o supérfluo necessário

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Dei um pulo no Trader Joe’s e no Corti Brothers para fazer aquelas comprinhas supérfluas extremamente necessárias. Fui no Corti Bros especialmente para comprar o bacalhau salgado. Eles têm o peixe inteiro, da Noruega e do Canadá. Mas como um peixão inteiro é um pouco demais, resolvi comprar esses saquinhos de meio quilo cada, sem espinhas, do bacalhau Gonsalves. Quero fazer uma receita diferente desta vez. Mas tanto no Trader Joe’s, quanto no Corti Bros eu sempre acabo comprando muito mais do que inicialmente planejado. É muito difícil passar batido pelas coisas diferentes e apetitosas que eu encontro nesses dois lugares. No Corti Bros o que me impede de pegar tudo o que eu vejo nas prateleiras é basicamente o preço. Um vidrinho de azeite de oliva por $150.00 é um pouco proíbitivo. Mas no Trader Joe’s, que é famoso pelos seus produtos de qualidade e precinhos ridículos, eu faço a festa. Comemos esses flatbreads noruegueses enrolados com fatias de frios. A Marianne me disse que costumava comê-los com manteiga, açúcar e canela.

if you’re snappy and you know it, wash your hands

Sempre que passo pelo dispositivo com toalhinhas desinfetantes que fica na porta de alguns supermercados, meu super-ego dominador e maníaco sente-se completamente vitorioso e realizado. Confesso aqui publicamente que aprovo essa idéia das pessoas poderem desinfetar seus carrinhos e cestinhas.

Anos atrás eu convivi com uma germ free freak. Ela era obcecada ao ponto do irracional. Para descrevê-la exatamente, eu teria que caricatura-la vestida de super herói com um tubo de toalhinhas e outro de spray desinfetante pendurados um de cada lado do seu cinto de super-utilidades. Ela era a paladina da limpeza, a líder na incansável guerra contra os germes e bactérias. Ela me irritava. Eu sempre pensava—onde vamos chegar com isso? à uma sociedade totalmente esterilizada, todos vestindo roupas anti-germes, luvas, máscaras, espirrando desinfetante em tudo? como vamos sobreviver à uma simples gripe num mundo imaculado como esse?

Apesar disso, eu tenho as minhas neuras. E uma delas é a de lavar as mãos frequentemente. Pode ser um pouco exagerado, mas não é por medo de germes, é simplesmente por nojo. Vocês já pensaram na quantidade de fluído corporal que é espalhado copiosamente a cada segundo nos ambientes de uso público? Maçanetas e puxadores de portas, barras de ferro nos ónibus e metrô, portas de banheiros, bancos de sala de espera, telefones, eteceterá? Eu penso nisso e me previno. Lavo minhas mãos quando posso. E acredito que esse hábito meio exagerado me ajuda a não ficar sempre doente, com gripes e resfriados, como acontece com meio mundo que eu conheço.

Por isso aplaudo silenciosamente a fabulosa idéia de poder limpar o guidão do carrinho ou a cestinha que vou carregar no supermercado. Não aprovo de maneira alguma essa tendência histérica de nos transformar em obcecados, mergulhando tudo o que tocamos em baldes com cloro. Mas putsz grila, você já pensou na imensidade de fluídos corporais alheios, ressecados e praticamente invisíveis, com que convivemos desavisados e insuspeitos todo santo-dia?

passa-tempo

Porque estamos surfando outra ondaça de calor, o que faz a minha cozinha ficar bem improdutiva, somado à tonelada de trabalho que empilha-se no meu desktop, decidi convidar todos para um passeio arqueológico pelas catacumbas de ChuKruntkhamun (King Chukrutut). Divirtam-se.
Love me Tender—uma receita querida, como lembrança do Rei Pelvis.
Gadgets Galore—um desfile de utilidades & inutilidades imprescindíveis.
Minhas Madeleines—reminiscências proustianas de uma Guimarães Rosa.
Sopa Cremosa de Cogumelos—a receitinha que encantou o meu irmão.
Pistacho, Pistacho—fotos reveladoras.
Oi!—porque fotos com o Roux sempre alegram o ambiente.

minha salada grega

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Como não dava pra jantar sorvete de banana, fiz uma salada que chamei de minha salada grega. Folhas verdes, pepino, pimentão vermelho, tomate, abobrinha, berinjela grelhada, cebola roxa e queijo feta. A cebola eu cortei em fatias finíssimas e deixei uns minutos de molho na água gelada com vinagre. Esse processo alivia um pouco o gosto ríspido da cebola crua. Poderia ter colocado umas azeitonas pretas, mas esqueci. Eu coloco azeitona em tudo, preciso mesmo dar um tempo. O tempero foi o mais básico possível: sal marinho, pimenta do reino moida na hora, vinagre de vinho branco e muito azeite.

exatamente o que eu queria
[sorvete de banana]

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Dia quente e cansativo, cheguei em casa decidida: nada de jantar, vou fazer sorvete de banana! Estava com essa idéia fixa de fazer um sorvete com bananas há tempos. Adoro essa fruta e sua cremosidade. Pra mim, banana é comfort food. Dizem que banana é a fruta da alegria, pois ela estimula a produção da seratonina, que ajuda a combater a depressão.

