84 Charing Cross Road

O filme é adorável o suficiente apenas pela história verídica da correspondência de vinte anos entre uma divertida escritora norte-americana e um recatado livreiro inglês. Além dos zilhões de referências aos livros e escritores, 84 Charing Cross Road tem inúmeras referências à comida. No livro, que virou peça, que virou filme, a escritora Helene Hanff narra a sua amizade de duas décadas com Frank Doel, sua família e os funcionários da livraria Marks & Co, especializada em livros clássicos, raros ou obscuros da literatura inglesa.

84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road 84 Charing Cross Road

Quando Helene inicia sua correspondência e encomendas de livros para Frank em 1949, a Inglaterra estava sob um racionamento severo de alimentos. O filme mostra a situação em Londres, com filas na porta do açougue para cada família comprar, com cupom, sua ínfima porção semanal de 60 gr de carne e um ovo por mês por família.

84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road 84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road 84 Charing Cross Road

Enquanto isso, no outro lado do oceano, o panorama não era tão penoso e Helene faz compras na mercearia, escolhe legumes e frutas, pede porções de queijo e salame, percorre o pequeno corredor bem fornecido de mantimentos. Com a chegada da época das festas de final de ano e sabendo da situação dos amigos ingleses, Helene envia uma caixa com gostosuras compradas através de um catálago dinamarquês. Ela envia presunto em lata, salsichas, ovos frescos, frutas e legumes em conserva, uvas passas. A caixa é repartida entre os funcionários da livraria. Durante vários anos de racionamento, Helene continua enviando a caixa com alimentos. A alegria que uma lata de presunto ou uma caixa de passas traz para cada um deles, é comovente.

84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road 84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road 84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road 84 Charing Cross Road
84 Charing Cross Road

A correspondência entre Helene, Frank e esposa e todos os funcionários da livraria atravessa décadas, mas ela nunca consegue visitá-los em Londres e só vai finalmente cruzar o oceano depois da morte súbita de Frank. Esse filme é um bálsamo para quem curte ler—literatura de qualquer época ou país. É claro que quem saca de literatura inglesa vai aproveitar muito mais. Assista, nem que seja só para pescar as muitas menções gastronômicas ou ouvir o que Helene diz sobre os livros usados. It’s quite lovely.
São muitas referências à comida, além das caixas com alimentos enviadas aos amigos numa Londres desprovida. No Natal de 49, enquanto monta e decora a árvore, Frank pergunta à esposa Nora o que ela estava fazendo, a resposta é mince pies—um doce clássico nas festividades de final de ano. Helene também prepara, no jantar de aniversário do amigo inglês Brian, uma receita do famoso yorkshire pudding. E uma das suas encomendas à Frank é o livro de memórias do oficial inglês Samuel Pepys que é cheio de detalhes da sua rotina culinária e aventuras gastronômicas da Inglaterra do século 17. No filme, Helene fica furiosa ao receber o volume com excertos do livro e não o original completo, redigindo logo em seguida, com batidas vigorosas na sua máquina de escrever, uma carta muito divertida para Frank.
charingcross-road_22S.jpg
Mas a cena com referência culinária mais delicada é quando a funcionária Cecily desce até a cozinha da livraria, lendo uma das cartas de Helene, para preparar o chá. Um dos seus colegas vem dar uma olhada e saber se o chá já estava pronto. Uma tradição e talvez uma necessidade, para aquecer e enganar o estômago. Enquanto ela prepara o chá, ele comenta: “What would we do without our cups of tea? Life would be insupportable, how would it not?”

15 comentários em “84 Charing Cross Road”

  1. Nem preciso falar muito, aliás, o que nunca fui de fazer mesmo, mas o seu blog é parte obrigatória da minha leitura diária de blogs…quando faço algo, falo pro meu marido: é do Chucrute, da Fer…(como se fosse minha amiga há muiiiito tempo…rs…)…e fui atrás do filme porque nunca o tinha visto…estranho pq Anthony Hopkins é um dos meus atores preferidos..obrigada Fer,…pelo delicioso blog, pela paciência, pelas referências e fotos lindas…
    Beijos.

