Ou são especiais as pessoas que foram pioneiras, se destacaram e hoje comandam a boiada, integrando as pessoas e dividindo conhecimento e experiência. Não conhecer quase ninguém numa conferência lotada de blogueiros vindos de todos os cantos dos EUA e ser recebida com um abraço entusiasmado pela minha amiga Elise Bauer é realmente confortante. E ela não só me recebeu, como me apresentou para o charmoso Michael Ruhlman, que coincidentemente tinha sentado ao meu lado na primeira palestra que assisti. Conheci outros blogueiros celebridades e proeminentes, outros nem tanto, alguns apenas iniciantes, outros amadores como eu, e percebi que uma grande parte deles está trabalhando duro em direção da profissionalização. É uma comunidade profundamente eclética e incrívelmente séria.

No buxixo entre palestras decidi criar coragem e me apresentar para o chef David Leite, de descendência portuguesa, que é o grande divulgador da cozinha lusitana aqui na América do Norte. Só vou dizer uma coisa—somos muito bem representados, que cara simpático, adorei muito conhecê-lo pessoalmente!

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No meio do dia todos os congressistas se aboletaram em ônibus fretados pela organização e fomos levados ao Farmers Market do Ferry Building Market no antigo Porto de San Francisco. Para mim o passeio não me apresentou nenhuma novidade, mas pra muitos blogueiros vindos de outros estados foi um super treat. Esse mercado é o meu lugar favorito na cidade e dou uma passadinha por lá sempre que posso. O mais divertido pra mim foi estar dentro de um ônibus lotado de blogueiros e poder interagir com alguns deles.

Quanto as palestras, só consegui participar de duas: food styling com os talentosos Adam Pearson, Delores Custer e Tami Hardeman e uma palestra super emocionante com a fantástica fotógrafa Penny De Los Santos, com quem eu já tinha feito um workshop anteriormente. Não canso de ouvir a Penny falar da sua paixão, da visão orgânica que ela dá para suas fotos. Depois de conhecer o trabalho dela, tudo muda. Não tem como continuar pensando da maneira antiga.

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No fechamento do congresso, teve uma conversa muito legal com três blogueiros experientes, cada um com um estilo completamente diferente—Shauna James Ahern, a Gluten Free Girl, o chef Michael Ruhlman e a fofissima Molly Wizenberg do blog Orangette. Mesmo não estando tão enturmada por causa da barreira da lingua do meu blog, me senti super em casa nesse evento. Apesar de ser uma blogueira com muitos anos de experiência, continuo aprendendo todos os dias. As lições nem sempre são sobre como escrever, como fotografar, mas sim como se portar e se posicionar dentro dessa comunidade. Nunca serei uma blogueira profissional, porque não carrego essa ambição comigo. Mas tenho muito bem solidificado o meu próprio estilo, que combina minha personalidade, meus principios e minha maneira de ver o mundo. E assim me posiciono. Escrevendo em português, pra quem lê em português poder ler, sem sentir que pertenço, mas pertencendo muito mais do que eu mesma consigo admitir. No final da palestra a Shauna James Ahern citou uma frase da Virginia Woolf que pode ser o meu motto e o de muitos outros que escrevem em blogs—“we write to taste life twice, in the moment and in retrospect.”

hair [musical & picnic]

Hair & picnic
Hair & picnic
Hair & picnic Hair & picnic
Hair & picnic

Quando eu e a minha prima-amiga-irmã Heloisa assistimos ao filme Hair num cinema em Campinas no inicio da década de 80, ficamos boladas. Choramos muito no final quando o personagem herói Berger, é enviado por engano no lugar do panacão Bukowski para morrer no Vietnã e todos os amigos cantam juntos Let The Sun Shine. Na época ganhei uma gatinha, que batizei de Sheila, a ricaça que vira hiponga no final da história. Comprei a trilha sonora em bolacha de vinil. Hair foi um filme que me marcou, no auge da minha adolescência, hormônios borbulhantes, cheia de idealismos, alma hiponga despontando no horizonte.

Mas apesar de ter adorado o filme, nunca tinha tido a oportunidade de ver o musical, que deu origem a tudo. Trinta anos depois […] Vejo o cartaz da produção de Hair no campus da universidade, feita pelo mesmo grupo que apresentou MacBeth em novembro passado. A peça seria encenada ao ar livre, numa área enorme de gramados e árvores no arboretum da UC Davis.

Choveu até dizer chega no domingo, que seria o último dia de apresentação de Hair e ficamos numa sinuca, não sabendo o que fazer. Eu queria muito ir e teria que ser naquele dia ou no more. O Gabriel mandou mensagens pro diretor do grupo, que é amigo dele e o cara confirmou: vai ter apresentação, com chuva ou sem chuva.

