o tempo não pára

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O telefone. Amanheci falando ao telefone na segunda-feira fatídica e ainda não parei. Cozinhar, como? Mas é muito importante falar. Quando comecei a pensar nos planos para o meu jantar—menu para um, o telefone tocou. Era a minha mãe. Com ela fico sabendo de todos os detalhes de tudo o que aconteceu ou está acontecendo. Eu batizei nossa conversa de fofocas funerárias, porque eu tenho esse senso de humor que insiste em tentar fazer tudo parecer menos pesado. Fiz as fofocas todas com a minha mãe, que me contou da emoção das netinhas, das últimas palavras da filha para a mãe, avisando que o filho querido estava chegando. Depois filosofei com o meu pai por mais uma hora. Falamos da vida, da morte, das fotografias. Eu não estava com fome, mas ele precisava ir dormir. Desliguei dizendo, amanhã te ligo para falarmos de política!. Preparei um macarrãozinho simples, com um molho de tomates frescos, manjericão, muito azeite e salpicado de queijo parmesão ralado fresquíssimo. Subi com a macarronada e uma taça de old vine zinfandel e fui ver um filme com William Powell e Mirna Loy na tevê. Assim que terminei de comer o telefone tocou novamente e embarquei em mais uma hora de papo, porque ele precisa conversar com todos, aqui e lá. Faz parte do processo do luto entender os porques, certificar-se de que ela era querida e especial, que foi-se tranquila e sem dor, guardar os pertences mais importantes, as fotos, os filmes, fazer um retrospecto, uma colagem de lembranças—somente as boas. Fazer tudo para garantir que o passado não será esquecido, que a memória não vai nos passar a perna, que tudo ficará preservado e assim, só assim, poder tocar a vida pra frente.

5 comentários em “o tempo não pára”

  1. Há que se falar, para dentro, para fora, para o alto e para o lado…falar, falar, senão as palavras ficam ecoando em nossa mente…
    Que bom que tens pessoas queridas que falam contigo! Beijos!

  2. passei pra só pra dizer que as últimas fotos estão bem especiais, harmoniosas, coloridas, há uma outra Fer Guimarães por trás dessas lentes nestes dias….

  3. O tempo não pára não, querida Fer! E é tão bom que tenha essa atitude positiva perante um assunto tão triste. Como sempre, escrita perfeita! Força para a família!
    Beijinhos

  4. Fernanda…
    Sempre acho que pego seu post fresquinho pois esta no número 0….os comentários…e nunca escrevo aqui …
    Adorei o que vc escreveu hoje, “casou” com algumas coisas que estou sentindo hoje.
    Um grande beijo e espero que o Uriel esteja bem !

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