Acho que é hoje que faz dois anos. Não costumo ficar marcando e relembrando datas tristes, mas tenho quase certeza que foi no dia de hoje, há dois anos, que ouvi o recado do meu pai na secretária e depois o som abafado de quem não consegue mais falar. Eu chorei por um tempão, porque ela era uma das minhas pessoas favoritas neste mundo, aquela que eu admirava e imitava, reparava nas parecências e até me assustava. Ela dizia com a sua voz potente e alta—nós duas somos dois livros abertos!
Por tudo isso e mais um pouco, numa época em que meu irmão ainda morava em Los Angeles, nós decidimos que iríamos fazer uma compra mensal de gostosuras pra ela através do supermercado online que entregava tudo direitinho lá no sitio onde ela vivia. Ela amava gostosuras, chocolates, bolachas, geléias. Mas ela tinha aquela doença traiçoeira chamada diabetes. Então minha missão mensal era fazer uma compra de gostosuras que não deixasse ela mais doente. Por três anos, todo final de mês eu me logava e fazia uma comprinha. Era legal, porque durante esses anos eu me inteirei das novidades nas prateleiras do supermercado brasileiro. Via produtos novos aparecendo, marcas novas, diversidade, variedade. Algumas coisas eu queria comprar pra mim, ficava empolgada. Mas a compra era para ela e tinha que ser especial. Eu comprava também sabonetes variados, porque eu sabia que ela iria adorar. Éramos iguais nisso também, loucas por banho, por cheiros, por perfumes.
Faz dois anos então hoje que eu parei de fazer as comprinhas no supermercado online, faz dois anos que acabou a minha diversão de encaroçar pelas prateleiras virtuais, pensando e escolhendo as coisas que eu sabia que ela iria gostar e depois ficar me sentindo imensamente feliz imaginando a alegria dela ao receber a entrega. Outro dia minha irmã disse que a ausência dela é como se nunca mais tivessemos ido ao sitio visitá-la, no que eu concordei. Dois anos depois eu ainda penso nela sempre que vejo chocolates, bolachinhas e geléias gostosas, sabonetes e perfumes, ou todas as outras coisas que ela adorava. Fico olhando e matutando—hmm, será que compro pra enviar, pois ela iria amar!
Em dezembro vai fazer 2 anos que perdi minha mãe e recebi a noticia da mesma forma através de meu pai. Fazia comprinhas para ela geralmente no Santa Luzia porque ela adorava grapefruits e geleias que não encontrava em outros lugares. Hoje cuido da doceira que ela deixou e penso nelas todos os dias, mas sei que pessoas queridas estão em algum lugar muito especial.
Essas sensações “surreais” – querer compras as coisas que elas mais gostavam, ainda escutar o arrastar do chinelo pela casa, sentir o cheiro do perfume preferido – só confirmam uma coisa: mãe é prá sempre. Bjs!
Sinto muito…me emocionei muito ao ler teu post…ela deve ter sido alguém especial como vc parece ser…fica com Deus…ela deve estar bem e quer t ver bem tbm…bjao!
Fer, te leio aqui quietinho do outro lado do Atlântico há um bom tempo. Cheguei a comentar uma vez na época que vc esteve na Zoropa e encontrou-se com Tetê (Bélgica… que eu AMO de paixão … platônica, via 17″ de monitor…rs), mas vc estava com problemas com os comentários e acho que o meu se perdeu no limbo.
Mas hoje não poderia deixar de comentar porque sempre estou por aqui… adoro a sensibilidade que vc transmite em seus posts, seja eles como esse de hoje, ou como outros com imagens que “dizem” tudo.
Minha mãezinha foi viver com os anjos há 7 anos atrás e esse seu post de hoje transmite completamente tudo o que sinto quando me pego lembrando das coisas que ela gostava e do que eu deveria comprar para agradá-la (e essa arte eu dominava.
Obrigado por dividir tudo isso conosco, anônimos da blogosfera.
Beijo da Dinamarca
🙂
Fer, ela deve ter sido uma pessoa tão especial quanto você e provavelmente está lá em cima feliz e emocionada com seu post. Que bom que vocês puderam fazer a alegria dela ao enviar as gostosuras que ela apreciava…se eu pudesse enviaria umas geléias do Segredos lá para cima…com certeza ela iria gostar!
