Biddy e o homem do abacate

Eu vou pulando de livro em livro. Não tenho vergonha de confessar a minha volubilidade. Pulei desta vez para Serve it Forth da M.F.K.Fisher, e li um capítulo muito apropriado entitulado On Dining Alone, onde a autora primeiro conta a divertida aventura gastronômica de Biddy, uma garota de dezesseis anos que descobre os prazeres da mesa soziinha num restaurante kosher em Los Angeles.
Logo a seguir, Fisher descreve o homem que sempre jantava sozinho num restaurante que ela frequentava. Ele sentava-se num mesa de canto, vestido de maneira formal e antiquada. O homem comia frugalmente e bebia meia garrafa de vinho acompanhando a comida. E para sobremesa ele sempre pedia a mesma coisa: um abacate, que era trazido até ele envolto num guardanapo. O homem apalpava a fruta delicadamente e a cheirava, então fazia um sim com a cabeça, aprovando. O abacate era então cortado ao meio com uma faca de prata e o homem retirava a casca e a semente de um lado, colocava a fruta delicadamente no prato e enviava a outra metade de volta para a cozinha. Açúcar de confeiteiro era então trazido e colocado na cavidade da fruta. Finalmente o Sommelier aparecia com uma garrafa de kümmel russo em formato de urso e colocava um copo cheio da bebida sobre açúcar, esperava o homem aprovar e se retirava. O kümmel desaparecia na montanha de açúcar colocada no centro do abacate, enquanto o homem mexia e amassava a fruta com delicadeza. Finalmente ele comia, colherada após colherada…
Adorei essa história, e fiquei incrivelmente inspirada par testar novas maneiras de comer o abacate!

amoreco

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Passei por ela na lojinha de antiguidades e ganhei uma piscadela – hey, you’re a swell gal! No mesmo minuto decidi que ela seria minha. Impossível resistir à uma jarra com essa cor e esse design moderno – tão típico da década mais bacana do século vinte – os anos trinta.

cor-de-rosa & fumegante

Faz tempo que estou pensando numa coisa e hoje fui checar alguns websites listando cafés em Saskatoon, Saskatchewan. Num deles, cliquei num mapa e quando vi os nomes das ruas e dos parques da cidade onde morei por tantos anos, senti meu coração doer daquele jeito estranho que só as memórias do passado conseguem fazer doer. Isso aconteceu porque lembrei de uma coisa boa dos meus invernos em Saskatchewan. E era obviamente uma bebida: um leite fervendo aromatizado com um xarope de fruta e servido em tigelas brancas de cerâmica. Não me lembro como era chamado, só lembro que entrávamos num café de esquina no final da Broadway Ave e pedíamos o leite com sabor de morango ou framboesa, que vinha fumegando dentro da tigela e bebíamos segurando com as duas mãos. Era para aqueles dias frios, pra descongelar os ossos. Minha lembrança mais querida é do dia que fui lá com a minha irmã. Deusdocéu, ela sofreu naquelas cinco semanas de invernão que passou lá com a gente! Quando eu contava do frio de Saskatchewan, parecia tudo uma piada. Mas minha irmã sentiu na pele que nada daquilo era brincadeira. Um dia fomos fazer não-sei-o-que na Broadway e estacionamos o carro na rua. Era o tempo de atravessar a rua ou andar um mísero quarteirão e já estávamos com as pestanas cheias de gelo. Os olhos eram a única parte do corpo que ficava descoberta. Tínhamos que enxergar e iria ser o cúmulo da ridiculice, além de toda a fantasia de esquimó, ainda ter que usar goggles. Nesse dia entramos no tal café – que não lembro o nome e pelo jeito não existe mais – completamente transtornadas, com as pestanas cheias de gelo, e pedimos duas tigelas de leite com sabor de framboesa. Bebemos sentadas ainda de casacos, cachecol, touca, com as bochechas vermelhas, as pestanas molhadas. O leite fervendo foi esquentando o nosso corpo e a nossa alma. Fomos ficando mais relaxadas, menos transtornadas, fomos tirando os mil traquelaques invernais, tiramos o casaco e ficamos conversando por um tempao lá dentro do café aconchegante e cheio de gente tomando leite, chá, café, lendo livros ou jornais ou conversando, como nós.

te vi no jornal!

Acordei no domingo de manhã para a matéria da Claire no jornal Davis Enterprise, que já estava enroladinho no tapete da porta de entrada. Eu estava um pouco preocupada com relação ao texto e fotos, afinal falei até não poder mais, nem lembrava mais se tinha falado alguma abobreta comprometedora. Mas foi uma surpresa ler a excelente matéria da promissora jornalista. O fotógrafo também fez um trabalho caprichado e a edição foi bem criativa, ilustrando a história com a foto do Brendon cozinhando meticulosamente, eu comprando produtos orgânicos no Farmers Market e o Garrett sendo a criatura charmosa que ele naturalmente já é, sentado no café mais gostoso da cidade, o Ciocolat. Estava esperando os meus companheiros blogueiros escreverem sobre o evento, mas pelo jeito vou ser a primeirona!
Essa foi uma das poucas vezes que gostei ter sido colocada no spotlight. Meu vizinho veio me dizer – hei, te vi no jornal! É a primeira vez que saio numa matéria na cidade onde eu vivo, onde as pessoas podem me reconhecer. Thrilling!
* ainda não há versão online, mas tirei fotos da primeira e segunda páginas da matéria.

três pequenas considerações

Finalmente fiz uma coisa que este blog realmente necessitava. Arrumei os links em ordem alfabética, porque estava tudo ridiculamente desorganizado, parecia a casa da sogra, dava até vergonha. Então resolvi também explicar algumas coisinhas aqui.
Sobre links: Eu linko quem eu gosto, quem comenta e quem me linka. Por isso nem todos os blogs são culinários. Agora que está tudo mais organizado, se notarem algo faltando ou sobrando, por favor me avisem!
Sobre comentários: Desde os primórdios, aqui e nos meus outros blogs, que eu sempre respondi comentários que precisavam ser respondidos ou agradecidos em particular. Eu tentei inúmeras vezes responder no próprio blog, pra fazer aquele chitchat, mas nunca foi pra frente. Isso não dá certo comigo, por vários motivos e tenho que aceitar o fato que sou assim, diferente. Respondo em particular, às vezes mais rápido, noutras mais devagar, mas procuro não falhar. Só quando acho que todos devem ler, respondo no blog.
Sobre os arquivos: Desde que este blog completou um ano, que tem um link na coluna da direita mostrando um post arquivado: menu de outros anos. É um script chamado “same day”, que linka o post escrito no mesmo dia, em diferentes anos. No The Chatterbox o script linka posts de seis anos. Aqui só um ano, pois este blog é criança. É divertido de ler, e até eu me surpreendo com as coisas que já escrevi.

abóbora com gorgonzola

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Comprei uma abóbora rústica linda no Co-op outro dia. Marquei touca de não tê-la fotografado. Cortei ao meio e coloquei no forno. A polpa super laranja, cremosa e doce me impressionou. Quando isso acontece, fico sem saber o que fazer. Deveria ter simplesmente comido com a colher. Mas resolvi inventar e temperei a polpa com sal, pimenta e um micro tantinho de cebolinha verde super picadinha. Coloquei metade da polpa no refratário, cobri com gorgonzola, coloquei a outra metade e coloquei no forno por uns minutos. Ficou bom, mas o queijo dominou tudo e escondeu o sabor magnífico da abóbora. Fiquei um pouco frustrada e cada vez mais convencida de que less is more.