a cena do crime

Em algum dia no verão do ano dois mil eu escrevi:

Tô cansada de lavar e cozinhar tomates. Tinha uns 30 quilos do “fruto vermelho” na minha pia. Em etapas, espaçadas num período de 24 horas, eu lavei, cozinhei, penerei, engrossei e congelei tanto tomate que minha cozinha ficou com cara de cena de assassinato e esquartejamento. O purê escorrendo na beira da panela de pressão Panex de 4,5 litros secou e ficou com cara de sangue coagulado. Quando eu pensei que estava acabada com a função, hoje vejo mais dois sacões de tomates vermelhos, brilhantes, com cheiro de plasma, no chão da minha cozinha.

Isso aconteceu por três anos, enquanto meu marido trabalhou num projecto de tomates, que não sei, nem lembro com detalhes o que era, mas com certeza era uma máquina. Durante esse período ele fazia testes nos campos do maior produtor de tomates da Califórnia. E o pessoal empurrava os tomates pra ele. Acho que todo mundo que trabalhava nesses campos levava pra casa os tomates que não tinham passado na peneira da perfeição. Era um mundaréu de tomate, uma coisa impressionante. Hoje ele tem outros projectos, que vez ou outra me rendem outros frutos – mas eu não gosto mais dessas histórias, porque não tenho mais tempo para transformar a minha cozinha numa processadora de alimentos. E me contento enormemente com a modesta produção de tomates da minha pequena horta, que só hoje me deu frutos suficientes para fazer um grosso molho de macarronada.

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