Shirley Temple in Rebecca of Sunnybrook Farm—1938
Categoria: filmes & comida
Beach picnic [1939]
Shirley Temple
[washing dishes]
Mickey’s Surprise Party [1939]
Até tu, Minnie? Que mané fazer cookies em casa, o que! Compra pronto, da marca Nabisco, como até a mãe do Mickey fazia. hahaha! This American Life!
The Best Years of Our Lives
Já revi esse filme umas 7543 vezes e em todas elas eu choro e choro e choro. The Best Years of Our Lives é um clássico tear jerker e ganhou sete Oscars em 1946, contando a história de três veteranos voltando da Segunda Guerra e se ajustando à uma sociedade em pleno processo de transformação. Depois de milhares de filmes sobre a guerra, os heróis deixam os campos de batalha e são colocados em outro cenário—obrigados a guardar as medalhas na gaveta e enfrentar a rotina, emprego e crises familiares.
Todas as vezes que revi esse filme, talvez por estar com a vista embaçada pelas lágrimas, nunca tinha reparado no tanto que os personagens bebem e comem. Até que num dia, revendo mais uma vez [e me acabando de tanto chorar mais uma vez] percebi a cena onde o personagem do galante Dana Andrews, um piloto de combate durante a guerra, pega um trabalho preparando sundays, banana splits e vacas pretas no soda counter da farmácia da cidade. Dei um rewind no filme e revi tudo com outros olhos.
Os três personagens principais, Fredric March, Dana Andrews e Harold Russell, retornam ao país e à cidade onde viviam antes e reencontram amigos e família. A vida não é mais a mesma, nem pra eles que estiveram ausentes por anos, nem para os que ficaram. Harold Russell tem a adaptação mais difícil, já que ele perdeu os braços numa explosão e volta para casa com um mecanismo de ferro no lugar das mãos. Ele é realmente um veterano de guerra sem os braços, o que deixa a história mais impressionante. E ganhou um Oscar de melhor ator coadjuvante pelo desempenho nesse papel, que foi o único da sua breve carreira como ator.
Fredric March volta ao seu emprego de bancário, mas agora ele tem um problema com a bebida. Dana Andrews volta para a esposa, uma bimbo fútil que logo lhe dá um pé na bunda. Ele decide procurar um emprego na farmácia da cidade e tem um choque ao entrar no local e encontrar um ambiente totalmente diferente, quase uma loja de departamentos. Tudo mudou nas cidades americanas depois da guerra. Os supermercados substituiram os mercadinhos e as grandes drugstores tomaram o lugar do pequeno balcão onde se vendia remédios e produtos de higiene. Andrews começa vendendo perfume e depois vai para o soda counter, onde serve sorvetes.
Mãe [Myrna Loy] e filha [Teresa Wright] conversam seriamente na cozinha enquanto preparam o almoço, descascando batatas e debulhando ervilhas.
O filme tem muitas cenas num bar, onde os três amigos se encontram frequentemente para beber e conversar. E também tem cenas em restaurantes, onde a familia de Fredric March vai jantar e dançar, e onde Teresa Wright se encontra com Andrews. Nas cozinhas servem-se o café da manhã, com ovos e torradas feitas numa engenhoca acoplada à porta do forno. E eles comem, bebem e dialogam, tentando entender o papel de cada um nessa nova estrutura. Porque tanto pros heróis quanto pros cidadãos comuns, nunca mais o mundo seria o mesmo como o de antes da guerra.
The Grocery Boy [1932]
Mildred Pierce
Mildred Pierce é um melodrama clássico dirigido pelo Michael Curtiz em 1945 e estrelado pela divina Joan Crawford, que na época estava com a popularidade em pouco em baixa. O filme começa com um crime e a história é contada em flashback. Mildred é casada desde os 17 anos com um marido corretor de imóveis, tem duas filhas e uma vida simples. Ela faz e vende bolos para juntar uma grana extra. O marido, pulador de cerca, casca fora logo no inicio do filme, deixando a pobre Mildred não só numa situação financeira delicada, mas naquela condição desconfortável de “largada”.
Mas Mildred não se faz de rogada e sai à procura de um emprego. Como a única coisa que ela sabe fazer é cozinhar, servir, limpar, arrumar mesa, acaba de garçonete num restaurante durante o dia e fazendo tortas na cozinha da própria casa, com a ajuda da empregadinha, para fornecer ao restaurante e ajudar no orçamento. Mildred não dorme, não come, não descansa. Tudo porque sua filha mais velha Veda [Ann Blyth] precisa ter tudo do bom e do melhor. Mildred não conta para a garota que trabalha como garçonete.
Joan Crawford com seu rosto rígido e olhos esbugalhados é a epítome da determinação e do sacrificio, a mãe que faz o possível e o impossível pelas filhas. Quando a mais nova morre de pneumonia, Mildred fica devastada, mas não desiste nos seus planos de abrir um restaurante. Ela compra uma propriedade de um ex-ricaço e também se envolve romanticamente com ele.
O restaurante de Mildred se torna um sucesso. Ela mesma serve mesas, frita o frango e só descansa depois de anotar todos os detalhes financeiros do dia. Mas apesar de toda riqueza e sucesso, a filha Veda nunca está cem por cento contente. Ela quer mais e mais e rejeita as origens humildes e o trabalho honesto e braçal da mãe.
Tudo o que Mildred toca vira ouro e logo ela tem uma cadeia de restaurantes espalhados pela região. Mas a vida amorosa da magnata está no limbo e a filha Veda continua gastona, arrogante, ambiciosa e sem escrúpulos. Os embates entre mãe e filha são dramaticos e novelescos.