  2. Fer,
    Adoro quando vc comenta sobre algum livro ou filme. Procuro na hora! E no caso desse filme, já tinha ouvido falar, mas nunca me liguei do que se tratava. Depois que li seu post já corri para baixar. Apesar de ser ilegal por aqui…:S. Continue sempre nos dando essas dicas maravilhosas! Seu blog é meu favorito! Sempre!!Beijos!

  3. Fer, eu amo esse filme, já vi várias vezes! Lembro-me da primeira vez em que vi, estava aí nos EUA, na época do meu intercâmbio (1990/91), long time ago…e amava ver um canal de TV á cabo chamado Nostalgia.
    Que delícia ler seu post e relembrar a história!
    Um beijo!

  4. Que texto lindo, Fezoca! Tão bem escrito, e com emoção.
    Já anotei o nome do filme, vou tentar ver se encontro por aqui. Não vi e já gostei. 😉
    Beijo!

  5. Oi Fer, sempre leio o seu blog. Acho lindas as suas receitas apesar de não comer alguns ingredientes das suas preciosidades. Esse filme é o favorito do meu pai, fã da Anne Bancroft e do Hopkins. Ele tem em VHS e DVD e já viu mais de 50 vezes tranquilamente. É lindo mesmo.
    R: Maia, obrigada! 🙂 se eu tivesse o DVD, iria rever sempre tambem, como o seu pai.

  6. Fer, sou admiradora e leitora aquí tão distante na velha Bahia. Amo gatos, torci pelo Misty, tenho duas (de rua, recolhidas com fome).Gosto do seu jeito de escrever, seu estilo.Obrigada por tudo que vc compartilha e por esse belo filme.
    Lí no seu arquivo de fevereiro de 2007 sobre uma pessoa em dificuldade para castrar animais.Nào sei como fazer contato, mas o nosso atual prefeito parece ser homem civilizado e sensível e reformulou as políticas com relação ao Centro de Controle de zoonoses, de formas que agora dispomos de serviço gratuíto em excelent clinica credenciada com a Prefeitura. Basta ligar 160 e a pessoa é encaminhada nos tramites burocráticos.Posso afirmar pq castrei as duas gatinhas e já indiquei várias. Sei que a informação é tardia, mas só há pouco tempo frequento blogs e tive o cuidado e prazer de ler suas antigas postagens
    R: oi Angelica, obrigada pelo comentario e pela dica da castração. espero que a pessoa que comentou aqui no passado possa ler isso! um beijo

  7. Oi Fer
    Eu creio que esse é um dos melhores filmes que já vi. Comovente.
    Acho que está na hora de ver novamente.
    Obrigada pela lembrança.
    beijos

  8. Não conhecia, provavelmente é mais um bom filme que não saiu em Portugal. Vou ter que procurar o título em Português! Fiquei curiosa, adoro este tipo de filmes 🙂
    R: no Brasil se chamou Nunca Te Vi Sempre Te Amei. espero que você encontrei ai. 😉

  9. Oi Fer,
    Esse filme é realmente um achado. É simples e singelo, mas com uma profundidade muito grande quando conhecemos melhor os temas envolvidos!
    Não tenho muitos conhecimentos em literatura inglesa, mas estudo cartas e troca de correspondência, então é interessante acompanhar o desenrolar das conversas deles e tranpor para o plano teórico dessa área!
    Como está o Misty? A Margot tirou os pontos da castração e está ótima.
    bjs
    R: Paulo, realmente o desenvolvimento da conversa deles é um deleite de se observar! O Misty está bem, comendo. se está comendo está tudo bem. melhoras rapidas pra Margot! beijo 🙂

  10. Esse foi um dos filmes que eu acabei não vendo na época de estréia mas sempre tive vontade de ver. Valeu a lembrança, Fer, vou botar no meu Netflix…

  11. Adoro este filme, mas não me lembrava de tantas referências culinárias! E a Charing Cross Road e suas livrarias é um dos lugares que mais adoro em Londres.
    No Brasil, o filme tem o singelo nome de “Nunca te vi, sempre te amei”.
    Eneida

Deixe uma resposta para AmeixinhaCancelar resposta