A tia Adelaide era uma figura carismática, sabidona, querida por todos e ainda era uma cozinheira de mão cheia. Super alegre, sincera, bonitona, tinha uma voz bem alta e falava as coisas mais engraçadas com aquele sotaque de italiana-paulistana. Sempre ouvi histórias de como ela foi a responsável pela minha mãe ter conhecido o meu pai. A Adelaide era a tia casamenteira, gostava de arrumar as moças, mandava as meninas passar creme e perfume, pintar as unhas, fazia escova [que eu detestava] no nosso cabelo. Ela morava numa casa super legal com uma escada de caracol para subir para os quartos, cozinha toda branca com móveis modernos, sala forrada com carpete felpudo vermelho onde éramos proibidos de pisar com sapato. A tia Adelaide também tinha uma televisão colorida na sala, que hipnotizava as crianças. Eu adorava ir visitá-la, mas admito hoje que com todas as coisas legais que tinha pra ver e fazer lá, a comida era a última coisa que chamava a minha atenção. Sentada na mesa da cozinha eu gostava era mesmo de ficar ouvindo as conversas dos adultos.
Outro dia pelo telefone minha mãe comentou que tinha feito essa torta da tia Adelaide e eu imediatamente pedi a receita. Ela chegou rapidinho por email e desde então eu já fiz duas vezes, com apenas umas pequenas modificações. A primeira foi diminuir a quantidade dos ingredientes pela metade. A receita original levava um quilo de farinha, pois provavelmente fazia uma torta para uma família grande ou para uma festa. Também aumentei a quantidade do recheio, que pedia 3 maços de cebolinha e eu usei 5 [ou talvez 6]. E acrescentei um pouco de farinha integral na massa. O aliche não fica forte, acrescenta apenas umami ao recheio. Para veganizar o recheio, troque o aliche por alcaparras, fica muito bom. A massa parece que não vai funcionar, por ser tão simples, mas não só toma forma como é fácil de abrir. Essa torta de cebolinha da tia Adelaide poderia ser a receita inaugural de um livro de compilação das preciosidades da nossa família italiana. Já dei a ideia pra minha mãe, vamos ver se ela topa.
massa:
500 gr de farinha de trigo [*usei 1/3 integral, 2/3 branca]
1/2 xícara de óleo vegetal
1 e 1/2 xícara de água mornal com sal
Colocar a farinha e o óleo numa vasilha grande. Mexer bem com o garfo até esfarelar. Daí vai adicionando a água aos poucos [pode ser que não precise de tudo] e mexendo até formar uma massa, sove até formar uma bola. Abrir a massa bem fina com o rolo e colocar sobre uma assadeira.
recheio:
5 maços de cebolinha picadas
2/3 de xícara de uvas passas
1 xícara de azeitonas pretas picadas
1 vidro de aliche/anchovas [escorra o óleo e pique bem –– *para veganizar essa receita, substitua o aliche por 1/2 xícara de alcaparras escorridas e picadas]
Sal a gosto
Numa panela grande colocar azeite e refogar rapidamente a cebolinha [não deixe fritar]. Adicione as passas, as azeitonas, o aliche e um pouco de sal.
Pré-aqueça o forno em 365ºF/ 185ºC. Coloque o recheio sobre um lado da massa e dobre fechando bem as bordas. Pincele a torta com uma mistura de ovo e leite e salpique com sementes de gergelim [*invenção minha]. Leve ao forno até a massa ficar dourada. Remova do forno e sirva, quente ou fria.
Olá Fernanda,
Quanta felicidade de encontrar a receita dessa torta que minha mãe fazia e eu perdi a receita.
Só tenho uma dúvida, não vai fermento?
Desde já grata,
Maria Dolores
R: oi Maria Dolores, que bom que você achou a receita aqui! aproveite bastante! sim, não vai fermento. 🙂
Fernanda,
Estamos todos reunidos na praia vendo seu blog, lembrando das estórias da família.
Quanta emoção ver seu post da torta da minha avó Adelaide.
Vamos manter contato, me passe seu facebook.
Bjs de toda a família Masullo
R: Camila, que bom que voces leram, acho que escrevi pouco sobre ela, porque a influencia dela em mim foi imensa. um beijo pra todos. Estou no facebook — Fer Guimaraes Rosa. vou te procurar por la.
Fernanda querida, Boa noite!
Amo seu blog, suas receitas, suas fotos, suas histórias, enfim, amo seu blog! rsrsrsrs Toda semana eu entro, mas quase não comento, fiquei com água na boca com essa torta, fora a história, fiquei imaginando como era a tia Adelaide, mas senti falta da foto com a torta aberta, estou salivando e tentando imaginar como ela ficou…
Tomara que a ideia do livro dê certo! Compraria com certeza!!!
Bjs de uma fã do seu maravilhoso Blog, Lílian.
R: querida Lilian, muito obrigada pelo comentario! a torta nao fica bonita por dentro é um recheio de verdura cozida, mas o sabor é sensacional! tambem estou torcendo pelo livro, nem que seja so pra gente xerocar, né? beijo pra voce! :-*