Saímos de Portland na manhã do 4 de julho porque achamos que não valia a pena ficar na cidade no feriado quando tudo fecha. O Uriel queria conhecer o wine country do Oregon e fomos descendo em direção à California e olhando as vinícolas no Yelp, selecionando as que estavam abertas. O Oregon é bem famoso por produzir excelentes Pinot Gris, um vinho branco bem refrescante. A Oak Knoll foi primeira vinícola que paramos no Willamette Valley. Por uma taxa de $5 pode-se fazer um tasting de seis vinhos, eu escolhi os brancos, todos deliciosos. Seguimos para mais outras vinícolas, na David Hill eu apenas comprei uma taça de pinot gris e fizemos um mini picnic numa das inúmeras mesas espalhadas pelo local. A nossa, sobre a sombra de uma antiga macieira, dava uma vista espetacular das montanhas e do vale. Os caminhos entre uma vinícola e outra eram rusticos e tortuosos. Algumas estavam fechadas, mesmo com indicação de aberto no Yelp. Isso acontece muito. Mas foi um passeio super agradável. A Amity Vineyards, a última vinicola onde paramos, era isolada no alto de um morro, com uma vista encantadora do entardecer. Os oreganians são muito simpáticos e os atendentes de todas as vinícolas nos explicaram muitas coisas sobre as uvas, a produção e os vinhos. Valeu muito a pena o passeio, mesmo num dia em que nem tudo estava aberto. Numa parte do caminho passamos por uma fazenda de berries—o Oregon é bem famoso por suas deliciosas frutinhas silvestres. Paramos para comprar algumas e encaroçar pela lojinha cheia de coisas cheirosas, saborosas e bonitas. Dormimos nossa última noite no Oregon e no dia seguinte fizemos uma boa esticada na estrada, quando vimos já estávamos novamente na Califórnia.
Categoria: Oregon
eteceterá — Portland
Fizemos toda a viagem marcando hoteis pelo caminho usando o app da Expedia e conseguimos bons preços em lugares que ofereciam até “free breakfast”, o que significa aquele continental breakfast que quebra um galho, mas dependendo do lugar é pra lá de mixuruca. Quando chegamos em Portland achamos um bom hotel na região do centro de conferências, que por ser um lugar melhor não dava o tal café da manhã de graça. Eu achei isso ótimo, pois eu queria experimentar alguns lugares na cidade. Por isso dirigimos bastante em Portland, indo pra lá e prá cá das pontes, seguindo as indicações do guia da revista Sunset. Uma das indicações era o Ristretto Roasters na N Williams Ave, que é uma área bem agitada, com inúmeras lojinhas, escolas de ioga e culinária, bares, cafés e restaurantes. Fiquei bem impressionada com a qualidade dos ingredientes que eles usam no RR. Pedi um café brasileiro feito na french press e o Uriel pediu dois cappuccinos. Eles não tinha aquele mundaréu de opções de pães e bolinhos, mas o que pedimos arrasou Péris in Chammas—um scone de cevada e morango, croissant e pão tostado com manteiga e geléia de frutas.
Outro lugar altamente recomendado foi a sorveteria Salt & Straw na NW 23rd Ave do Alphabet District, que é uma das ruas badaladas da cidade, com uma imensidão de ojas e restaurantes espalhados por uma dezena de quarteirões. Nas duas vezes que fomos à Salt & Straw, a fila dobrava a esquina, talvez pelo calor incomum que fazia ou porque o sorvete deles é mesmo o fino da bossa. Provamos morango com balsâmico e pimenta do reino, chocolate, blueberries e crispy treats, sal e caramelo, pera com queijo gorgonzola. Eu tive que pedir um float feito com um refrigerante de ruibarbo super seco [incrível, parece uma água mineral mas não é] e só faltou o milkshake feito com o drinking vinegar do Pok Pok, mas esse eu vou fazer aqui em casa. O mais legal dessa sorveteria é o atendimento feito por um batalhão de garotos e garotas super simpáticos que te abordam ainda na fila para pegar seu pedido e perguntar quais sabores você quer provar. Se você pedir um ou pedir dez, eles trazem cada um deles num colher de metal que serão depois colocadas em caixas, lavadas e esterelizadas. Na Salt & Straw não tem aquele desperdício de colher de plástico.
