os habitués

Temos esse hábito de voltar sempre ao mesmo lugar e pedir sempre a mesma comida. Quando elegemos um lugar como bom e gostamos da comida, voltamos e repetimos. Não é sempre que isso acontece, mas temos nossas preferências. Uma delas é a pizzaria da esquina do cinema, onde podemos comer uma salada fresquinha, um sanduíche com batatas fritas, pizzas bem razoáveis e beber vinhos locais. O ambiente é agradável, com mesas internas e externas—na varanda e no jardim aproveitadas durante quase todo o ano graças à aquecedores instalados no teto da varanda e um fire pit no jardim.

Vamos lá com uma certa frequência, muito mais do que tínhamos contabilizado. Pedimos sempre uma salada caesar para dividir entre nós dois, eu bebo uma taça de merlot, petite sirah ou shiraz de vinícolas locais, o Uriel bebe uma Buckler, a cerveja sem álcool. Depois pedimos uma pizza margherita de 12 inches. Todo sábado vamos nessa pizzaria e pedimos a mesma coisa.

Num sábado fomos jantar mais tarde do que de costume, depois de sair de uma sessão de cinema. Decidimos não pedir a salada e o Uriel decidiu beber somente água e não pedir a Buckler. O garçon, provavelmente um estudante da universidade como a maioria dos fornecedores de serviços nos restaurantes da cidade, veio anotar nosso pedido:

F—vou beber uma taça de merlot, por favor.
U—pra mim, somente água, obrigado.
G—não vai pedir uma Buckler hoje?
U—[cara de surpresa] ahn, hoje não.
F—e queremos uma margherita de 12 inches.
G—não vão dividir a salada hoje?
F&U—[cara mais do que de surpresa] ahn, não…
G—então hoje vai ser só o vinho e a pizza?
F&U—[sorriso petrificado] sim, só isso, obrigado!

Logo que o garçon se retirou, depois de fazer uns salamaleques meio sem graça, certamente motivado pela nossa reação com as perguntas dele, tivemos um ataque de riso. Eu tive que até ir ao banheiro pra me recompor, enxugar lágrimas e assoar o nariz. Foi um choque perceber que o garçonzinho não só nos conhecia, como sabia até que o que costumavamos pedir. Como assim, não vai beber a Buckler? E não vão dividir a salada? O que está acontecendo com vocês hoje? Algum problema, querem conversar sobre o assunto? Essa mudança na nossa rotina do sábado à noite deve ter desalinhado o chakra do moço, que já estava com o nosso pedido praticamente anotado mentalmente.

10 comentários em “os habitués”

  1. Hahaha! Eu sou meio assim tbem, principalmente quando o assunto eh sair p/ comer. Na maioria das vezes q como fora de casa eu volto decepcionada com a comida pois sei q eu poderia ter feito melhor (nao sou a melhor cozinheira do mundo, mas minha comida eh fresquinha e deliciosa. A maioria dos restaurantes por aqui nao sao super delicados e cuidadosos como eu vejo os q vc vai, nem sempre as coisas sao tao fresh quanto eles fazem parecer).
    Se eu acho um lugar bacana com comida gostosa ai sempre q vamos sair comer eu quero ir la, e adoro o fato de ter sempre pelo menos uma opcao q eu sei q vou gostar – e geralmente eh essa opcao q eu escolho, assim nao tem erro! rs!
    Seu garcon parece o fish guy do whole foods q eu frequento. So compro meus peixes la e o cara ja sabe o q eu vou querer: geralmente vou de flounder, a menos q tenha halibut bem fresh. Eu chego la, ele fala oi e ja pergunta “going to get some flounder today?” 🙂
    Rotina a meu ver eh algo bom, mantem uma certa estrutura na vida da gente. Mas tem horas q eh bom mudar um pouco, e tem vezes que quando a gente sai da rotina ate a gente assusta… imagina entao o garcon! rs!
    Bjs
    Ana

  2. Nossa, isso sempre acontece num rest chinês aqui perto. Qdo entramos a moça já pergunta: – Uma porção de Yakimeshi e duas porções de rolinho de queijo, né? Rsss. Eu gosto disso.

  3. Acontece. A gente costuma ir num restaurante da rua Fidalga, na Vila Madalena, e o garçom, as veces não pergunta o que vamos almorçar…e tudo bem. Sempre naquele lugar pedimos os mesmos pratos…Antes de entrar, já rimos de nossas costumes!

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