Meu sorvete de banana é a coisa mais simples de fazer. Aliás, preciso testar uma receita mais sofisticada, dessas com base de ovos e tal. Mas por enquanto, essa receita básica está funcionando muito bem.

3 bananas
mel a gosto
1 xícara de leite integral
2 xícaras de creme de leite fresco

Bater tudo no liquidificador e colocar na sorveteira.

sopa de ameixa seca

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Essas cenas são do filme The Wedding Night de 1935, com um dos meus atores favoritos, Gary Cooper. O diretor King Vidor ganhou o Oscar de melhor diretor do ano por esse filme, que tem uma história muito fofa, apesar do final extremamente broxante [o Código, que moralizou Hollywood, já estava em vigor]. Gary Cooper é um escritor novaiorquino passando por uma fase ruim. Ele vai para Connecticut, tentar escrever um livro e fica na casa que herdou no meio dos campos de tabaco. Lá ele conhece a filha de imigrantes poloneses, Anna Sten. Ela leva para ele toda manhã o leite que ela mesma tira da vaca. Acaba fazendo também uns trabalhinhos domésticos pra ele, depois que o serviçal chinês o abandona e volta para New York. Os dois se apaixonam, la-di-dah, mas o problema é que ele é casado e ela está prometida em casamento para um amigo da família. O filme tem muitas cenas com comida, quis comentar todas, mas resolvi me restringir à apenas duas.
Na primeira, Cooper é convidado para jantar com a família polonesa, que incluí também os amigos. Os adultos sentam e comem, liderados pelo patriarca. As mulheres servem e sentam-se à mesa por último. As crianças esperam sentadas num banco duro e sentam-se à mesa para comer as sobras quando os adultos terminam—achei isso o cúmulo da crueldade. Na mesa se vê o pão e o vinho. O prato principal é a sopa de ameixa seca [prune soup]. Cooper leva a primeira colherada à boca com uma certa relutância. Depois declara aliviado—é muito boa!
Na outra cena, Cooper se vê sozinho na casa gelada e tenta acender o fogão para fazer o café da manhã. Reparem no fogão! Anna chega trazendo o leite, acende o fogão pra ele e prepara panquecas e café. Ele devora as panquecas com maple syrup enquanto ela bebe o café com leite às colheradas, enquanto conversam. Um amor de cena!
Fui procurar pela receita de sopa de ameixa seca e só achei essa, que é mais um cozido e de origem alemã. Mas fica aqui, caso alguém queira tentar.
Grandma’s Prune Soup
1 quilo de carne para assar
Sal e pimenta a gosto
Caldo de carne
4 batatas descacadas e cortadas em quatro
1 cebola média picada
1 xícara de ameixas secas cortadas em quatro
1 xícara de uvas passas
Vinagre de maçã
Lave a carne e coloque numa panela grande e cubra com água. Adicione o sal e a pimenta. Cozinhe a carne em fogo alto até a água começar a ferver. Abaixe o fogo e tampe a panela. Cozinhe por duas horas até a carne ficar bem macia. Remova a carne do caldo e coloque numa travessa para esfriar. Remova a gordura do caldo. Reserve 1 litro desse caldo. Se não for suficiente, adicione caldo pronto de lata ou caixinha. Corte a carne em pedacinhos. Coloque a carne de volta na panela com as batatas, cebola, ameixas e passas. Adicione o caldo para manter sempre o mesmo nível de liquido na panela. Cubra e cozinhe por uma hora. Ajuste os temperos. Sirva em tigelas com um pão rústico. Use o vinagre como condimento. Experimente com outros vinagres, como o de pêra ou o balsâmico.

Biscoitinhos de nata

O papo sobre o leite cru fez muita gente lembrar da infância e dos biscoitinhos que eram feitos com a nata que era produzida com a fervura do leite. Pra mim esses biscoitinhos eram a epítome da gostosura. Nenhum biscoito industrializado conseguiu substituir esses feitos em casa, porque memória de infância é concorrente imbatível.
Escrevi pra minha mãe perguntando se ela ainda tinha a receita, pois lá se vão quase quarenta anos do tempo em que se coletava as natas que ficavam guardadas no congelador da nossa Frigidaire branca, até virarem biscoitinhos feitos pelas mãos da Cida. Pois minha mãe tem todos os cadernos e fichários de receitas guardados. Ela me enviou a receita que fez a minha infância mais feliz.

1 copo de nata – 1 copo de açúcar – 1 colher de manteiga e araruta o quanto baste. Só isso.
* a araruta seria o polvilho doce?
** até parece receita tirada do livro da dona Benta, mas essa tem licença para ser assim sintetizada, pois é receita dos alfarrábios de família!