∴ pumpkin galore ∴

so many so many
so many so many
so many so many
so many so many

Elas estão onipresentes nesta época do ano. E vez e outra uma vira sopa, como essa da foto, que eu fiz batendo no liquidificador pedacinhos de abóbora já assados com caldo de cogumelo e temperando com azeite, sal, pimenta do reino moída na hora, ciboulettes e um pouco de half and half [1/2 creme de leite fresco—1/2 leite integral].

❧ as mudanças do outono ❧

it's fall again it's fall again it's fall again
it's fall again it's fall again it's fall again
it's fall again it's fall again it's fall again
it's fall again it's fall again it's fall again
it's fall again it's fall again it's fall again

Já posso dizer que estamos realmente no outono quando as folhas das magníficas sycamore começam a cair. Elas são as primeiras árvores que se desfolham, mas não são as que fazem da maneira mais bonita. As folhas imensas dessas árvores não ficam amarelas nem vermelhas, nem degradê, elas simplesmente secam e caem. E fazem uma sujeira e tanto. Mas não deixa de ser uma ocorrência bem-vinda depois do cansaço do final do verão. Minha casa é rodeada por umas cinco sycamore bem antigas e imponentes. Todo final de semana é um limpa limpa e as folhas gigantes continuam caindo, e vão cair desordenadamente até não sobrar mais nenhuma.

O Farmers Market de Woodland encerrou suas atividades sazonais. E encerrou com grande estilo, alongando a temporada por três semanas por causa da demanda. Fiz um estoque enorme da maçã mais deliciosa do mundo e me despedi dos meus fazendeiros favoritos com o melhor sorriso desejando revê-los todos em breve. Ganhei alguns produtos extras, colocados na minha cesta como um sinal de agradecimento. E recebi o elogio mais gentil—você foi uma super cliente! Certifiquei que estarei de volta para o próximo ano.

As abóboras abundam e acrescentam cores na peculiaridade da paisagem de outono. Já tivemos dias frios, com chuva e vento. Outros dias de sol virão, intercalados com os de chuva. Este ano está prometendo um inverno bem mais molhado. Quando dirijo para casa voltando do trabalho à tarde já não vejo mais nenhum campo de tomate ou de milho. Só vejo uma imensidão de terra sendo preparada para descansar ou receber alguma cultura alternativa de inverno. Os dias estão mais curtos e eu estou muito ocupada com toneladas de trabalho me soterrando e me consumindo. O lazer nos finais de semana é minha prioridade, com os dias de folga encabeçando a lista de desejos e cobiças. Quando eles chegam eu me comporto de maneira completamente esganada querendo aproveitar cada segundo. Porque são tantas coisas para fazer, ler, ouvir, fotografar, conversar. Além de todas aquelas folhas para varrer.

o doce que vem no figo

fig-jam_1.JPG

Parti figo ao meio e a polpa era o doce mais doce dos doces. Neste verão posso dizer que me esbaldei de comer figos. Comi de todas as variedades que achei pra comprar. Só não tive ânimo de me enfiar debaixo daquela árvore de ninguém onde todo ano me aventuro colhendo uns figos diferentes, verde claro por fora e um marrom pálido por dentro. Esses super doces comprei da mocinha que vem de Esparto vender os produtos mais bonitos no Farmers Market de Woodland. Ela já me conhece de outros carnavais e este ano teve até a audácia de guardar figos pra mim, na certeza de que eu compraria. E eu comprei. Voltei lá depois de comer os figos com doce dentro e mostrei essa foto para ela. Disse—seus figos vêm com doce de figo dentro. Ela riu com uma cara de bocó, porque muitos dos produtores do nosso pequeno Farmers Market parecem ser pegos de surpresa pelas coisas que eu falo pra eles. Sem mencionar a complexidade inovadora do discurso que vem sempre acompanhado de material ilustrativo. Saco o telefone da bolsa, mostro as fotos e falo coisas elogiosas, como se eu estivesse falando dos filhos deles, dizendo como são bonitos, inteligentes e talentosos. Eles sorriem agradecidos ou ficam com cara de abobalhados, com certeza pensando de onde saiu essa mulher que vem toda semana aqui com esse papo. Outro dia fui mostrar umas fotos dos figos pra um casal de quem eu sempre compro frutas e com quem sempre converso um bocado. Eles se entreolharam estupefatos. Num outro dia mostrei a foto das peras e das maçãs. E ainda no outro a das berinjelas rajadas. Nesse dia o moço não se aguentou e me disse entusiasmadamente—você deveria estar aqui deste lado junto com a gente, ajudando a vender nossos produtos. Ele falou isso num impulso, mas não parecia estar brincando.