Beijos e fique em paz!
Lindo, Fer. Molhei o teclado, N
Oi Fer, que bonito isso, a gratidão e o amor! bfs Fah
ô Fer, que post lindo. Também me emocionei! Acredito que para as pessoas que nos são queridas existe um céu especial: para a sua, é o céu dos biscoitinhos e geléias, claro. Lá não existe diabetes e sabonetes cheirosos dão em árvores. As receitas nunca dão errado, os biscoitos nunca ficam duros, nem esparramam. Lá é sempre tempo de pêssegos e morangos, que dão as geléias mais gostosas. Verdade.
Fiquei com saudades de minha avo, arrependida das comprinhas virtuais que nao fiz pra ela. Quando eu parar de chorar eu volto, ta?
Oi Fer, chorei tanto lendo teu texto… Uma vez li um texto do Neruda, acho, sobre saudades, mas tenho certeza de que nunca me acostumarei à ausência das pessoas que me são queridas. Depois que elas se vão, fica aquela sensação de “eu podia ter dado mais”, “podia ter passado mais tempo junto”… O tempo ajuda a minimizar as dores.
Fer, não agüentei e me emocionei com seu texto. Também sinto muita falta de muitas pessoas queridas, mas principalmente das que estão há apenas uns kilômetros de distância e que não posso ver com a frequencia que gostaria por morar em outra cidade. Me lembrei dos momentos bons que passamos juntos, das risadas e da esperança de recuperar todo esse tempo, mas com medo de não ser mais como era antes.
Beijinhos
Que lindo texto para descrever as saudades que sente de quem ama. É mesmo uma querida, Fer!
Beijo
oi fer, vc como sempre com o dom de emocionar a gente! há dez anos eu perdi minha avó, de que eu herdei muita coisa, inclusive a paixão pela cozinha. na semana passada, num restaurante, pedi um macarrão alho e óleo e na primeira garfada vieram lágrimas, sem falar nada pedi pra minha mãe experimentar e ela olhou pra mim e disse, “sua avó”, era exatamente como ela fazia!
saudade dói, mas relembrar momentos bons é reconfortante!
beijos
A imortalidade é isso! Ficar para sempre na memória dos que ficam.
A obra de cada um pode ser até somente um gesto ou um sorriso.
Beijos grandes.
Fer
Eu compreendo-a muito bem e apesar nao ser muito religiosa espero ou desejo que haja um “ceu” e que la se emcotrem mesmo essas pessoas que por vezes sem elas saberem nos tacaram no coraçao, e apesar dos anos passarem de algum modo sao sempre recordadas.(tenho que limpar os olhos pois nao vejo nada!) acho que isso é o paraiso. Ficando os resmungoes, antipaticos, sinicos, eguistas, falços…….todos de fora!
Bj Branca5
Fer, que lindo:)) Estes dias estive pensando..saudade tb eh bom:))
Apaga o que nao foi tao bom e torna o que foi bom ainda mais colorido:)) Eh a capacidade que temos de perdoar, guardar, amar..Uma saudade satisfeita, traz muitas alegrias, mas uma que nunca acaba, mantem vivo o amor..:))
Bjs
Bri
Ai … lágrimas rolaram desse lado pelos mesmos motivos ou muito parecidos. A perda é implacável, e, infelizmente, nem sempre a saudade acolhe.
O seu blog é uma jóia.
Beijo carinhoso.
Lembrei do meu pai. Saudade dói mesmo, né?! Um beijo pra você!
Fer, esse post me tocou muito… essas pequenas coisas que nos fazem lembrar de pessoas queridas nos dão uma saudade doída, que precisa de um chorinho apertado, um esfregar nos olhos rápido para passar e nos convencermos que temos que tocar pra frente.
Tenho uma pessoa muito querida assim e sempre que cozinho algo diferente ou vejo um par de brincos do gosto dela, penso o quanto não gostaria de dizer-lhe: “Olha só, vê o que acha”. Beijos…..
Ah, Fer!
Pode parecer clichê, mas tem pessoas que realmente deixam um “vazio” em nossas vidas…
Um abraço.
Me emocionei…
Sinto muito, Fer.