Esse passeio nos deixou um pouco divididos porque te expõe a uma vista maravilhosa da cidade, mas chegando lá no topo a gente entra num hospital, o que pode ser um pouco perturbador. O Gabriel, que foi lá uns anos atrás visitar um amigo que fazia residencia no hospital da Oregon Health & Science University [OHSU], nos recomendou pegar o bonde aéreo no terminal do Portland Aerial Tram. Mas é apenas subir, visitar o jardim e descer. Não há muito o que fazer lá em cima, além de tirar fotos da vista.
Decidimos zarpar de Portland no 4 de julho pois calculamos que toda a cidade estaria paradona, como acontece por todos os cantos nesse feriado. Saímos para tomar café e com a preciosa ajuda do Yelp [outro app que não vivemos sem] achamos um lugar muito legal para fazer um brunch, mas a espera era de 45 minutos e desistimos. Na outra esquina achamos outro lugar [Yelp recomendado] e entramos para um café da manhã americano com ovos, bacon, batatas, catchup orgânico e suco de laranja espremida na hora. Gostamos muito, sem falar que no Bijou Café esperamos menos de dez minutos para nos colocarem em uma mesa. Essa foi a nossa última experiência na cidade. Saímos de Portland ainda pela manhã e rumamos em direção ao wine country do Oregon. Vinhos e paisagens bucólicas coming up next!
Lincoln — Portland
O restaurante Lincoln foi recomendação das revistas Sunset e Food & Wine. Eu queria experimentar no Oregon a comida de um lugar que tivesse a preocupação e o zelo de usar ingredientes locais e sazonais, e que fosse casual e sem firulas, onde um casal brejeiro de turistas pudesse ir tranquilamente numa noite quente sem precisar se vestir como se estivesse indo à opera. Por isso fiz essa escolha e acho que decidi bem. O lugar era um antigo galpão na região modernizada da North Williams Avenue, onde os proprietários, a chef Jenn Louis e seu marido David Welch, mantiveram o máximo da estrutura original. Então para um jantar de uma noite de verão, sentamos numa parte do salão onde as paredes estavam abertas, podendo-se ver o movimento na rua e sentir a brisa do anoitecer. Não vou lembrar pequenos detalhes do que comemos, porque o menu do restaurante muda constantemente, eu não anotei nada e depois do segundo copo de licor de erva-doce caseiro com prosecco já não estava mesmo interessada em memorizar detalhes. Apenas aproveitei o jantar ótimo com o meu marido. De entrada pedimos uma omelete levíssima feita com ovos caipiras, ricota caseira, uma folha verde que eu tive que discretamente googlar o nome e flores capuchinhas. Depois comemos halibut com farro e outra verdura que estava espetacular, mais um nhoque de beterraba, aspargos selvagens e spaetzle com sálvia. Na sobremesa eu pedi o brutti ma buoni, que é um suspiro servido com creme fraiche e conserva de ruibarbo. Estava bom. Mas foi a sobremesa do Uriel que derrubou os muros de Babel, uma panna cotta de chocolate branco com pickles de nectarina e saba, que eu já saí do restaurante decidida que iria tentar fazer em casa [e fiz!]. Saindo do Lincoln fomos tomar um drink num outro lugar super recomendado, o Clyde Common. Lá eu ousei bebendo algo que nunca beberia normalmente, um cocktail Martinez envelhecido em barril de whiskey—gin, sweet vermouth, maraschino, orange bitters, lemon peel. Depois caminhamos um pouco pelas ruas da cidade. Portland fica duplamente linda à noite.
Bunk Sandwiches — Portland
O Bunk sandwiches foi outra dica que peguei da revista Sunset e que talvez não tivesse encontrado ou me tocado, se não soubesse de antemão que era um lugar legal. É um pequeno corredor, um “hole in the wall” que não oferece nenhum atrativo a primeira vista. É um bom lugar para um lanche rápido. Escolhe-se o sanduiche e se quiser alguns acompanhamentos de um menu escrevinhado no alto da parede, senta e espera a bandeja chegar—forrada com papel, contendo o sanduiche e chips de batata. Nós pedimos uma salada de folhas verdes também. Me senti muito audaciosa nesse dia e pedi um sanduiche cubano de barriga de porco, presunto, queijo suiço, pickles e mostarda, que estava bom. Mas invejei muito a escolha vegana do Uriel, que veio com hummus de cenoura assada, pimentão vermelho chamuscado, azeitonas, pepino e molho tzatziki e que estava delicioso. Pena que não deu pra voltar e experimentar outros recheios. Não dá pra se exigir tal façanha num passeio como esse limitado pelo tempo.
