Comida!
Minha comida é frugal. Não tem nada de especial e não pode me tomar muito tempo, pois me condicionei a não fazer nada que leve mais de trinta minutos para ser preparado. Não vou dizer que minha comida não seja criativa – usando os legumes e verduras que eu compro da horta orgânica, ou mesmo saborosa – quando consigo não salgar muito, nem deixar queimar nada.
Mas quem vê a minha coleção de livros de cozinha com certeza pensa que eu sou aprendiz de chef ou uma sofisticada cozinheira, uma gourmet. Eu adoro livros de cozinha. Mas os coleciono muito mais por um prazer voyeur do que pelas suas qualidades práticas. Eu me inspiro nos livros, mas não cozinho baseada neles e raramente sigo uma receita ao pé da letra. Tenho uma tendência quase neurótica a mudar os ingredientes, as quantidades e depois ficar reclamando como uma ranzinza quando a receita vira uma gororoba incomível.
Pra não dizer que não uso receitas, até que andei fazendo algumas coisinhas da fantástica revista da senhora Martha Stewart, Everyday Food [que recomendo fortemente, apesar dos enroscos legais da sua criadora]. E quando me entusiasmo com um livro ou com um estilo de comida [como foi com a cozinha tailandesa], acabo seguindo algumas receitas. Mas tenho que fazer um esforço, também porque sempre falta um ingrediente ou esqueço de deixar a manteiga na temperatura ambiente ou de descongelar a carne, detalhes geralmente essenciais para o sucesso da empreitada.
Minhas aventuras na cozinha são mais divertidas do que saborosas. Como aquela inesquecível sobre a receita de chucrute com salsichas da minha mãe! Mesmo não sendo a cozinheira que gostaria de ser, continuo comprando livros, colecionando revistas e me deliciando com programas de culinária na tevê. Um dia, quem sabe, vou escrever o meu livro de receitas, que virão com certeza acompanhadas de muitas histórias.
Chucrute com Salsicha
Eu sou uma aficionada por livros e cadernos de receitas, apesar de não cozinhar tão bem quanto gostaria. Mas eu adoro tê-los e vivo a folheá-los! Especialmente se eles forem antigos, manuseados, cheios de historia.
Minha mãe tem um monte de cadernos assim. Uns são fichários, porque ela sempre foi uma mulher prática e trabalhou em banco por trinta anos. Eu adorava abrir o fichário e destacar a folha da receita que eu queria. Elas eram todas borradas de ingredientes respingados e cheiravam como a casa da minha infância. Sem falar na letra da minha mãe, que é bem definida e interessante, letra de mulher que não tem tempo, não tem saco, nem gosta de cozinha, mas quer ter todas as receitas.
Quando comprei meu primeiro computador pessoal em 1987, estava tão entusiasmada com a geringonça que resolvi que iria “passar a limpo” as receitas dos cadernos da minha mãe. Que audácia! Bom, a tarefa deu com os burros n’água por vários motivos. Um deles porque eu cato milho, o que deixa a digitação mais lenta que passo de tartaruga e a quantidade de receitas era enorme. Outro porque as receitas eram tão deliciosas, que eu digitava uma e corria pra cozinha pra preparar algo pra comer, em total desespero!
Uma dessas receitas me fez chorar de tanto rir. Eu não conseguia acreditar no que estava lendo. Minha mãe sempre trabalhou fora. Aposentou-se em 1982 e continua trabalhando até hoje. Ela é uma mulher realmente ativa e prática, uma pessoa que vai logo ao ponto. Então a receita que me fez rir muito e que eu nunca consegui esquecer estava assim:
Chucrute com Salsicha [da Maria José]
Compre o chucrute pronto e sirva com as salsichas.
Ha Ha Ha Ha! Me enche os olhos de lágrimas só de escrever isso! Essa receita é a CARA da minha mãe!!! Ha Ha Ha Ha Ha!!!!