risoto de cenoura [assada]

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No momento temos três geladeiras—uma novinha na cozinha que já veio com a casa, outra novinha que trouxemos da guest house da casa de Davis e colocamos no basement da casa nova, e a nossa antigona que veio cheia de coisas e está agora na garagem esperando para ser vendida ou doada. Não faz sentido uma casa com duas pessoas ter três geladeiras. Mas quando a geladeira velha aportou e eu comecei a esvaziá-la, me toquei que estava com um estoque ridiculamente absurdo de cenouras guardado em duas gavetas. Cenouras orgânicas que foram chegando semanalmente na cesta e que eu não consegui gastar no mesmo ritmo.

O que fazer? O que fazer?

Com a casa toda desarrumada, cozinha abarrotada de caixas e com muito trabalho de organização pela frente, a melhor alternativa que encontrei foi cortar todas as cenouras, temperar com azeite e sal e assar. Então assei vários sacos de cenoura e depois guardei em potes de vidro com tampa na geladeira e fui usando aos pouquinhos. Coloquei na salada, misturei com lentilha cozida, bati uma porção no liquidificador e fiz sopa e usei numa receita de risoto.

A receita de risoto é sempre a mesma—1 xícara de arroz, 1 xícara de vinho branco, 3 ou 4 xícaras de caldo de legumes. Refogue um pouquinho de cebola picada num fiozinho de azeite, junte o arroz arbório, depois mais ou menos 3/4 xícara de cenouras assadas picadinhas, depois o vinho, depois o caldo, uma xícara de cada vez, e no final coloque um pedaço de queijo de cabra e tempere com sal. Pra servir bem quente e imediatamente. Mas não me incomodo de requentar [e comer] as sobras no dia seguinte.

[ we picked ]

u-pick
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Chegou o dia em que fui finalmente vencida pelo cansaço. Passei o domingo super devagar, me sentindo sem energia. Tomamos um chazinho acompanhado de éclairs às 4 pm e eu já me entristecia com o encerramento do final de semana quando o Uriel sugeriu um passeio. Quero te mostrar a fazenda orgânica com u-pick de morangos que vi no final da highway 99—disse ele. O céu despencou num baita temporal. Assim que a chuva parou, nos agasalhamos, entramos no carro e fomos ver o tal lugar.

Se eu tivesse a minha bicicleta em Woodland, daria pra ir até a fazenda Pacific Star Gardens pedalando. De carro se chega lá numa piscada. Ela fica no inicio de uma estradinha que liga Woodland à Davis. Não é a estrada principal, nem a melhor estrada, por isso eu nem conhecia.

A região tem muitas fazendinhas com campos de tomates, girassóis e trigo. Numa parte do caminho tem muitas oliveiras enfileiradas. Paramos na fazenda e não tinha absolutamente ninguém por lá. Achamos que o u-pick estava fechado. Fomos investigar. Num pequeno barracão estavam os baldes e cestinhas, uma balança, uma caixinha pra gente colocar o dinheiro e uma placa com as explicações: o preço do pound das blackberries e de cada cestinha de morangos, pegue o balde, vá colher as frutas, pese e pague, obrigado! Ainda tem muita gente que usa esse tipo de honor system, onde a confiança é a alma do negócio.

Pegamos um baldinho e rumamos para o campo, que estava uma lama só por causa das tempestades que caíram durante todo o final de semana. Plaquinhas indicavam os arbustos de blackberries, marionberries e olallieberries. E o campo de strawberries. Fomos pegando as frutas, ainda molhadas da chuva, até encher o balde. No caminho vimos um campo enorme cheio de galinhas felizes. Fiquei animada em poder comprar ovos. Também vimos um pomar de damascos, campos com verduras e tomates. Fiquei num estado de alegria e excitamento sem fim.