[na colheita]

colheita tomate colheita tomate
colheita tomate colheita tomate
colheita tomate colheita tomate

Este verão foi um bom verão para os tomates. Não tivemos quase chuva no inverno e primavera, mas quando o calorão chegou, ficou estável por meses. Dias bem quentes, noites frescas. Imagino que tenha sido um ano de excelente safra. Os campos não estão tão pertos do meu caminho como no ano passado. Mas vi bastante colheita, desta vez um pouco mais de longe e sem muita vontade de ficar correndo pelo acostamento da estrada poeirenta tentando tirar fotos. Cliquei um caminhão aqui, outro ali, outro acolá no horizonte, cruzando a ponte do outro lado da pista. Vi muitos deles indo e vindo, completamente cheios e derrubando frutas pelas curvas ou já vazios voltando para pegar mais tomates nos campos. Vi muitas carretas cheias esperando os caminhões levá-las para as enlatadoras. As grandes plantações de tomates desta região são para enlatar e fazer catchup. São tomates comuns no formato, mas impressionantes na quantidade e qualidade. Diferentes dos vendidos para o consumo, que são um outro espetáculo—um caleidoscópio de cores, sabores e formatos que alegram os nossos olhos e paladares durante todo o verão.

dog days of summer

São os melhores e os piores dias. Os melhores por causa da abundância de frutas e legumes, os dias longos, o cheiro de feno seco pelas estradas, o entusiasmo pela colheita do tomate, as braçadas refrescantes na piscina [quando ela abre] sob um céu impecavelmente azul, a brisa da noite, os picnics, os almoços e jantares no quintal. Os piores porque estamos tendo um verão bem tórrido e nos dias em que o bafão se instala não acho possível cozinhar. A fome é quase que a mesma, mas o entusiasmo por fazer comida no fogão anda bem pequeno. Por isso cozinhando pouco estou.

dog days dog days
dog days dog days

Mas estou feliz com o inicio de agosto, pois julho foi um mês meio amargado de chatices, começando pelo gato que caiu doente logo nos primeiros dias. Fui surpreendida pela informação de que gatos e cachorros são mestres em fingir que está tudo bem e não mostrar que estão doentes. Os cachorros, porque não querem chatear, incomodar e entristecer os donos e os gatos porque são assim mesmo, orgulhosos. Pois foi então que o meu gato desmoronou de repente. Num dia estava normal—dentro do que se pode esperar de um animal com 17 anos, e no outro não conseguia se sustentar nas próprias pernas. Desde então estamos cuidando dele com o máximo de carinho e atenção. São remédios duas vezes por dia, soro um dia sim outro não, comida especial e um limpa limpa que não acaba mais, porque ele tem muitos acidentes de banheiro. Não tenho a ilusão de que ele vai voltar a ser o que era, mas pelo menos não está sofrendo. Descobrimos nesse interim que ele adora abóbora, depois que fomos aconselhados a misturar o purê do legume na comida normal para ajudá-lo com uma desagradável prisão de ventre. Quando chego em casa ele é o primeiro a aparecer, correndo todo capengueta atrás de mim, porque sabe que vou dar comida. O velho Misty Gray de sempre, o nosso gato Highlander.

Tive que parar de frequentar as classes de zumba que eu estava fazendo no YMCA da cidade por causa de uma incompatibilidade de horários e por recomendação de uma moça chamada Dolores fui experimentar uma aula com um outro grupo, que se encontra toda terça e quinta no ginásio de uma escola primária na minha vizinhança. Fiquei absolutamente chocada com a vigorosidade da coisa. Eu suo de pingar água da sobrancelha e empapar a toda a camiseta. A versão do YMCA devia ser para idosos. Já completei o meu segundo mês nessa zumba pra cabra macho e apesar de me esbaforir completamente e ainda ficar totalmente perdida nos movimentos rápidos, estou achando essa experiência super legal. Calculo que mais da metade das mulheres do grupo são hispânicas e então o ti-ti-ti é intenso. Invejo muito as moças que fazem os passos das danças com aquela graciosidade latina, sem ficar parecendo uma barata tonta no meio do salão.

dog days dog days dog days
dog days dog days dog days
dog days dog days dog days

Tentando estabelecer um esquema para a nossa rotina durante os dias de semana, com o Uriel em Sunnyvale, eu almoçando diáriamente no trabalho, as aulas extenuantes de zumba, a doença do gato, as restrições de um procedimento periodontal, as minhas tentativas de ver mais filmes e ler mais livros, a manutenção da casa, e os passeios e a vida social dos finais de semana—ajustei minhas investidas na cozinha para um modo mais quantitativo. Isto é, as comidas preparadas precisam gerar muitas sobras, para encherem marmitas ou virarem jantares rápidos e improvisados. Com um quilo de tomates ultra maduros fiz um molho que usei na preparação de uma lasanha gigante com camadas de abobrinha. Grelhei vários tipos de legumes e deixei na geladeira prontos para virarem uma salada ou recheio de sanduíche. Nos dias mais frescos cozinhei duas xícaras de quinoa, duas xícaras de arroz integral, uma de feijão, outra de lentilha. Minha desenvoltura fazendo comida crua ou usando a churrasqueira também está ficando notável. Os repetecos de receitas de sopa fria abundam. Bolos não tem acontecido, muito menos tortas ou pizza. E tem dias que a vontade realmente é de só de consumir um copão de sorvete, devidamente afogado em suco de laranja ou refrigerante de limão.