receitas sem fotos

Meu velho iMac não está conectando na internet. Justamente esse, que é o computador onde eu desovo e processo todas as fotos para o blog porque a tela é maior e melhor. Hoje fiz uma investigação e um interrogatório, me aproveitando da sapiência e gentileza de dois colegas, um programador e outro meterorologista. Chegamos à conclusão que: 1. o airport precisa ser atualizado. 2. o airport tá bichado e precisa ser trocado. Enquanto isso faço o que posso do laptop que fica na cozinha. A combinação desse pequeno probleminha com a correria de trabalho e outras coisas, está me deixando meio desanimada. Até tenho uns assuntos e receitas para publicar, mas simplesmente não estou conseguindo. Se eu pudesse dormir menos horas, essa condição de falta de tempo se resolveria facilmente. Sem falar que ainda entramos no nosso daylight saving time e por isso voltamos a acordar no escuro e não está sendo fácil tentar dormir menos.

Outro dia estava pensando que sou uma pessoa mais de imagens do que de palavra. Será? Porque às vezes fico frustradíssima quando vejo algo super legal e não consigo fotografar. Faço mil pataquadas, tropeço e caio no meio da rua, fico pra trás do grupo, aguentando filho e marido revirando os olhos, só porque eu preciso captar uma imagem. Depois de escolher entre trocentas fotinhos, cortar uma por uma [minto, uso um sistema], sempre gosto de montar as imagens numa galeria com a intensão de dizer algo, contar uma história. Can you dig it?

E as minhas histórias neste momento giram em torno da minha vidinha pacata—a casa, os gatos, os vizinhos, as plantas, as flores, as frutas, os legumes, a garrafa de vinho, detalhes da paisagem que está mudando.

Num domingo fiz um almoço pro meu filho e minha nora. Mas como ainda estava me recuperando de uma gripe morfelenta que me deixou um bagaço por duas semanas, resolvi que iria tentar simplificar ao máximo, fazendo um peixe na churrasqueira. Preparei uma posta grande de atum, que só temperei com sal, pimenta, raspas e suco de laranja. Foi pra grelha embrulhado em papel alumínio sobre uma cama de rodelas de laranja—aquelas da minha bondosa vizinha. O peixe assou rápido e ficou super úmido e tenro. Todos gostaram. Acompanhou salada de batata com vagens e salada verde de folhas. Num outro domingo fiz peixe de novo, desta vez bacalhau fresco do Pacífico, pescado em Half Moon Bay. Cozinhei as postas num molho de tomate [aquele em lata orgânico], depois de fazer um refogado com alho poró. E temperei com curry vermelho tailandês e coentro fresco.

Toda segunda-feira tenho precisado praticamente colocar um post-it na testa para lembrar, mesmo depois de ja ser avisada duas vezes pelo meu calendário no iPhone, que é dia de pegar a cesta orgânica. Já passei reto pela fazenda duas vezes. Da primeira vez eu voltei—estava no meio do caminho quando caiu a ficha. Da segunda vez eu entrei em casa e chorei. Depois me recompus e mandei um texto pra pra minha ex-nora, pedindo pra ela ir pegar a cesta pra mim. Essa amnésia recorrente tem acontecido por causa da minha imensa ânsia de voltar pra casa no final do dia de trabalho.

O que me deixa feliz é que a primavera já está bem presente até na minha cozinha, com a chegada de alguns tímidos aspargos. Está finalmente chovendo tudo o que não choveu quando deveria ter chovido. Tenho deixado os gatos sairem no quintal [com supervisão] durante o final de semana. Vamos mandar repintar a casa inteira por fora. E consertar uma goteira. Essa será a minha primeira primavera em Woodland.

9 comentários em “receitas sem fotos”

  1. Querida não-conhecida.
    Achei que você estava cansada por querer chegar logo em casa e esquercer a cesta de orgânicos. Também achei que era, então, a hora de dizer algo que me vem sempre que acesso o seu blog: tudo que você diz e mostra neste lugar virtual é de uma beleza e elegância excepcionais. Dá trabalho dizer qualquer coisa colocando-se no lugar de seus amigos e de milhares de estranhos anônimos. E você diz com clareza e, repito, elegância comovente. Nos meus mais de 60 anos de vida começo a radicalizar: sem elegância nem a simplicidade tem graça.
    Envio daqui um sopro de energia para que continue me causando tanta satisfação ao ler seus textos inteligentes, doces e carinhosos.
    Não quero ser publicado, mas quero que receba meus cumprimentos e não se incomode com um pouco de esquecimento.
    Baggio
    R: Baggio, decidi publicar seu comentario [desculpa!] porque queria muito te agradecer. obrigada por me escrever isso! 🙂 abraços.

