calzoni di ceci
[pasteizinhos de grão-de-bico]

No Natal eu quis quis refazer algumas comidas que eu comia na casa dos meus pais. Era inevitavelmente um carneiro assado e uma panela de cabrito à caçadora. Falei com a minha mãe sobre isso e fui atrás de uma receita pro cabrito. Foi então que tive o choque da minha vida—o cabrito é o filhote da cabra, um baby goat! Era isso que comíamos no Natal, um bebê! Fiquei tão aparvalhada, não conseguia me conformar. Alguém me disse que alguns cabritos são malvadinhos e que tinha certeza de que eu tinha comido um deles e não um dos fofinhos. Na verdade eu mal comia o cabrito, eu gostava mesmo era do molho, com tomate e vinho, onde eu molhava o pão. As recordações dessas comidas ficarão, mas a realidade é que não posso mais com isso de comer esses bichos fofinhos. Acabei fazendo um prato com bacalhau, que nunca foi uma tradição na minha família. Mas para os doces não tinha nenhum animal envolvido. Nós sempre tínhamos as crispelas—flores feitas de massinha, fritas e cobertas com açúcar de confeiteiro e mel; e os pasteizinhos recheados de grão-de-bico, que eram os meus favoritos. Fui buscar receitas, tinha que ser uma tradicional da Basilicata, a região na Itália de onde veio toda a família da minha mãe. Procurei muito e achei essa aqui que se encaixou mais ou menos no que eu queria. Na receita da minha mãe não ia chocolate derretido, apenas chocolate em pó [usávamos aquele da caixinha dos Frades]. Como vi muitas, mas muitas receitas de todos os cantos da Itália, percebi que algumas usavam castanhas portuguesas outras grão-de-bico. Talvez a versão com o grão-de-bico fosse a mais barata.  É uma ideia genial e fica gostoso demais. Fiz mais de cem pasteizinhos, dei um pouco para as minhas vizinhas, outro pouco pro Gabriel, eu e o Uriel comemos a beça e eu pude matar as lombrigas que me atormentavam há dezenas de anos!

para a massa:
400 gr de farinha de trigo
1 xícara de azeite de oliva
1 xícara de vinho branco [*usei o anisete, licor de anis]
50 gr de açúcar
1 ovo caipira

para o recheio:
1 quilo de grão-de-bico.
500 gr de chocolate meio-amargo
50 gr de cacau em pó
1/2 xícara de anisete ou vermute [*usei anisete]
1 xícara de mel
1 colher de chá de extrato de baunilha.

Coloque todos os ingredientes para a massa numa vasilha e misture bem até obter uma massa bem homogênea e macia. Pode usar a batedeira com a pá. Deixe a massa descansar por uma hora.

Cozinhe o grão-de-bico que foi deixado previamente de molho até ficarem macios. Ou use os de lata ou caixa, já cozidos. Coloque o grão-de-bico no processador de alimentos e pulse até obter uma massa. Derreta o chocolate em banho-maria e adicione ao grão-de-bico, juntamente com o cacau em pó, o licor, o mel e a baunilha. Pulse para incorporar.

Abra a massa com um rolo, corte discos usando a borda de um copo e coloque em cada disco um pouquinho do recheio. Dobre a massa e feche selando as bordas com os dentes de um garfo. Frite os pasteizinhos em bastante óleo quente. Decore com açúcar de confeiteiro ou com gotas de mel. Guarde um um recipiente com tampa.

com Maria e Franco, em Milão

jantar com Maria
jantar com Maria jantar com Maria
jantar com Maria
jantar com Maria jantar com Maria
jantar com Maria
jantar com Maria jantar com Maria
jantar com Maria
jantar com Maria jantar com Maria
jantar com Maria jantar com Maria
jantar com Maria jantar com Maria

Milão foi somente a nossa porta de entrada na Itália. Não planejamos ficar por lá, pois estávamos numa missão especial, que nos levaria à Veneza, Treviso e finalmente à San Zenone degli Ezzelini, a cidade de origem da família do meu marido. Mas o pouco tempo que tivemos em Milão foi precioso. Fomos recebidos pela Maria e Franco, que nos pegaram no aeroporto, nos levaram até o hotel e a Maria nos guiou num rolê à pé pelo centro da cidade. A Maria me deu tantas dicas—algumas nos salvaram de entrar no conto do turista. Nos ajudou a comprar as passagens de trem para Veneza, nos informou de todos os micro-detalhes de muita coisa que não tínhamos a menor idéia. Também fomos recepcionados com um jantar que foi sem dúvida o ponto alto da nossa visita à Itália. Não só pela comida deliciosa preparada pela Maria, mas também pelo papo super divertido que tivempos durante o jantar!
A Maria é leitora do Chucrute de muito tempo—mais tempo do que eu imaginava. Quando eu respondi a um comentário dela, ela fez uma coisa muito legal, que nem todo mundo pensa em fazer: ela se apresentou pra mim. Contou um pouco dela, da sua história, onde vivia, e tals. Eu me identifiquei com muito do que ela me contou. Quando o Uriel me falou que iríamos dar um pulo na Itália, avisei a Maria, para que pudessemos nos encontrar. Mas não imaginei a recepção que ela iria nos oferecer. Foi aconchegante, foi divertido, foi delicioso!
O jantar, todo composto de iguarias italianas, foi fantástico. Tive que pedir pra Maria me mandar o menu por escrito, pois no dia não memorizei muitos detalhes.
De entrada tivemos prosciuto di parma, copa e salame di culatello, o maravilhoso parmigiano reggiano, servidos com pãezinhos fresquinhos, um enrolado com azeitonas que adoramos, e taças de prosecco.
Os pratos principais foram ravioli de berinjela com molho de pimentão vermelho, que estava divino [já pedi a receita do molho e vou reproduzir em breve!], carciofi trifolati [alcachofras preparadas com alho, salsinha e oleo oliva extra virgem], piimentões amarelos recheado com farinha de rosca, alho, salsinha, azeitonas, alici, alcaparras [muito parecido com a receita da minha tia Dirce] e uma torta de batatas e tartufo nero recheada de queijo castelmagno. Tudo isso regado com um vinho tinto maravilhoso, que o Franco deixou arejando por algumas horas. A Maria vai ter que dizer que vinho era, pois eu esqueci.
De sobremesa tivemos doces com massa de amêndoas e pistachios, tacinhas de um moscato licoroso e laranjas vermelhas da Sicilia, que foi para mim o encerramento com chave de ouro do jantar. Fiquei realmente encantada com o hábito de se servir frutas como sobremesa nos restaurantes da Espanha e Itália, coisa que aqui simplesmente não existe, apesar de termos tantas frutas frescas excepcionais. Fazemos isso em casa, porque pra mim, fruta é sobremesa.
Depois dessa comilança pantagruélica, a Maria e o Franco nos levaram de volta ao hotel, onde dormimos o sono dos anjos. Maria e Franco, nunca vou conseguir agradecer o suficiente pela gentileza, cuidado, carinho, amizade, sorrisos, hospitalidade e generosidade. Grazie mille, amici!
»o Edu Luz foi outro felizardo que recebeu a recepção da Maria em Milão, com mais tempo para aproveitar a companhia dela e a cidade.