Quando já estávamos indo pro campo de morangos, vi uma moça lá junto das galinhas e corri falar com ela. Queria saber dos ovos! Acenei lá de longe, ela acenou de volta, fui apressada encontrá-la. Ela era a dona da fazenda e me contou que os ovos já estão todos vendidos, mas que eles planejam aumentar a produção. Disse que logo terá u-pick de tomates e berinjelas e que se eu quiser eles vendem a galinha viva com recomendação de quem pode fazer o trabalho sujo pra mim. Dispensei. Mas fiquei interessadíssima nos tomates e afirmei que vou voltar para mais berries e tomates até o final da estação, vou virar freguesa. Ela disse que a fazenda tem 40 acres e que tem também um pomar de nozes e eles estão começando a criar patos e perus. Uma ótima opção para o Thanksgiving!

Conversei um tempão com a moça, que me contou da família dela e do Farmers Market de Woodland, que como eu pensava é o Real McCoy, com apenas fazendeiros locais vendendo por lá. Embora nem todos certificados orgânicos, como eu também já sabia.
Fomos pra casa com as botas sujas de lama, um balde cheio de frutas e um sorrisão estampado na cara. O passeio me revigorou e me reanimou. Fizemos nosso lanchinho, com as frutinhas deliciosamente frescas e doces [especialmente os morangos!] mais iogurte grego com mel, pão doce e nutella. Sentados à mesa, devorando as delicias, o Uriel comentou—estou me sentindo como um urso, pois colhi o meu próprio jantar de berries. [ hahahaha! ]

um fogão elétrico

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O fogão veio com a casa e, ao contrário da máquina de lavar louça, está em ótimo estado. Pelas condições do forno dá pra concluir que ele é quase novo. Mas é um fogão elétrico. Desde os meus anos canadenses que eu não colocava uma panela sobre o queimador de um fogão elétrico. E digo mais, nunca senti saudades de fazer isso. E digo mais ainda, detesto fazer isso. Quando vi o fogão elétrico na cozinha da casa nova já fui avisando—vamos trocar por um a gás! Infelizmente não vai ser tão simples assim, pois não há conexão pro gás atrás do espaço do fogão e vamos ter primeiro que chamar um encanador, furar parede, puxar cano, eteceterá-eteceterá. Já vi até o tipo de fogão que quero comprar, mas ainda não comprei.

Enquanto isso, vou ter que ir me virando com esse fogão mesmo. E estou fazendo com muito cuidado, porque fogões elétricos são o instrumento perfeito para se queimar comida e encrustar panelas. Como tive muitas esperiências deprimentes no passado, estou praticamente pisando em ovos. No primeiro dia na casa tostei umas fatias de pão de azeitona numa frigideira vintage que tenho e que foi a única que achei no meio das 9854 caixas fechadas. Preciso dizer que tive que usar a esponja de aço pra limpá-la. E imediatamente acendeu a luz vermelha de alerta! Depois assei cenouras, fiz uma quinoa com camarão frito, preparei risoto e sopa de lentilhas, assei frango com gengibre e cebola e até cozinhei macarrão. Com o cuidado que estou tomando foi tudo bem até agora, só ainda não assei nenhum bolo e confesso que ainda estou um pouco receosa de fazê-lo. Espero que a conexão do gás seja uma das próximas da lista dos serviços por fazer na casa, porque neste quesito eu sou bastante conservadora—gosto de cozinhar com fogo. De outro jeito simplesmente não me parece natural.

I’m a Woodlander!

Im a Woodlander! Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander
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Im a Woodlander Im a Woodlander
Im a Woodlander Im a Woodlander

Choveu no dia da mudança e eu acho que isso significará muita sorte para nós. Mas mudar foi uma trabalheira. A empresa que contratamos chegou às 8:30 da manhã com quatro funcionários, que botaram pra quebrar. Não antes de soltarem uns palavrões quando viram a quantidade de coisas pra carregar e ainda para encaixotar. Os gatos ficaram estressadíssimos e passaram o dia dentro do quarto vazio na casa velha. Só vieram para a casa nova à noite, quando tivemos a grande surpresa de ver o Misty se ajustar em menos de uma hora e o Roux quase ter um treco de tanto medo. Levou um tempinho, mas agora ele já esta novamente se sentindo em casa.

