✴ pocketful of dreams ✴

Quando passei na frente do Facca Bar na rua Conceição no centro de Campinas comentei com minha irmã o quanto eu adorava o sanduíche com recheio de aliche e salsinha picadinha imerso no azeite que eles vendiam lá e minha mãe às vezes trazia pra casa num embrulho que não se faz mais—na bandeja de papelão embrulhado com papel de pão e amarrado com barbante.

Ele lia um livro, vestia camisa social, paletó e gravata borboleta vermelha salpicada com bolinhas brancas e jantava sozinho numa mesinha de canto no restaurante Chez Panisse, fato que além da idade indicava que o moço era um daqueles frequentadores assíduos desde os velhos tempos, quando o local era um lugar aconchegante para se comer uma comida francesa bem feita.

Na foto ela estava bem aprumada porque normalmente só usava um vestido de tecido estampado com flores bem miudinhas, cortado no molde mais simples sem golas nem manga, tão velho que tinha o sovaco manchado e me fazia rir, criança cruel. Muita gente pensa que naquela foto ela estava vestindo um uniforme de copeira, porque ostentava uma blusa branca impecável, colete azul e gravatona de laço. Mas na minha casa não tinha disso de ninguém usar uniforme e a verdade é que era Sete de Setembro e antes da foto ser tirada a cozinheira Cida tinha desfilado pela rua principal da cidade junto com os colegas adultos do Grupo Escolar onde faziam as aulas de alfabetização do Mobral.

A primeira comida que preparei no primeiro país novo [usando uma panela emprestada] foi peixe com legumes. A primeira comida que preparei no segundo país novo [usando uma panela emprestada] foi peixe com legumes.
A lembrança mais ternura que tenho do meu filho criança é ele dizendo “hmm que delicia!” com uma cara de prazer e alegria para o prato recheado com arroz integral, bardana refogada e agrião cozido ou qualquer outra gororoba que eu por ventura preparasse pra ele comer.

O que me encantava naquele livro não eram realmente as receitas, mas as ilustrações singelas em traço com tinta preta—uma cesta de palha com legumes dentro, uma panela de arroz no fogo, uma mão cortando a cenoura outra picando verdinhos, uma xícara de chá fumegante. o livro favorito, que não sei quem escreveu, muito menos quem ilustrou, nem lembro [diacho!] onde foi que aquele pequeno tesouro ficou.

6 comentários em “✴ pocketful of dreams ✴”

  1. Que lindo! Sonhos de memória, de vida rica, de olhar poético! Obrigada, Fernanda, por compartilhar suas delícias todas, aqui, com a gente! Ficou estranho isso… delícias=vida, receitas e fotos – pra ficar mais claro! 😉
    R: muitos beijos Lilian! :-**

  2. Fer, há sempre um bolso pronto a ser atafulhado de sonhos 🙂 Como dizia o poeta: “O sonho comanda a vida, sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança” 😉
    Bjs
    R: muito lindo e verdadeiro isso, Ameixa. beijo :-*

  3. Fer,
    Viver é um priivilégio. Nas viradas de cada ano, desejo, aos meus queridos, o máximo proveito da beleza da vida.
    Também espero que seu 2013 seja muito legal, que suas inspirações continuem a nos brindar sempre.
    É um satisfação imensa ler e ver o que você nos dá
    (puro altruísmo).
    Obrigada pelo Chucrute com Salsicha,
    Felicidades
    Dalva&Filhos&Gabriel
    R: querida Dalva, muito obrigada! é um prazer receber visitas como você aqui no Chucrute! beijos pra voce, os filhos e o fofo Gabriel! :-*

  4. Fer, este texto é pura poesia!
    Um ótimo 2013 a você e sua família, muitas realizações, felicidade e saúde!
    Obrigada por compartilhar sua sabedoria conosco. Aprendo muito com você.
    beijos
    Tania
    R: super obrigada, Tania! que 2013 seja otimo pra voce tambem. beijao :-*

  5. Os sanduíches do Facca Bar não são famosos à toa. Meu pai se lembra deles, de quando veio para Campinas, com 18 anos! Delícia, né?
    Ah, foi uma pena não nos encontramos, mas não faltará oportunidade.
    grande beijo e feliz 2013 a você e aos seus!
    R: obrigada, Clau! um lindo 2013 pra voces tambem. beijo :-*

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