O filme trouxe um Oscar de melhor atriz para Joan Crawford e é até hoje um marco da melodramaturgia noir. Divertido de assistir, especialmente para se prestar atenção nos detalhes das cozinhas da Mildred, na casa e no restaurante. Comida é o que não falta nessa rocambolesca história.
O buxixo agora é com o remake de Mildred Pierce, transformado numa mini-série pela HBO, com Kate Winslet como Mildred e Evan Rachel Wood como Veda. Eu li que a reconstituição de época—os anos 30 no sul da Califórnia, é perfeita e preciosa nos micro detalhes. E também que a série mostra todo o sexo que fica totalmente abafado pela moralidade rígida da época do filme. E não seria uma grande idéia se a série disponibilizasse um food blog com as fantasticas receitas da Mildred?
I Love You Alice B. Toklas!
Peter Sellers é um advogado trintão na Los Angeles do final dos anos sessenta, levando uma vidinha bem sem graça e sendo levemente pressionado pela namorada para marcar a data do casamento. Até que conhece uma hippie que acaba passando uma noite na casa dele. No dia seguinte ele sai pra trabalhar e ela fica na casa e resolve fazer uma receita de brownies para deixar como agradecimento para o anfitrião. A receita é aquela famosa, da Alice B. Toklas, com um toque verde especial. De volta ao apartamento, o advogado e toda a família, incluindo a futura noiva e os pais, provam os brownies e já dá pra imaginar o que vai acontecer. Depois de comer os “groovy brownies”, a vidinha maçante e careta do advogado muda totalmente. Não vou contar toda a história, assistam porque um filme com o Peter Sellers sempre vale à pena e I Love You, Alice B. Toklas! de 1968 não é exceção.
Anos atrás, adquiri numa loja de antiguidades o The Alice B. Toklas Cook Book, o livro de receitas da companheira da escritora Gertrude Stein, a famosa Alice B.Toklas. Nele, foi acidentalmente publicada uma receita de um brownie de maconha, que evidentemente foi descoberta e virou um frisson durante a revolução do amor nos anos 60. A receita foi uma brincadeira de um dos amigos da Alice, que enviou a receita que acabou passando intacta pela revisão na época. O livro é uma delícia de leitura, relatando com detalhes gastronômicos [e com muitas receitas ilustrativas] os anos em que Gertrude e Alice viveram na França. E também tem lá, pra quem quiser testar com cautela, a intrigante e célebre receita do brownie.
Miss Lulu Bett
Eu não me considero uma cinéfila, porque não sou uma pessoa por dentro de todos os filmes lançados, não sei detalhes sobre quem dirigiu, cenografou, fotografou ou roteirizou. Sou apenas uma aficcionada por filmes antigos. Minha preferência é a década de trinta, mas vejo absolutamente tudo que caí nas minhas mãos ou aparece na programação do meu canal de tevê favorito—o TCM. Este filme mudo de 1921 eu peguei em DVD, durante a minha fase obsessiva em que busquei ver todos os filmes protagonizados pela diva Gloria Swanson. Miss Lulu Bett, dirigido por William C. de Mille [irmão do Cecil B. de Mille] veio extra, no lado B e foi pura diversão.
Lulu Bett é uma solteirona vivendo de favor na casa da irmã, onde é feita de servente, cozinhando, limpando e cuidando de tudo. Ela não consegue casar porque não tem um dote e por isso tem que aturar a tirania do cunhado e ser escravizada dentro da cozinha. No meio do filme ela casa com o irmão do cunhado e vai ter sua própria casa, até descobrir que o casamento era uma fraude e ser obrigada a voltar para a casa da irmã e para a labuta da cozinha, que ficou abandonada com pilhas e pilhas de louça suja acumulada. Mas a partir dalí tudo vai ser diferente, não vou contar os detalhes, mas o final será feliz!
O filme inteiro gira em torno de Lulu na cozinha, servindo a mesa, fazendo comidinhas para uma festa e até indo a um restaurante, com a irmã, cunhado e o pretendente canastrão. Pra mim o mais legal é poder observar os detalhes da cozinha, da sala de jantar, de como preparar uma refeição era um negócio extremamente trabalhoso. O filme mostra com primor todos os detalhes do fogão, da mesa, louça, talheres. Fez a minha alegria numa noite de domingo. Sem falar que a história é realmente interessante e divertida. Se você curtir filmes antigos como eu, assista!
o avental do John Wayne
O filme é fraquinho, fraquinho e tem até umas passagens um tanto cansativas. Também é cheio de clichês e de situações excessivas às quais não se pode dar crédito. Mas A Lady Takes a Chance [de 1943] é protagonizado por uma das minhas atrizes favoritas de todos os tempos—a talentosa e divertida Jean Arthur. Então aguentei assistir do começo ao fim, com John Wayne e tudo. Ele é um cowboy que se recusa a casar e ter uma vida confinada. Ela é uma garota da cidade grande, assediada por três pretendentes e que resolve tirar umas férias e viajar de ônibus pelo país. Tralalá-tralalá trelelé-trelelé, num belo dia o Jonh Wayne cai em cima dela num rodeio, ela se apaixona pelo brutamontes, perde o ônibus e hospedada num motelzinho prepara um jantar para ele, com flores na mesa, sobremesa, eteceterá. Ele detesta tudo que ela serviu, mas no final acaba na cozinha e numa situação constrangedora. Enquanto ela fala com ele, com aquela voz de marreca que era um dos maiores charmes dessa atriz, vai colocando um aventalzinho nele, para ele poder ajudá-la com a lavação da louça. Ele vai deixando ou nem percebe, até se ver na frente de um espelho. Não recomendaria esse filme pela qualidade da história, nem pelas atuações. A não ser que você seja fã da Jean Arthur, como eu sou. Ou do John Wayne, como eu nunca fui.