Eu não curto nem um pouco essas festinhas obrigatórias que pipocam todo final de ano. Não é só a festa em si, mas tudo o que é decorrente e inerente à ela. Na festa de Natal do meu grupo de trabalho tem sempre comidas, bebidas, música, conversinhas pra boi dormir e jogos e brincadeiras animadas.
Tudo é tolerável, menos os jogos e brincadeiras, que geralmente vêm acompanhados de prêmios, que nem sempre têm caracteristicas de recompensa, mas sim de punição. Quem quer ganhar um buquê feito de pirulitos coloridos? Ou uma caixa com cubos de chocolates com gosto de parafina pintados de cor-de-rosa? Eu passo. Queria passar os joguinhos também, mas não quero ganhar o título de chatonilda do mês, então participo—bocejando, com uma cara de blasé, sem me esforçar nada, não fazendo a mínima questão. Eu detesto qualquer tipo de brincadeira ou jogo coletivo, principalmente em ambiente de trabalho.
Ninguém escapa da famigerada festa de Natal. Primeiro temos que responder uma survey online, até que os organizadores—voluntários, ainda vai chegar a minha vez—cheguem a uma resolução democrática, depois que todos deram suas opiniões, sobre onde, quando, como, que horas, com catering, potluck, aberto para famílias, eteceterá, eteceterá. Tudo decidido com relação ao local, horário, menu, vem então o turno da organização das brincadeiras.
Neste ano um dos joguinhos de adivinhação pedia a colaboração de cada indivíduo, que deveria enviar para a fulana de tal uma foto sua, de tempos longínquos, vestido em fraldas, ou fantasiado pro halloween, ou saltando de pára-quedas, ou fazendo qualquer coisa de maneira irreconhecível. Eu tinha acabado de publicar a foto reveladora de uma pequena bugrinha muito da mal humorada e resolvi que seria aquela mesma que iria ser enviada para a organizadora meticulosa da brincadeira mais sensacional da festa de Natal.
Ficou decidido que um serviço de catering seria contratado para providenciar a comida—um maravilhoso e variado cardápio de lasagna de legumes e lasagna de carne, mais salada e pão. A sobremesa seria potluck style, então eu fiz uma torta de limão, com uma massa congelada, mais o lemon curd da Alice Waters e um suspiro por cima. Chovia cântaros pela manhã quando ajeitei a torta bem enrolada em papel alumínio dentro de uma cesta e enfrentei o aguaceiro e o vento, que simplesmente destruiu o meu guarda-chuva.
A festinha decorreu naquela previsibilidade. Música sazonal tocando no fundo, sorteio de prêmio que foi abocanhado pela chefona, comida sem graça, sobremesas variadas e os célebres jogos de confraternização. Eu não reclamo de nada, engulo a gororoba banal, passo a manteiga artificial no pão, bebo até Fanta laranja, mas quando chega na hora de jogar o jogo, a mal humoradinha que mora dentro de mim se manifesta com um grunido de protesto. Todo mundo parece adorar os jogos, aplaude, vibra. Eu tenho ganas de ir lavar as mãos no banheiro e ficar sentada num banco no corredor, esperando a função terminar.
Na brincadeira de adivinhar quem era quem em tempos remotos, eu até arrisquei uns palpites com relação à algumas pessoas: o meu supervisor que continua com a mesma cara até hoje, a que posava com o uniforme do clube do Mickey Mouse e uma que eu jurava que era outra. No final quase todo mundo adivinhou quem era a bochechuda de cara amuada sentada numa rede com vestidinho de manga bufante da foto número um. Não mudei muito, não? Muita gente concordou.
Concordo em tudo, gênero, número e grau. Há sempre o grupo que curte muito afim de bajular a chefia e ser o “super sociável”. Acho chatésimo e desde a faculdade já era tida como rebelde em função de me esquivar destes eventos e das dinâmicas de grupo. Detesto me expor e, parece que na cabeça de quem organiza o evento não passa a idéia de que o grupo é heterogênio. A hora dos prêmios é de me fazer rosnar. Um bacana ganha algo legal e o funcionário humilde que tinha esperança de ganhar algo que lhe seja bacana, ganha um recipiente de plaástico de péssima qualidade. Se rolar bebida alcoólica então, há baixaria na certa. Eu sempre tenho um compromisso inadiável neste dia ou a data sempre coincide com a de meu marido. Sem falar no amigo secreto da empresa em que os funcionários humildes se desdobram para dar algo a altura da “poderosa chefia”.