Pittock Mansion — Portland
No segundo dia em Portland fomos visitar uma mansão histórica que fica numa linda área de mata em cima de um morro. A Pittock Mansion foi contruída em 1914 pelo pioneiro e enpreendedor Henry Pittock. Nascido na Inglaterra, Pittock imigrou para a Pennsylvania e em 1853 com 19 aos pegou uma daquelas carruagens que levava famílias e aventureiros para desbravar o oeste. Pittock chegou ao Oregon, onde começou a trabalhar num jornal do qual acabou dono depois de alguns anos. A casa super moderna, apresentando uma mistura dos estilos inglês, francês e turco, dá uma visão panorâmica maravilhosa da cidade de Portland, com vista para todas as montanhas ao redor. Não posso negar que uma das coisas que eu mais gosto de fazer e que mais me entretem é visitar casas antigas. Essa me fez voltar na sala de jantar e cozinha ums mil vezes. Não é uma casa ostensiva, mas é bem ampla e confortável, com um engenhoso sistema de aquecimento e de intercom. Eles não mantinham muitos empregados e contratavam diaristas. Dá pra ver a lavanderia, a area de geladeira que era separada da cozinha, a despensa, a área do mordomo com ármários com as louças. Nem tudo na casa é original da família, pois quando a casa foi vendida na década de 60 muita coisa se perdeu. Mas quando um objeto ou móvel é original tem um pequeno cartãozinho com o logo da mansão alertando. No andar de cima fiquei muito impressionada com o quarto montado numa espécie de varanda, arejado o suficiente para ajudar os enfermos com a tuberculose, uma doença bem comum na época. E com os banheiros, absolutamente modernésimos, com chuveiros super high-tech. Não fotografei a casa por fora, porque ela estava em obras. Visitamos também a casinha do caseiros [últimas duas fileiras de fotos] que achei uma gracinha, com a cozinha mais fofa do mundo. A casinha tem dois andares e está também cuidadosamente preservada. Seguindo o guia você aprende não somentes fatos sobre a família que viveu lá, mas também sobre a cidade. Os jardins da mansão são maravilhosos e dá pra passar muitas horas lá, dentro e fora, também num pequeno museu montado no subsolo da casa, onde se faziam as festas e hoje mantém um acervo de rádios, vitrolas, gramofones, fonógrafos, televisões e outras fontes de entretenimento audio-visuais.
Pok Pok — Portland
Não sou muito boa planejando passeios e viagens, mas dessa vez fui um pouco mais organizada e usei como guia de Portland este pdf disponibilizado pela revista Sunset e algumas dicas da revista Food & Wine. Nem é necessário dizer isso, mas se você for fazer uma pesquisa rápida de onde comer em Portland, o comentadíssimo, bacaníssimo e modernérrimo Pok Pok vai estar sempre entre os primeiros. E com toda razão. No nosso primeiro dia saímos da Powell’s Books e fomos almoçar nesse pequeno restaurante tailandês, que era um dos lugares que eu queria e precisava checar na cidade. O restaurante começou numa pequena casinha e foi ampliado por causa do sucesso e demanda. A paixão do chef Andy Ricker pela cozinha tailandesa elevou o pequeno lugar à categoria cult & melhor do país. Além do Pok Pok original em Portland, hoje o restaurante tem uma filial em New York. Chegamos já era mais de 2pm e ainda tivemos que esperar 30 minutos. Você chega, dá seu nome para a recepcionista e espera. Há um bar, mesas fora e dentro. Fiquei torcendo para sentarmos fora, pois achei tudo lá dentro muito escuro apesar do ar condicionado, ausente no lado de fora.
O restaurante é bem simples e rústico, com pratos, travessas e copos de plástico, mesa forrada com oleado. O serviço é super gentil e eles respondem com a maior paciência a toda e qualquer pergunta. Eu tinha algumas, especialmente sobre as bebidas. Me apaixonei por uma bebida de fruta e vinagre. Experimentei a de ruibarbo e não consegui desviar meu foco dessa super ideia. Já tinha lido sobre os vinagres na bebida, mas nunca tinha provado. Fiquei louca e em breve escreverei mais sobre isso. A água que eles servem também é especial, vem numa jarrona e tem um gostinho diferente, pois é aromatizada com folhas de pandanus como é feito comumente na Tailândia. Tive um pouco de dificuldade para escolher o que comer no Pok Pok, porque sou uma picky eater de lascar a lenha e o menu tem coisas muito diferentes, ovo e carne de porco misturados com outros ingredientes. No final escolhi algo seguro [para mim] e gostei muito. Uma salada, uma linguiça com ervas. e arroz de coco O Uriel comeu um frango com vários molhinhos e salada de mamão verde. Não sei por que não pedimos sobremesa. Eu tinha planos de ir em outro lugar, mas não deu certo. Estávamos cansados e fazia muito calor. Acabamos indo para o hotel, mas o Pok Pok não saiu mais do meu pensamento, fiquei querendo voltar lá para me aventurar com outros pratos e ingredientes. »pok pok é a onomatopeia em versão tailandesa para o barulhinho que o amassador faz no pilão quando se esta moendo as ervas.