Preparei correndo os apetrechos—cadeira dobrável daquelas que se carrega convenientemente com uma alça no ombro, roupa quentinha, manta, guarda-chuva e uma cesta de picnic. Tenho um monte de cestas para esses eventos e garrafas térmicas, pratos, utensílios, toalhas macias pra estender no chão. Picnics são um dos meus eventos favoritos, embora não tenha feito um em algum tempo. Picnic noturno, numa área verde linda, vendo um musical como Hair, não tinha como me deixar mais entusiasmada. Preparei uma garrafa térmica gigante cheia com chá de gengibre e limão*, um queijo gruyere pra cortar, um pão, umas bolachas salgadas, um queijo de cabra temperado com ceboulettes, chocolate em barra, morangos frescos e um bolo ultra rápido de liquidificador.

Chegamos com o guarda-chuvão aberto, nos ajeitamos na seção para cadeiras da platéia e logo parou de chover. Fizemos nosso picnic e quando a peça começou já estávamos alimentados e confortavelmente aquecidos pelo delicioso chá. Não choveu mais pelo resto da noite.

A apresentação de Hair durou mais de duas horas, com um pequeno intervalo, quando todos correram para usar o banheiro. Eu adorei e curti cada minuto, cada música, lembrei das letras, cantei baixinho junto, dei risada e fiquei com lágrimas nos olhos durante muitos dos números e, como na primeira vez que vi o filme, chorei quando o rapaz morre no Vietnã. Quando a apresentação terminou, meus dentes batiam de tanto frio. Mesmo super agasalhados e bebendo chá, não é bolinho ficar sentado por mais de duas horas no relento numa noite fria de primavera californiana. Fomos pra casa descongelando com o aquecedor no carro e desde então estou com uma das músicas da peça dando loop na minha jukebox mental—manchester england england across the atlantic sea and i’m a genius genius i believe in god and i believe that god believes in claude that’s me that’s me!

*chá de limão e gengibre
Corte um limão em cubinhos e coloque num bule ou garrafa térmica. Rale um pedaço de gengibre—como eu compro gengibre orgânico, não descasco—e coloque junto com o limão. Jogue bastante água fervendo sobre os pedaços de limão e gengibre. Deixe descansar por uns 5 minutos. Sirva. Nós bebemos sem açúcar. Mas quem quiser, fique à vontade para adoçar.

»no final da peça encontramos com o Gabriel, que estava indo na festa de encerramento daquela curta temporada de Hair. e guess what? ele faturou a kombi cor de rosa decorada com flores que fez parte do cenário da peça. a kombi está na garagem dele e logo aparecerá em edição especial por aqui.

»não levei minha câmera, por causa da chuva e também porque sei que às vezes não se pode fotografar em espetáculos. tirei essas fotos com o celular e levei uma carcada logo depois que fiz a última foto. eu não sabia, mas os atores estavam tirando a roupa atrás da bandeira americana. perdi, por alguns segundos, de fazer uma foto mais explícita.

mulled red wine

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Na primavera planejamos assistir à montagem de A Midsummer Night’s Dream que o grupo de teatro da UC Davis estava apresentando ao ar livre, na área mais bonita do arboretum, num corredor de red woods. Nas minhas caminhadas ao entardecer, observei todo o processo dos ensaios do grupo, depois tive que fazer um pequeno desvio no meu caminho durante as apresentações, passando por trás dos camarins e ouvindo e vendo um pouquinho da ação. Por razão desconhecida ou ausente, só explicada pela nossa onipresente capacidade para procrastinação, acabamos não indo e perdendo de ver essa montagem da bucólica peça de Shakespeare.
No inicio do outono o mesmo grupo anunciou que montaria uma versão modernex de MacBeth e desta vez não iríamos dormir de touca, pois teríamos um motivo particular para estar na fileira do gargarejo na estréia. Na trama sangrenta, onde o enlouquecido casal, sir e lady MacBeth, se embola numa matança sem fim, na ambição de chegar ao poder no reino da Escócia, há muitas lutas. E essas lutas precisam ser coreografadas. Nunca tinha pensado nisso até o Gabriel nos dizer que ele iria fazer a coreografia das lutas de espada e adagas para a peça.
Fiquei muito curiosa com essa história do meu filho coreografar lutas e animada para ver os resultados. O único problema é que o grupo faz as montagens ao ar livre e as noites de outono são bem frias. Três horas de peça, sentados nas arquibancadas de cimento, expostos ao frio e vento, não iria ser bolinho. Prevenida, me preparei para uma caminhada pelas planicies alasquianas. Levei um acolchoado macio, almofadas, vesti meu casacão longo de fake fur super duper quentinho, levei luvas, manta de lã, touca, uma garrafona térmica com chá de laranja e outra menor cheia de vinho quente. O chá encalhou, mas o vinho foi bebido em goles largos e felizes durante o intervalo por mim e pela namorada do meu filho. A bebida forte e fumegante nos aqueceu e nos animou para a segunda parte da peça, que teve muito, mas muito sangue e até rolou uma cabeça.
Vi a receita para esse vinho quente na edição de novembro da revista Food & Wine e deixei marcada, pois concordei que era mesmo uma idéia fantástica para detonar restos de vinho das festas. Na minha casa sempre sobra vinho, porque só eu bebo. Fiz da primeira vez usando restos de Cabernet Sauvignon e refiz uma semana depois usando o Zinfandel. Adorei a possibilidade de poder preparar tudo com dias de antecedência e depois só requentar. Esses mulled wines, assim como as cidras, são bebidas muito comuns por aqui durante as festas de final de ano. Eu já comprei as especiarias prontas para fazer essas bebidas quentes, mas achei essa misturinha feita em casa, com pimenta e erva doce, altamente picante e deliciosamente auspiciosa!
mulled red wine with muscovado sugar
2 colheres de chá de pimenta do reino inteiras [black peppercorns]
1 colher de chá de sementes de erva doce [fennel seeds]
1 pau de canela de mais ou menos uns 7 cm
1 1/2 litro de vinho tipo Zinfandel ou Merlot
[*fiz com Cabernet Sauvignon e depois com Zinfandel]
3 folhas de louro
Raspas da casca de uma laranja
1 1/2 xícara de açúcar muscovado ou outro açúcar escuro
Num pilão junte as pimentas e as sementes de erva doce e moa levemente. Numa panela coloque o vinho e todos os outros ingredientes, menos o açúcar. Tampe e ferva em fogo baixo por 10 minutos. Remova do fogo e deixe descansar, tampado, por 30 minutos. Coe para remover todos os ingredientes aromáticos. Junte o açúcar e mexa até dissolver bem. Sirva morno ou reaqueça para servir quente, em taças ou canecas. Esse vinho pode ser feito com antecedência e guardado numa jarra na geladeira por até três dias, Reaqueça na hora de servir.

