que se revela pela distinção

Reunir é bom, aproxima mais os colegas de trabalho, especialmente porque estamos divididos em dois grupos e sitiados em locais diferentes. No meio do campus fica o pessoal da web, onde eu me incluo. E no que chamamos de fazenda, fica o pessoal da publicação, os escritores técnicos, que preparam todo o material que sustenta o website. Por isso temos uma reunião bimestral, que eu estou incumbida de organizar, quando podemos nos sentar para discutir os pequenos enroscos dessa transição do papel para a web. O negócio é que eu peguei uma total antipatia desse evento. Fico tremendamente exausta com os debates extra-super-micro-hiper minuciosos sobre coisas muitas vezes óbvio ululantes pro grupo da web, mas que pro pessoal da publicação é um bicho de sete cabeças. Uma das escritoras é especialmente chata. Ela me causa temor, porque é sempre a do contra, a que acha entrave nas situações já resolvidas e tem as dúvidas mais non sense. A reunião for desmarcada duas vezes por causa dela. Quando finalmente nos sentamos em volta da mesa da sala de conferências, ela já foi avisando que detestava esses encontros matinais e por ter madrugado, desculpava-se, mas teria que tomar seu café ali mesmo na nossa frente. Eu já fiquei de cabelo em pé—ela vai comer durante a reunião? Essa é uma atitude muito comum nos ambientes de trabalho aqui na norte América, mas eu não consigo tolerar nada mais que xícaras de chá, garrafas de água ou latinhas de diet Pepsi. Por ser uma estressadinha, já fui acumulando uma irritação extra, pela iminência dos sluuuurppp, sleeeerrp, crackcrokcrunck e shurrrllffppff durante as discussões infinitas. Meu ânimo, já sóbrio, submergiu num crescente e desgostoso pesar.

Acho que ninguém realmente reparou. Só mesmo eu, porque estava de olhão em cada movimento, me preparando para o pior. Ela tirou uma garrafa térmica enorme de dentro de uma bolsa que estava no chão e encheu uma caneca também térmica com café num movimento quase tão gracioso como o de um balé. Não se ouviu um “chi”. Depois, num movimento ainda mais discreto, que nem eu que estava olhando vi, uma vasilha de plástico apareceu sobre a mesa. Nela, uma boa quantidade do que eu concluí ser iogurte natural misturado com pedaços enormes do que me pareceu ser pêssego—eu tentava não encarar muito. Uma colher saiu de não sei onde e ela fez seu desjejum durante a reunião, sem chamar a atenção, sem fazer barulho, sem se lambuzar, sem sujar nem respingar nada, nem falar com a boca cheia de comida, nem mesmo o batom cor de chocolate perdeu o brilho. Tudo muito impecável, com muita classe e finesse, num comportamento exemplar de comer em público.

*Se outros pudessem seguir esse bom exemplo….

9 comentários em “que se revela pela distinção”

  1. Fer, achei interessante como a nossa opinião pode mudar em certos casos e nos surpreender. A sua antipatia por essa mulher de batom cor de café, até amenizou-se quando ela tomou o seu café com discrição, justamente o contrário do que vc esperou dela. Outra coisa. Dê uma change à outras áreas. Ninguém tem que saber de tudo. Se vc é ótima em Web, outros não são e precisam aprender, e perguntar, mesmo que as perguntas sejam idiotas. Acho que até pensei em mim, quando te dei esse conselho, pois agora eu pergunto tudo, mesmo que seja bobo.
    Bjs

  2. Pois é, isso é bastante comum por aqui. Minha irmã que veio passar o mês conosco ficou muito incomodada com as pessoas almoçando no metrô.
    Dei um pulinho no outro post e queria adicionar que o que me dá nos nervos também é escutar o barulho de gente mastigando/chupando chiclete.
    Beijo

  3. Você é demais mesmo, estava á espera de insultos e cenas de “faca e alguidar” e assim imprevisivelmente acaba com um elogio, e ao mesmo tempo com uma lição. Para não variar diverti-me muito.

  4. eu tenho pavor da mania da comilança, sou neurotica de guerra, principalmente em reunioes, se bem que durante as aulas eu nao consigo impedir, mas odeio…tem gente que come coisas do arco da velha, naqueles potes de plastico, sem contar que tinham uns coelhos que comiam cenoura crua às 9 da manha, ja viu coisa mais barulhenta que comer cenoura crua ? Pior que isso soh quando se metem a comer chips, doritos, e assemelhados ou a tomar sopa e café fazendo barulho. Uma vez eu nao me aguentei e tive que falar ! ha ha ha. Beijocas.

  5. Menina, esse hábito é realmente muito comum aqui. A hora menos sagrada é geralmente a do almoço, ninguém quer perder tempo parando para comer sossegado. Mas apesar de achar tudo muito inconveniente, por que EU preciso de tranqüilidade para degustar, me concentrar na comida, em vez de falar ou pensar em trabalho, sempre fico impressionada com a classe de certas pessoas nessas horas, é como você disse, uma coreografia bem harmonizada e discretíssima. Dá gosto de olhar.

  6. Não gosta dela por ser uma chata de botas que encontra defeitos em tudo. Mas admirou ela pelo jeito que ela come.
    Você é peculiar.
    Mudando de assuto. Queria ver a tão comentada panela de ferro que você usa para fazer as torradas de pão. Eu imagino uma frigideira antiga e gasta, e as torradas crocantes e saborosas. Por que não faz um post especial para a ‘fazedora’ de torradas?
    Beijos!
    Luiz

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