  2. Fer,
    suas palavras foram imagens…cada colocação sua eu interiormente, criei a imagem…somos que nem as estações, estamos em constante mudança e preparação. E aí, você tem a oportunidade de ver cada estação fazendo a sua mudança. Aqui, do nosso país tropical, fico em total encantamento lendo seus escritos e para ser sincera, tem momentos em que gostaria de poder viver assim…vendo os dias passarem, acompanhando os gatos no passeio no quintal, pegar a cesta orgânica, comer comida fresca e simples, colher flores e frutos no quintal, sair tranquila sem temer assaltos e outras tragédias..
    Bjos
    R: Conceição, felizmente a vida é realmente bem tranquila por aqui. um beijo pra voce! :-*

  3. Querida prima,
    Acho que somos todos sanzonais e as pessoas sensíveis são as que mais se ressentem nas mudanças de estações. Fique tranquila que é apenas um momento introspecção, de ajuste e preparação para absorver as imagens coloridas que a luz da primavera revelará para vc. Olhar para “La Primavera” de Botticelli pode ser um bom relaxante, ponha-se lá.
    Aguardo pelas belas fotos que vc logo irá nos postar.
    Bjs p/ vcs
    R: Querida prima Luiza, obrigada e me conte se comprar os potinhos! 😉 beijo!

  4. Nossa, Fer, me vi em cada linha dos seus segundo e terceiros parágrafos. Como eu te entendo! Mas ainda assim, concordo com todos que disseram aqui que suas letras são tão ou mais importantes que suas deliciosas e incríveis imagens. E tenha a certeza de que acompanhar cada relato singelo de pequenos detalhes da sua vida ou da sua forma de vê-la é o que nos dá um respiro nas nossas próprias vidas. Sabe aquele “recreio” gostoso a que a gente se permite no turbilhão dos afazeres diários?? Então, é isso que você e o Chucrute representam. Isso sem falar, claro, das deliciosas receitas que vc sempre nos dá. Assim, não desanima não. Logo logo, tudo se resolve aí com seu iMac.
    um beijo grandão procê,
    PS.: e eu que sou uma pessoa basicamente de imagens também, acabei escrevendo uma tese nesse comment. Oh my God!
    R: Ana, adorei ler sua tese! muito obrigada e super beijo! 🙂

  5. Acho que a única dica que tenho para dar é: coloque um alarme para tocar por volta do horário que você passa pela fazenda. Imagino que aí não tenha como esquecer… Foi o que eu fiz quando esquecia de tomar um remédio, quer dizer, tinha um alarme para o horário exato e eu acaba desligando e fazendo o “jajá eu pego”, pq quase sempre estava longe, mas com um negócio me infernizando antes/durante/depois do horário, não tinha como esquecer. rs
    R: o problema é que as vezes passo uns minutos antes ou depois. mas ta indo bem so far! 🙂

  6. Fer, apesar de amar suas fotos (e seus sapatos – hehehe), também amo suas palavras e a forma como você descrve sua vida, sua casa, a cidade onde mora, seu dia-a-dia.
    Gosto tanto, que já convenci meu marido a tentar fazer pelo menos uma parte do doutorado aí na Califórnia (em Berkeley, que é onde tem a área que ele estuda).
    Ler seus relatos fez nascer em mim uma curiosidade enorme sobre esse pedaço dos EUA e acabei passando isso pro meu marido (que sempre dizia que se fosse pra fazer doutorado fora do Brasil, só ia pro Canadá ou pra Inglaterra).
    Acompanhar a mudança dos produtos da cesta orgânica a cada estação, ver as lojinhas de antiguidade, as paisagens mudando ao longo do ano, suas louças, seus gatos fofos, enfim, acompanhar esses relatos da sua vida, que é tão diferente da minha, é muito prazeroso.
    Por isso, mesmo sem fotos, não deixe de escrever!
    Acredite, suas palavras conseguem materializar tudo que você escreve!
    Um beijo enorme!
    R: Cris, voces vao adorar Berkeley! estou torcendo para voces virem pra cá! um beijo!

  7. entendo direitinho vc, mas tenho fases…estou com mais de duas mil fotos no iphone para escolher-tratar-deletar-usar, e mais umas centenas na maquina fotografica, que por insistencia, comprei uma semi-profissional, pela qual ainda estou apanhando (as pequeneninhas digitais são muuuuito mais faceis). e ainda passei um tempo tentando me curar de um pequeno stress (que considero o lugar comum da medicina – ou vc está estressado, ou com uma bactéria, ou com uma bactéria estressante), o que me deu certa moleza para tudo. não ajuda em nada eu estar neste momento num hotel em manila a trabalho, quero minha casa, minha cozinha, meus cachorros, minha vida normal…
    forte abraço. adoro este espaço aqui.
    R: obrigada, Wair! 🙂

Deixe uma resposta para ana bulhoesCancelar resposta