Detesto! Acabei de receber uma sugestão de pauta que diz que festas de final de ano causam stress em 86% das pessoas. Queria fazer parte dos outros 14%, mas acho que eles são bebês, crianças de até 5 anos e pessoas que trabalham em casa, deliciosamente solitárias em seus home-offices silenciosos e desabitados.
beijos
Será que os demais realmente se divertem com tudo isso? Tão chato quanto é o “parabéns a você” inevitável. Só mesmo saindo de férias na “data querida”. Essas coisas só tem alguma chance de serem divertidas quando não é apenas um compromisso social -cumpre-agenda. Ainda bem que a rabugice não toma conta apenas de mim… ufa! Que alívio!
Posturas postiças
É doloroso ter que suportar ou “aceitar” compulsoriamente o que tentam nos mostrar, vender ou passar como verdadeiro, autêntico. Desde a voz artificial da moça do telemarketing até o falso modo de pensar do político, sem esquecer dos “queridos” parentes e dos colegas de trabalho.
Comportamentos postiços na sala de visitas, onde a irmã odeia o cunhado que odeia a sogra que não quer saber do neto. Todos se detestam.
Fica complicado crer em alguém ou em alguma coisa ou até mesmo em um veículo de comunicação. Não se pode mais aceitar, tão candidamente, manipulações das notícias, embustes – o marketing investido como notícia – e mentiras, como o episódio das fraudes – plágios e invenções – cometidas pelo repórter norte-americano Jayson Blair, no jornal The New York Times.
Sequer o singelo azeite escapa
Dias desses descobri também que boa parte do azeite de oliva vendido no mundo é fraudado, algumas vezes pelos próprios olivicultores, que adicionam outros óleos de origens suspeitas. Nem no dourado do azeite pode-se confiar. Foi uma notícia muito ruim para mim, um fã das azeitonas e seus derivados.
Está cada vez mais difícil encontrar pessoas, informações ou produtos descontaminados, sem misturas, e totalmente naturais.
haha! Fer, vc descreveu a confraternização do meu trabalho, que vai acontecer na sexta-feira e a minha “aninação” com as dinâmicas de grupo. Aff!
Este ano consegui fugir de todas as festas de confraternização de trabalhos e etc…Sempre dava a desculpa que tinha uma reunião marcada à tempos…Acabei indo só á uma, mas era a única que valia a pena: pessoas agradáveis!
Tomara que ninguém do meu convívio leia isto!.
bjinho.
Oba, encontrei alguém que também odeia festinhas, êêê! :o) Aqui não há jogos nas festinhas de Natal, mas há muitos chás de cozinha e chás de bebês, e a brincadeira de adivinhar e pagar castigo impera. As pessoas pintam a cara da gente, é péssimo. Quando recebo convites pra essas festinhas fico mal humorada o resto do tempo até o evento passar. Quando casei tive que fazer manobras pra evitar o chá de cozinha, já pensou? Pior que festa dos outros, só mesmo minha festa. Quac! Tanta coisa mais legal pra fazer no sossego do meu lar, pra que fazer festa, pra que??
nestas horas agradeço aos céus diariamente por ser autônoma,não ter patrão e nem colegas de escritório,apesar de trabalhar com gente o tempo todo. Estas festinhas são muito xarope,beijo!
Nossa, me identifiquei muito com isso! Eu sempre sou a chatona nessas ocasiões, pois não acho graça nesses jogos.
Que sorte ter encontrado seu blog, li ele todinho e adorei… só estava com vergonha de comentar.
Eu falo de comida e receitas o tempo todo e as pessoas acham que sou louca…rs
Parabéns pelo seu trabalho, é incrível a forma que você escreve e também parece ser uma pessoa maravilhosa. Virei fã!
Beijos
Roberta- SP
Fiquei a imaginar tudo, e passou na minha cabeça um verdadeiro filme!
A sua escrita é o máximo.
Beijocas
😀 Risos! Você sabe mesmo fazer-nos viver tudo isso! Que escrita! Brilhante!
Beijos.
Fe,
Ri muito com tudo isso. Ninguém merece!!!