A nossa adaptação foi ainda mais fácil. Eu estava muito dividida, achando que iria sentir muito a minha saída de Davis. Quando chegamos na casa nova eu fiquei direcionando os moços descarregando as caixas e móveis na calçada da frente, bem embaixo de uma árvore. Depois da chuvarada que caiu pela manhã, o sol apareceu e estava uma brisa fresca. Foi exatamente ali que eu caí na real de como essa minha nova casa é simplesmente deliciosa. Não sei se a vizinhança toda arborizada e tranquila também contribui, mas me senti imensamente tranquila. Me senti feliz.

No dia seguinte voltei pra Davis pra pegar algumas coisinhas que ficaram pra trás, me despedi da casa, agradeci os anos tão bacanas que vivi lá, enxuguei um borbulhão de lágrimas e rumei apressadamente de volta para Woodland, onde uma desordem fenomenal me aguardava. Na primeira manhã na casa nova, não se via nem o chão nem o teto da cozinha, que abrigava sei-lá-quantas mil caixas. Como vamos colocar madeira em dois cômodos da parte de baixo, todos os móveis e outras coisaradas estão empilhados num terceiro. A única parte da casa onde dava pra caminhar razoavelmente eram os quartos e banheiro no andar de cima.

Cinco dias de trabalho duro, levantamento de peso, subindo e descendo escadas, dor nas batatas das pernas e no lombo, posso dizer que tudo já está tomando uma cara mais normal. A cozinha já está usável, apesar do fogão elétrico ainda não ter sido substituído por um a gás—mas estou prestando atenção e tomando cuidado. Já preparei algumas boas refeições. Aliás, comemos em casa todos os dias, com exceção do dia da mudança, quando fomos forçados a comer fora. Não pedi pizza, não peguei take out. Minha primeira refeição na minha cozinha ainda lotada de caixas, foi uma salada de tomates com queijo e manjericão fresco e pão torrado na frigideira.

A casa é antiga e aos poucos vamos percebendo certos detalhes que antes nem pensávamos à respeito, como ter ou não ter fio terra nas tomadas. Aqui a maioria não tem. Tivemos que comprar uns adaptadores e vamos ter que chamar um eletricista pra fazer o serviço. A maioria das casas modernas tem espaços padrões pra geladeira, fogão, máquina de lavar e secar. Mas numa cozinha antiga reformada foi um suor instalar a máquina de lavar louça modernosa num espaço adaptado do tempo da onça. Mas tudo isso são detalhes que não interferem com a alegria de viver aqui—estou adorando os assoalhos rangendo quando caminhamos pela casa, a paisagem verde vista de todas as janelas, o cheiro de madeira antiga, o barulhinho do vento nas folhas das árvores, os passarinhos e o silêncio, ah, o silêncio!

»no primeiro dia bateram na porta e era a minha vizinha me recepcionando com um pratinho de cookies ainda quentinhos. ela me disse que mora aqui há 30 anos e que conheceu o dono original, que construiu a nossa casa, que morreu com 98 anos! »no sábado fui conhecer e fazer compras no Farmers Market de Woodland, que é bem modesto. mas lá comprei os morangos e as cerejas mais doces desse inicio de temporada. »nesses dias de folga nem pensei em trabalho, mas amanhã recomeço minha rotina, que não incluirá mais ir pro campus de bicicleta nem almoçar em casa.

»um super feliz e comovido obrigada à todos que deixaram comentários sobre a casa!

a casa da rua Pendegast

Não estava nos nossos planos mudar de cidade. Mas começamos a olhar casas pra comprar em Davis e ficávamos abatidos e desanimados à cada uma que visitávamos—todas muito caras, outras muito pequenas ou muito estranhas ou Pendegast Streetmuito estragadas. Daí decidimos olhar na cidade vizinha e a primeira casa que vimos foi essa. Olhamos pelo website da imobiliária e eu tinha absoluta certeza de que iríamos ter mais uma decepção. Quando entramos na casa fomos arrebatados. Uma semana depois já estávamos fazendo a oferta. O que aconteceu? Não sei. Optei por dizer que a casa nos enfeitiçou, pois toda vez que íamos lá, ficávamos com umas caras de tchongos olhando um pro outro e repetindo—que casa mais bacana! Uma casa com aquela atmosfera reconfortante de lar. E nem tenho como explicar o que isso significa exatamente.

