Thinking out of the box

Panzanella com aspargos e croutons? Mas panzanella não é …. Opaaaa, pode parar, pode parar!!

Quando vi a panzanella do Della Fattoria em Petaluma a minha primeira e mais primitiva reação foi lembrar das receitas tradicionais e pensar que algo ali estava errado. Eu não costumo pensar com esse tipo de bitola e quero me considerar sempre uma pessoa aberta para experimentos, novidades, inovações, transformações. Acho que uma das coisas mais irritantes que existe no mundo culinário é a intolerância e o tradicionalismo. Isso não pode, aquilo não é feito assim, tal ingrediente não vai com tal receita, não é assim que se cozinha esse prato, não pode fazer deste modo esta iguaria, não isso, não aquilo, não aquele outro, porque a tradição é assim, porque lá na minha terra faz-se deste jeito que é o jeito certo.

Minha personalidade rebelde e não seguidora de receitas se agita nesses momentos. Não pode por quê? Quem disse? Quem ditou essa regra? E por que seguir restritamente uma regra, se temos fartura de ingredientes e imaginação de sobra para criar e recriar nossa própria tradição? Acho imprescíndivel que se tenha ganas e intrepidez para mudar e transformar. Gosto de ver receitas sendo reinventadas, tanto através da criatividade, como da necessidade. E a necessidade é a mãe da invenção—não tem isso, põe aquilo, falta algo, substituí, esse não tem por aqui, usa aquele. E assim temos a esplêndida oportunidade de experimentar sempre algo novo.

O que seria da deliciosa lasanha de berinjela se os patrulheiros do tradicionalismo tivessem execrado o prato e não permitido que ele recebesse o nome de lasanha? E a pizza portuguesa, de catupiry com frango, a havaiana ou californiana? Não são pizza? E o cassoulet de grão de bico, não pode ser chamado de cassoulet porque não tem feijão branco? E o clafoutis só pode ser de cereja, não pode ser de damasco? Quem disse que eu não posso mudar alguns ingredientes, tirar, acrescentar, e continuar usando o nome original do prato? Onde está a lei que me força, me obriga a só fazer a tal receita de um certo modo?

Eu já andava ruminando sobre esse tipo de bitola gastronômica, quando me encontrei com os blogueiros de Sacramento e ouvi as mesmas preocupações e reflexões proveniente de outras fontes. A sopa de cebola tradicional não é feita assim, a torta de carne não tem esse ingrediente, o queijo certo não é esse, como você ousa apresentar essa receita? Bem, somos todos visionários! No dia em que alguém me ouvir dizer, não é assim, isso não é o certo, pode me esbofetear com força. Insubordinados do planeta culinária, uní-vos! Mudem os ingredientes e as receitas! Revolução já!

18 comentários em “Thinking out of the box”

  1. Fer
    Tô atrasado mas sigo seus passos
    Poxa, pena que somente hoje esteja lendo essas “mal traçadas linhas” do seu blog… É isso mesmo. Revolução já!!! Eu também sou um revolucionário emérito e primo por alterar as receitas, acrescentar e suprimir ingredientes de acordo com o que eu acho que ficar melhor… É um direito pessoal, individual e ninguém pode obrigar a gente a se bitolar. Receitas são para se experimentar, modificar, aperfeiçoar. Parabéns!!! É isso mesmo
    Antonio César

  2. Fer, nao vejo problemas em seguir uma receita, mas nao me aperto, e frequentemente coloco coisas e tiro por minha conta, e detesto quando me dizem que nao pode colocar isto ou tirar aquilo de uma receita, e é assim que aparecem sabores novos ! bjs

  3. Elvira, voce eh muito gira! Tudo isso que voce citou eh muito abismante, mas eu consigo perceber claramente. Voce acha que essa turrice tradicionalista eh mais forte na Europa? Porque nas Americas, somos experts em fazer adaptacoes. Sem adaptar nao
    teriamos sobrevivido. O caso do milho eh uma coisa interessante, como o europeu teve que aprender a usa-lo. E ate hoje, comida com milho ainda eh considerada uma coisa rustica, de pobre. A farinha de trigo, centeio, eh que sao coisa fina!
    Beijaoo pra voce,

  4. Luna,
    E eu concordo com voce, pois tambem sigo receita, do meu jeitao descabecado, mas sigo. Se nem sempre [ou quase nunca ;-)] a risca, pelo menos como inspiracao, usando como base.
    Mas odeio patrulha, que vem e torrar a paçoca e dizer que isso nao eh isso, porque nao usei os ingredientes xis e ypsilonio. Quero ter liberdade de usar os ingredientes que estao a minha disposicao, tentar ser criativa, sem ter que ficar me explicando. Cozinhar em si ja eh um esforco imenso pra mim.. 😉

  5. Fer, eu fico no meio termo. Concordo que devemos sempre renovar tudo, e detesto puristas, mas também não vejo problemas em se seguir uma receita. Acredito que fazer algo que outra pessoa inventou é uma maneira de “comungar” com ela ou com uma cultura. Eu sempre digo que uma receita nunca é a mesma feita por pessoas diferentes, mesmo que se siga tudo direitinho. Até porque os ingredientes diferem pra cada país, região, e há sempre espaço para o improviso, o que é ótimo. No entanto isso funciona pra mim até certo ponto, porque não tenho muita segurança em experimentos, mas acho o máximo quem procura sempre revolucionar. Beijos.