Portland, Oregon
Assim que chegamos em Portland, rumamos direto para a nossa primeira visita na cidade—a imensa livraria Powell’s. Ela é praticamente um ícone na cidade, pois ocupa um quarteirão inteiro, com três andares, vende livros novos, usados, raros, além daquelas inúmeras bugiganguinhas que se vende em livrarias e que nos coloca em modo de consumismo faniquito. Passamos uma hora dentro da Powell’s perdidos entre andares e corredores lotados de livros. É um lugar pra voltar mais vezes, muitas vezes, mas desta vez fizemos somente essa parada. E comprei umas coisinhas, quem resiste?
A cidade é super arborizada e cortada ao meio pelo rio Willamette. Tem vários parques e locais para se caminhar a pé, além das várias pontes que cruzamos pra lá e pra cá indo do nosso hotel para muitos lugares. Minha primeira impressão de Portland foi a de uma cidade cheia de bicicletas e cachorros. Em todo canto se via potinhos de água nas calçadas, na frente dos estabelecimentos comerciais para os animais se refrescarem. Isso pode ter sido reflexo da onda de calor que afetou também o Oregon ou pode ser uma coisa que se faz normalmente por lá. Achamos Portland bem cheia andarilhos e mendigos e eles são de todas as tribos e idades. Ouvi dizer que em Portland até os mendigos são hipsters. Ela não é uma cidade imensa, mas tem uma concentração impressionante de food carts e food trucks. É uma cidade super bonita, com muitos prédios históricos e áreas antigas, bem servida de transporte público, como os street cars que te levam pra todo canto com um ticket de uma pataca válido por duas horas.
»Nossa primeira parada no estado para abastecer o carro nos causou a maior surpresa. No Oregon você não pode colocar a gasolina no seu carro como é aqui na Califórnia. Lá self service é proibido por lei e todo posto tem frentistas para fazer o full service. Depois de tantas décadas enchendo nós mesmos o tanque do carro, achamos isso muito estranho. [ more to come…]
Oregon — a costa do Pacífico
Para quem reparou [*pisc!] estive ausente por alguns dias daqui, mas asseguro antecipadamente que o fim justificará os meios pois terei algumas coisas bem bacanas pra contar e mostrar. É que depois de tantos anos morando na vizinhança do estado de Oregon, decidimos finalmente visitá-lo. Eu já estava querendo ir até Portland desde quando o meu filho foi e ficou me contando disso e daquilo. E também porque toda revista que eu assino que fala da costa oeste, fala das cidades do Oregon, do litoral, das vinícolas e de Portland e sua cultura peculiar, das tribos, da música, da comida. Finalmente achamos a época adequada e colocamos os pés na estrada. Num dos dias mais tórridos do ano subimos pela I5, a rodovia mais rápida que liga a Califórnia ao Oregon com vista panorâmica pelo Mt. Shasta, que ainda tinha neve no seu topo enquanto o termômetro no asfalto marcava 45ºC. A paisagem é linda, com pinheiros e montanhas. Fizemos um desvio em direção a Coos Bay no litoral sul e acabamos dirigindo umas duas horas vendo apenas dunas e florestas. Eu tinha levado um farnel para fazer um picnic na praia, com gaspacho e sopa fria de pepino nas garrafas térmicas, frutas, vinho e sanduíches de queijo. Mas acabamos comendo numa pequena clareira numa área lindíssima de floresta [nem pensei nos ursos]. Seguimos em frente até a primeira área onde se via o Pacifico, com penhascos como aqui na Califórnia, onde visitamos uma lighthouse linda, a Heceta Head. Conseguimos visitar apenas mais uma praia na cidade de Newport e decidimos seguir de uma vez rumo à Portland. A costa do Oregon é enorme e não deu para subir mais pro norte sem sacrificar nossos dias planejados para gastar nos outros lugares. Vamos ter que voltar uma outra vez só para fazer uma viagem pela costa, do centro do Oregon até Washington. [to be continued…]