Compramos a casa da rua Pendegast, que fica numa área central da cidade de Woodland. Ela foi construída em 1948 e renovada em 2006, quando ganhou uma plaqueta de herança histórica. É uma casa antiga que ainda ostenta muitas partes originais, como as quinze janelas do tempo do Elvis jovem e magro que terão que ser trocadas por outras mais modernas e eficientes. Mas é uma casa cheia de charme, rodeada de árvores enormes, localizada numa vizinhança com muitas outras casinhas [e algumas casonas] antigas, cujos moradores são realmente orgulhosos das suas encantadoras residências.

Desde que tomamos a decisão de mudar que tenho feito tudo na casa velha imaginando que estou fazendo os mesmos passos na casa nova. Vou certamente sentir falta de algumas coisas da minha vida e da casa de Davis. Mas estou muito entusiasmada com a mudança de panorama e com as inúmeras possibilidades da nova cidade e da nova casa. Nos últimos dois meses tenho andado mentalmente pelos corredores da Pendegast, olhando através das janelas, subindo e descendo as escadas, observando as plantas sentada no banquinho de concreto no quintal, lendo o jornal com a luz do sol iluminando a mesa da cozinha, decidindo as cores das paredes, onde pendurar quadros, onde colocar a estante. E a partir de amanhã vou poder fazer tudo isso de verdade, na prática, lá na minha nova casinha velha.

alcachofras recheadas

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Não foi difícil decidir o que fazer com essas duas alcachofras GIGANTES com caules longuíssimos que comprei no meu supermercado local. Que elas seriam recheadas, não havia nenhuma dúvida. Mas restava saber como. Minha mãe costumava fazer as alcachofras recheadas com miolo de pão e aliche e cozidas num molho de tomate. Ficavam deliciosas! Para fazer as minhas, os caules altamente aproveitáveis foram os primeiros ingredientes. Cortei os dois, descasquei e piquei em pedaços. Daí improvisei. Coloquei no processador os caules picados, um punhado de azeitonas pretas, uns dois dentões de alho, sal, pimenta do reino moída e azeite de oliva extra-virgem. Triturei tudo e coloquei numa vasilha. Separadamente triturei um pouquinho de bolachas integrais e fiz uma farofa. Misturei bem com a massa feita com o caule das alcachofras e usei para rechear entre as folhas. Abra bem a alcachofra e lave com bastante água corrente. Seque com um pano de prato e corte as pontas pinicantes das folhas com uma tesoura. Coloque as alcachofras recheadas numa panela bem grande e funda. Regue com mais azeite, suco de limão e vinho branco. Salpique com sal e pimenta do reino moída. Coloque um pouco de água, tampe e leve ao fogo médio. Deixe cozinhar bastante, até as alcachofras ficarem bem tenras e as folhas sairem fácil quando puxadas [teste uma raspando a parte inferior com os dentes, a parte carnuda e comestível deve estar bem macia]. Se precisar acrescente um pouco mais de água durante o processo de cozimento. Essas duas «über» alcachofras renderam acompanhamento e entrada para várias refeições. E podem ser saboreadas quentes, mornas ou frias.

gelatina de vinho moscato

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Usei um vinho branco bem doce, o Moscato d’Asti, para fazer essa gelatina. Como usei a agar-agar, ficou pronto rapidíssimo. Aproveitei um pouquinho dos morangos maduros que tinha comprado naquele dia e joguei na mistura. Foram 2 xícaras de vinho, 1 pacotinho de agar-agar em pó [2/3 colher de sopa] e um punhado de morango. O vinho é tão docinho que nem precisou de açúcar. Coloque 1 xícara do vinho numa panelinha, salpique a agar-agar por cima e leve ao fogo até ferver. Retire a panela do fogo, junte a outra xícara de vinho, misture bem e despeje numa forma molhada. Coloque os morangos e leve à geladeira até firmar. Desenforme e sirva.