Gourmet — primeira e última

Gourmet Gourmet
Gourmet
Gourmet
Gourmet Gourmet
Gourmet
Gourmet
Gourmet Gourmet
Gourmet
Gourmet
Gourmet Gourmet
Gourmet
Gourmet
Gourmet

Quem não lamentou o fechamento da Revista Gourmet? A notícia foi uma grande surpresa e deixou muita gente triste e atônita, pois a revista tinha história. Ela não era apenas uma revista lançada ontem, mas uma publicação com sessenta e oito anos de currículo. Pelas páginas da Gourmet passaram muitos nomes famosos, entre eles o de M.F.K. Fisher. A Gourmet era única e vai deixar um imenso vazio. Quando recebi meu último exemplar, levei uns dias para abrí-lo, pois me senti um pouco melancólica. Deu pra perceber que a decisão da editora foi súbita, pois nada nessa edição tem cara de despedida ou de fim. Confirmei essa sensação quando ouvi a entrevista com a Ruth Reichl na NPR onde ela relata a surpresa e a tristeza do encerramento inesperado da revista.

Anos atrás eu tinha corrido os olhos pela coleção da Revista Gourmet da biblioteca da UC Davis. Eles têm lá TODOS os exemplares, desde o número um, publicado em janeiro de 1941 até este último, datado de novembro de 2009. Pra mim resta o consolo de poder rever qualquer número da revista a qualquer hora. Publiquei minhas impressões dos primeiros números da Gourmet de 1941 e as da Gourmet de 1971, que já tinham uma cara bem diferente.

Hoje escolhi publicar, junto com a capa e umas páginas do último número, a capa e o conteúdo do primeiro número, para dar uma idéia do quanto a revista evoluiu nos últimos sessenta e oito anos. O número um trazia um desenho de uma cabeça de javali assada na capa e as páginas internas eram na maioria em preto & branco. Percebe-se no conteúdo a clara e onipresente influência francesa, que naquela época parecia ser a única referência para a alta gastronomia mundial. Hoje não é preciso mais colocar menu em francês para parecer chique e sério. Os EUA já fixaram terrítorio no mundo gatronômico e mesmo sem a preciosa contribuição da revista Gourmet, acredito que vamos continuar evoluindo, sempre para melhor.

tudo pronto pra mais um picnic!

No ano passado fui à apenas um [ou talvez dois] picnic, porque não tive muitos ânimos de arrumar rango e cesta e sair de casa depois do trabalho num dia de semana. Culpa da minha doencinha, que roubou toda a minha energia por quase um ano. Mas agora que estou recobrando meu pique, reanimei para fazer picnics!

Chegamos um pouco tarde ao parque, já eram 7pm, mas mesmo assim deu pra aproveitar bastante. O bom é ficar batendo papo na grama do parque no escuro, quando a banda e o farmers market já encerraram as atividades e a maioria das pessoas já se dispersou.
Fiz rapidinho um rango com fatias fininhas de salmão selvagem defumado, crackers de aveia, queijo de cabra temperado com ervinhas do quintal [chives, tomilho e orégano], pimenta branca e um fio de azeite. Bebemos vinho verde espanhol.