  6. Acho que devemos ter a mente livre dos reconceitso, mas se por um lado isso pra mim é facil, pq gosto de fazer minhas próprias alterações nas receitas, por outro é ruim, visto que ainda tenho uma cera gama de preconceitos comdísticos, do tipo não comi e não gostei…
    Enfim, concordo com vc na experimenação e com Diogo nas não-gororobices.
    Bjos!

  7. Assunto polêmico. Menina, quando eu era criança, queria botar farinha no macarrão e me diziam: “Meu Deus, onde se viu isso?? Não, não pode, de jeito nenhum.” Daí questionava sempre aonde é que tinha escrito que não podia e quais as conseqüências que sofreria se o fizesse. Comecei a rebeldia logo cedo. Por outro lado, devo confessar que outro dia, as sobrancelhas levantaram e senti a testa franzindo, ao ver o que uma criatura na televisão chamou de acarajé e uma revista denominou de vatapá. Mas é necessário “deixar cada um com suas idéias…”, assim diz minha mãe, “live and let live”, evitando tolher o espírito criativo de quem quer que seja.
    Agora vamos e covenhamos, a idéia de acarajé com maionese, mostarda e ketchup por exemplo,se enquadraria perfeitamente nos outros extremos dos quais mencionou Diogo.

  8. Assunto polêmico. Menina, quando eu era criança, queria botar farinha no macarrão e me diziam: “Meu Deus, onde se viu isso?? Não, não pode, de jeito nenhum.” Daí questionava sempre aonde é que tinha escrito que não podia e quais as conseqüências que sofreria se o fizesse. Comecei a rebeldia logo cedo. Por outro lado, devo confessar que outro dia, as sobrancelhas levantaram e senti a testa franzindo, ao ver o que uma criatura na televisão chamou de acarajé e uma revista denominou de vatapá. Mas é necessário “deixar cada um com suas idéias…”, assim diz minha mãe, “live and let live”, evitando tolher o espírito criativo de quem quer que seja.
    Agora vamos e covenhamos, a idéia de acarajé com maionese, mostarda e ketchup por exemplo,se enquadraria perfeitamente nos outros extremos dos quais mencionou Diogo.

  9. É verdade. Sou contra os puristas na culinária, na lingüística etc etc etc! Mente tacanha não dá!Abaixo o tradicionalismo culinário e viva o hibridismo gastronômico! 🙂

  10. Apoiada, apoiadissima!!!
    Criatividade eh a palavra, saber ser flexivel e adaptar-se ao que temos a nossa volta, ou no caso na geladeira!!
    Parabens Fer, penso como voce, temos as tradicoes mas temos tbem liberdade de criacao, e diversao na cozinha eh essencial!
    Estou sempre testando e experimentando, mudando um ou outro ingrediente ali de acordo com o que gosto mais, e assim estamos sempre variando e enjoying alegremente as mais inusitadas, porem nao menos deliciosas, experiencias culinarias!
    Beijao!
    Ana

  11. Estou consigo nessa “luta” a 200 %! Nada me irrita mais que parvoeiras intolerantes relativamente à culinária. Já recebi muitos comentários idiotas…
    E então, a blogosfera francesa… Às vezes até se zangam com insultos à mistura e tudo. Já vi blogues a fechar por causa de idiotices dessas.
    Culinária tradicional que recusa inovações… morre! Vai para museu e pronto. E se um prato “sofre” alterações, é bom sinal: é porque gostam delo.
    Beijão enorme.

  12. Estou contigo e não abro, como dizia aquele personagem do Chico Anísio. Não consigo seguir receitas sem dar uma mexidinha nelas e amanhã já tinha me preparado para fazer um clafoutis de morangos (acho que vai ficar uma delícia). beijocas.

  13. Hahahahha
    Insubordinação djá! Adorei, Fer, e concordo com você. Como escrevi outro dia, poucas são as receitas que me deixam com vontade de ser obediente, bem poucas mesmo. Quando quero comer algo tradicionalíssimo, vou a um restaurante, pois não tenho muita paciência para fazer as coisas “comme il faut” 😀
    E viva a intrepidez também, minha eterna companhia na cozinha!
    beijos

  14. Ha Ha Ha! Diogo, concordo!
    Eh pra inovar com classe, nao fazer misturas gororobisticas aleatorias. Sushi de goiabada vai queimar no fogo do inferno, hein? :-))
    beijaoo,

  15. Fer, demais!!! É bem isso, chega de intolerâncias e gastrochatos (essa eu inventei agora, hehehe)…
    Mas, num aspecto eu concordo com eles: sushi de goiabada, sushi de presunto, sushi de mumú, sushi de coração de galinha (já vi), é too much. Aí é o outro extremo né?!
    Bjão queris!

  16. Fer, considere-me uma boa companheira, no sentido mais revolucionário do termo. Te indiquei para o prêmio Blog com tomates, dê uma olhadinha lá no blog. Beijos, Lara

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