um pão na minha sopa

Foi há tantos anos, eu nem era casada, tinha acabado de entrar na faculdade de psicologia, conhecera um grupinho odara e tinha iniciado uma daquelas terapias inovadoras e alternativas que abundavam na época. Essa era importada da Califórnia e chamava-se Fisher-Hoffman. No primeiro dia me senti incrivelmente perdida e no intervalo para o almoço – que nesse dia teve – fui levada por uma garota para uma república de estudantes hiponguissimos, daquelas onde não tinha geladeira, o sofá era um colchão forrado de panos indianos e os armários eram caixotes de maçã empilhados. A menina ferveu uma água e abriu um envelope de sopa Knorr ou Maggi, daquelas bem ruizinhas sabor canja de galinha. Preparou e serviu em dois pratos, um pra mim, outro pra ela, acompanhados por uma bisnaga de pão francês da fornada de ontem da padoca da esquina. Estávamos sorvendo a sopa e conversando quando chegou um outro habitante da república, um indivíduo realmente espaçado, que na boa, enquanto conversava comigo e com a menina, partia pequenos pedaços do pão que estava na mesa com as mãos, molhava NA MINHA SOPA e comia. Se eu tinha qualquer ilusão ou sonho hiponguitico naquela época, ele deve ter morrido ali mesmo, com aquela magnífica demonstração de displicência. Tive outras experiências absurdetes com comida no grupo do processo Fisher-Hoffman, mas essa foi a mais memorável.

4 comentários em “um pão na minha sopa”

  1. Mas que coisa… também fiz Psicologia, só que me formei e trabalhei na área… mas nada de terapia do grito primal ou coisas assim… fui um pouco menos “hiponga”…

  2. …Fisher-Hoffman…não é aquele tal de “mate seus pais”??? Hohoho, para esses hiponguetes que você falou deve ser facinho, né?
    Menina, dei risada aqui da tua experiência!! Quer dizer que você fez psicologia??? Já foi um sonho meu…hoje nem sei mais!
    beijo, Fer

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