Gatos são animais fofinhos, que ficam lindos deitados sobre uma almofada no sofá ou enrolados no tapete em frente à lareira, dormindo aos pés da cama, rolando e desenrolando novelos de lã. Gatos não têm absolutamente nada o que fazer na cozinha. Mas é na cozinha que meus dois gatos passam um bocado de tempo, muito mais tempo do que deveriam.

O gato mais novo é um espevitado que chamamos de Roux—embora estejamos inclinados a acreditar que ele não sabe que se chama Roux, pois nunca responde quando solicitado pelo nome. Esse faz da cozinha o seu lugar de gastar tempo de bicho entediado. Quando ele não está dormindo e fica naquele trancetê sem ter o que fazer, a cozinha vira um parque de diversão. Ele corre para lá e para cá aos pinotes, dando botes em qualquer coisa que se movimente, real ou imaginária. Ele come as flores e as ervas nos vasos, tenta abrir as portas dos armários para ver o que tem dentro e se eu abrir gaveta ou porta e ele estiver pelos arredores, vai vir correndo para bizoiar curiosamente. Não sabemos exatamente o que ele faz na cozinha quando não estamos em casa ou quando as luzes se apagam e nós vamos dormir, mas temos suspeitas que ele dorme em cima da mesa e desfila pelas as bancadas da pia, xeretando em absolutamente tudo.

O outro gato é um senhor austero e obcecado por comida chamado Misty Gray. Esse nunca sai da cozinha. Se eu estou lá, ele está lá. Se eu não estou, ele continua lá. Ele dorme nos tapetes da cozinha, especialmente nos tapetes por onde eu circulo. Tenho que ter um cuidado enorme para não pisar no rabo e não tropeçar no animal. Criamos o hábito de dar uma comidinha especial para ele num canto da cozinha. Então toda noite temos o que chamamos de “o ritual do snack”. O gato fica esperando, fica pedindo, se coloca em posição estratégica de frente para a parede e enquanto você não abre o pacote e ele não vê os biscoitinhos ali no chão, não há condições de se fazer muito na cozinha, porque ele não dá sossego. Se eu pego o abridor de latas, abro um saquinho de algo ou destampo qualquer coisa, ele olha para cima com aquele carão de pidão, na esperança de que vá sobrar algo para ele. É de comer—é pra mim? Pelo menos este não dorme na mesa, nem deixa marcas de patas na bancada da pia. Ou assim acreditamos.

Meus gatos ficam à vontade na cozinha, como se ali fosse o ambiente natural deles. Assistem a vida passar pelas janelas e fazem a festa quando estão sozinhos. Mas pensando bem, não poderia ser diferente, pois é na cozinha que se concentra toda a ação da casa. Eu que o diga, pois apesar de não ser um gato, também não saio de lá.